segunda-feira, junho 26, 2006

Crónicas de Barcelona II


O Katraponga tem razão. Foi difícil deixar Barcelona. Ainda que eu seja um absoluto leigo na matéria, a cidade parece-me uma obra-prima de arquitectura. Estive no Parc Guell e fiquei fascinado com os edifícios, as esculturas e as vistas da cidade, que podem ser apreciados nas fotos aqui incluídas.

Quanto à cidade propriamente dita, os cheiros, os sons e as imagens são marcantes e inebriantes. Para além de ser lindíssima, Barcelona é provavelmente a cidade mais cosmopolita da Península Ibérica. Em contraste, Lisboa é pequena e Madrid provinciana. Tendo já visitado várias cidades espanholas, foi também em Barcelona que comi melhor. O nosso roteiro gastronómico incluiu dois excelentes restaurantes com comida tradicional Catalã e, claro, uma incursão na paelha à Valenciana que, não sendo Catalã, é deliciosa!

quinta-feira, junho 22, 2006

Crónicas de Barcelona I


Escolhemos uma tasca numa das travessas das Ramblas, propriedade de um clube de futebol amador, para ver o jogo Portugal-Angola. Não fosse o grande número de Portugueses que invadiram o espaço, dir-se-ia que o cenário era retirado de um filme de Pedro Almodovar. A cerveja era Estrella Galicia e a simpática empregada dirigia-se a todos por "cariño", o que só aumentava o consumo de cañas... O nosso compatriota de bandeira pelas costas é que não deve ter percebido que a dita cuja deveria ter castelos e não pagodes chineses...

sexta-feira, junho 09, 2006

Barcelona


Aproveitando compromissos profissionais do início da próxima semana, vou escapar à histeria futebolística portuguesa e juntar-me à Catalunha na luta pela independência!

quarta-feira, junho 07, 2006

Um Livro à Quarta III

Ontem foi o sexto dia do sexto mês do sexto ano do novo milénio. Não sendo exactamente um crente nas profecias do Livro do Apocalipse, abordei o dia com alguma cautela, isto apesar de estar convencido que, se a Besta nasceu ontem, ainda temos de esperar uns anitos até começar a fazer asneiras. Por outro lado, abrir as páginas dos jornais ou ligar a televisão no horário das notícias é prova suficiente que a Besta não nasceu ontem e sempre por cá andou; o formato é que varia. Para outros, mais mediáticos, a Besta já foi bestial, mas agora é simplesmente uma besta quadrada, como se poderá constatar pelo post anterior.

Seja como for, a velha luta entre o Bem e o Mal sempre me fascinou e mergulhei nela numa das recentes inclusões na mesa-de-cabeceira. O livro é Além (1891) de Joris Karl Huymans e tem preenchido algumas noites de insónia.

Além (2006; Lisboa: Assírio & Alvim) foi escrito numa linguagem directa, por vezes chocante, destinada a seduzir o leitor, envolvendo-o com suavidade, para depois o apunhalar, arrancando-lhe as entranhas e atirando o corpo para a valeta. O autor apresenta um escritor francês, de nome Durtal, na Paris dos finais do século XIX, que, através de uma pesquisa histórica intensiva, se propõe escrever uma obra sobre Gilles de Rais, um pedófilo, contemporâneo de Joana d’Arc, que assassinou centenas de crianças na Bretanha do início do século XV, associando-se a rituais satânicos praticados por membros transviados do clero, que rezam missas negras como vingança pela rejeição ou insucesso na vida religiosa dita “normal”. Apesar de repugnante, todos estes parecem apenas coloridos relatos da Idade Média, até que Durtal descobre que a sua Paris tem mais semelhanças com a Idade Média do que julgava possível…

O livro de Huysmans tem várias preciosidades. Escolhi algumas passagens para o vosso deleite.

“A realidade, é bem certo, não perdoa que a desprezem; vinga-se metendo o sonho ao fundo, espezinhando-o, atirando-o em farrapos para um monte de lama!” (p.199)

“Vê as máquinas, o jogo dos pistões nos cilindros: são Romeus de aço dentro de Julietas de ferro fundido. As expressões humanas em nada diferem do vaivém das nossas máquinas.” (p.205)

“Além disso, os edifícios que emergem deste charco caótico de telhados, a Notre-Dame, a Sainte-Chapelle, Saint-Séverin, Saint-Étienne-du-Mont, a torre Saint-Jacques, ficam afogados na deplorável massa dos monumentos mais novos. De forma nenhuma estou interessado em contemplar ao mesmo tempo a Ópera, esse espécime de arte para caixeiras bem vestidas, o arco de ponte chamado do Triunfo, e o candelabro que é a Torre Eiffel!” (pp.244-5)

