sábado, janeiro 26, 2008

O famoso Rach 3

Como podem depreender pelo nome do blogue, o piano é o meu instrumento musical favorito. No contexto da chamada música clássica, o piano tem um conjunto variado de utilizações. Em primeiro lugar, pode ser utilizado individualmente, em sonatas (como em Beethoven, Brahms, Schubert, Prokofiev, etc.), nocturnos (Chopin, Fauré, Poulenc, etc.), prelúdios (Chopin, Rachmaninov) canções sem palavras (Mendelssohn) ou outras peças avulsas (Bartok, Grieg, Sibelius). O piano é também usado em conjunto com outro(s) instrumento(s), como é o caso das sonatas para violino e piano, quintetos (Schubert, Rimsky-Korsakov) ou sextetos (Glinka).

Mas, para mim, a utilização mais magnífica e genial do piano é no contexto dos concertos para piano e orquestra. Quase todos os grandes compositores produziram obras deste tipo, incluindo Beethoven, Tchaikovsky, Brahms, Chopin e Liszt entre os românticos ou Rachmaninov, Shostakovitch, Ravel ou Gershwin entre os pós-românticos.

De todos os concertos para piano e orquestra já compostos, nenhum atingiu a notoriedade do Concerto para Piano e Orquestra Nº3 em Ré menor, Op. 30 de Sergei Rachmaninov. Perdoe-se-me a comparação, mas o estatuto deste concerto assemelha-se a um tema de música rock, tal a controvérsia gerada. Entre os amantes do cinema, a peça é conhecida por ser o célebre tema de "Shine", um filme que conta a história dramática do pianista David Helfgott, um génio autista maltratado pelo pai e cujo grande desafio é interpretar ao piano o dito concerto.

Porém, o principal motivo para o estatuto da peça é o facto de ser considerada "impossível de tocar". Não será exactamente assim, mas digamos que nem todas as interpretações que podem encontrar em cd obedecem à partitura original escrita por Rachmaninoff, em particular pela não inclusão da cadenza Ossia, que nem o próprio compositor-pianista conseguia tocar. Para piorar as coisas, as composições para piano da autoria do compositor russo são conhecidas por exigirem mãos grandes (!), devido à quantidade de teclas abrangidas pelos acordes. Esta exigência coloca um obstáculo imediato às mulheres intérpretes e explica, em parte, as variações relativamente à partitura original. Ainda assim, estão disponíveis no You Tube interpretações brilhantes de Olga Kern e Martha Argerich, provavelmente a melhor pianista de sempre. A polémica é adensada pelo facto de Rachmaninov, ele próprio pianista, ter afirmado que a sua interpretação do tema por si composto estava longe de ser satisfatória, sobretudo após ter ficado maravilhado ao assistir à interpretação de Vladimir Horowitz em 1930.

No You Tube, esta situação dá origem a discussões acaloradas, por vezes a raiar o insulto, sobre quem é o melhor intérprete deste concerto. A coisa é tão doentia que, um internauta mais empenhado disponibilizou 12 interpretações não identificadas do início do 3º andamento, para que os defensores de uma particular interpretação pudessem testar os seus conhecimentos. Demorou mais de um mês para que todas as interpretações fossem correctamente identificadas.

A audição repetida 12 vezes de cerca de um minuto e meio é um pouco obsessiva e pode deixar-vos tontos, mas um ouvido treinado, que assumo não ter, detecta diferenças evidentes entre interpretações: diferenças de ritmo, notas mal dadas (mais frequente do que se pensa), determinação no ataque ao instrumento (um dos pianistas intérpretes é acusado de carniceiro num dos comentários) e, no limite, variação no grau de paixão colocado na interpretação.

Como é pouco provável que vocês queiram fazer o teste, deixo-vos com os links para o You Tube e a lista das 12 interpretações do Rach 3:
1-Alexis Weissenberg
2-Emil Gilels
3-Van Cliburn
4-Vladimir Horowitz
5-Martha Argerich
6-Arcadi Volodos
7-David Helfgott
8-Zoltán Kocsis
9-Vladimir Ashkenazy
10-Andrei Gavrilov
11-Jorge Bolet
12-Bart Berman
De todas as interpretações disponíveis no mercado, sou proprietário de apenas duas: Martha Argerich e André Watts (não está na lista).


sábado, janeiro 19, 2008

Toponímia Floridiana

A toponímia portuguesa é, todos o sabemos, hilariante. Portugal é o único país do mundo em que se pode ir da Pica (Fafe) à Coina (perto de Setúbal) e parar em Venda de Raparigas (próximo de Leiria) para descansar.
Tendo passado anos a lidar com as bases de dados dos municípios da Florida, posso afirmar que não somos assim tão imaginativos. É verdade que os nomes dos lugares americanos sofreram influências muito variadas, nomeadamente dos nativos americanos, dos escravos provenientes de África e dos próprios europeus, que exportaram os nomes das suas cidades para as novas cidades que surgiram na América durante a colonização.
Para além da conhecida Nova Amsterdão (Nova York), podemos encontrar inúmeros exemplos de nomes de cidades que se repetem na Europa e nos Estados Unidos. No estado da Geórgia podemos encontrar as cidades de Rome, Athens, Dublin e Macon. Viajando para o Ohio, no midwest Americano, temos uma amostra mais impressionante: Aberdeen, Amsterdam, Antwerp, Berlin, Bremen, Dresden, Geneva, Genoa, Hanover, Lisbon, London, Madeira, Manchester, Milan, Montpellier, Parma, Sardinia e Toledo. Estes nomes são, pelo menos em parte, resultado da nacionalidade dos colonos que se instalaram nestes locais, mas demonstram alguma falta de imaginação no baptizar dos municípios.
Na Florida, a toponímia é muito mais fascinante para nós ocidentais, em larga medida por influência das tribos de nativos americanos, em particular, Seminoles e Osceola. Essa influência é bem visível em nomes como Apalachicola, Apopka, Chattahoochee, Ocoee, Okeechobee, Opa-Locka, Pahokee, Palatka ou Tallahassee. A influência europeia é menos notada, tendo apenas identificado as localidades de Dover, Dundee, Naples, Oviedo e Venice.
Por último, alguns habitantes da Florida moram em locais tão