Na contracapa:

"Em 1891, Além foi considerado uma grande audácia e multiplicou-se na tiragem até às dezenas de milhares. Como um desses malabaristas que mantêm vários objectos no ar, Huysmans concentrou temas de várias frentes no seu romance, todos a maior ou menor distância de uma mesma luta: a que confronta dois poderes, do Bem e do Mal, a que opõe desde a Idade Média a igreja de Roma e o seu reverso satânico. Há, como ilustração de tudo isto, a história de Gilles de Rais, monstruoso pedófilo dos tempos de Joana d'Arc, a história da promiscuidade das mais altas figuras da Igreja com os praticantes da magia, o relato de uma missa negra em Paris, uma aventura em lençóis um tanto frios mas sem o véu de nenhum disfarce sobre a sua sexualidade malsã. Mas também o escritor J.-K. Huysmans num ponto alto da sua obra. O que fez André Breton manifestar-se, nas primeiras páginas de Nadja, como grande devedor de um seu ensinamento: saber levar «ao extremo essa discriminação necessária, vital, entre o elo de tão frágil aparência que pode ser-nos do máximo socorro, e o aparelho vertiginoso das forças que se conjuram para meter-nos ao fundo»."

segunda-feira, junho 05, 2006

Crónicas da Província II - A Doutrina do Pensamento Único

Não tenho paciência para tanta unanimidade em torno da Selecção Nacional de futebol. A histeria colectiva gerada durante o estágio é completamente desproporcionada em relação ao que está em jogo. A recepção na Alemanha parecia uma celebração da vitória no Mundial. A verdade é que ainda não ganhamos nada, mas os Portugueses festejam como se não houvesse amanhã. Estará tudo louco? Se querem a minha opinião, não acho que a selecção vá a lado nenhum. Estou a escrever isto antes do Mundial começar para que não se diga que falar depois é fácil.

Começamos por menosprezar os adversários, achando que Angola e o Irão vão à Alemanha fazer turismo. Para confirmar a ideia que será tudo fácil, há jogadores que aproveitam a folga para dar um salto à discoteca até às 6 da manhã, passeiam-se pelo centro de Évora e fazem trabalho de Relações Públicas em frente ao Templo de Diana. Tudo muito social, tudo muito pop, para a cobertura jornalística e televisiva ser a melhor possível. Sim, tudo isto enquanto as outras selecções estão concentradas a trabalhar em locais remotos, adaptando-se ao clima da Alemanha. Até a todo-poderosa selecção do Brasil faz estágio numa aldeola Suiça com temperaturas mais à medida, protegida dos olhares curiosos dos media.

Os exemplos da mediocridade do nosso futebol “profissional” são muitos. O nosso estágio decorreu debaixo de temperaturas superiores a 35º centígrados, só porque um lobby de empresários da construção civil foi bem sucedido em Évora e o seu opositor de Melgaço fracassou. Uns terrenozitos fora da cidade para a construção das instalações do Lusitano a troco de uns terrenos para exploração imobiliária no centro da cidade foi o que bastou para convencer os (ir)responsáveis da Federação Portuguesa de Futebol a irem pastar para o inferno Alentejano. Claro que a população de Évora não se importa nada com os maus investimentos e negociatas do município. O que o povinho quer é os artistas da bola lá por perto; o erário público que se lixe!

Os (ir)responsáveis da Selecção devem pensar que somos todos parvos, a começar pelo treinador, que decide começar a insultar António Pedro Vasconcelos, Miguel Sousa Tavares (“o pai dele foi um grande escritor. O pai, né, porque ele é uma bosta” sic), Rui Moreira (“o empresário fracassado”) e Rui Santos (“recebeu uma herança do tio e ficou rico”). Digam-me uma coisa: há paciência para esta falta de tolerância contra opiniões dissidentes? O Senhor Scolari não gosta de ser criticado e adora o seguidismo do povo Português. Acontece que nem todos lhe prestam vassalagem... e ainda bem! O problema é que naquele grupo de intelectuais há adeptos dos três grandes. É uma grande chatice, caso contrário poderia sempre culpar tudo no Pinto da Costa...

Querem alguma coisa mais reminiscente do pré-25 de Abril do que aquelas conferências de imprensa dos jogadores da selecção, nas quais só se dizem banalidades e em que as questões incómodas são censuradas? Não tenho paciência para tanta idiotice. Espero que o final seja rápido e indolor. Se ficarmos pela primeira fase tanto melhor. É da maneira que os Portugueses acordam mais rapidamente do estupor em que parecem ter entrado e começam a trabalhar para melhorar o ranking do… desenvolvimento.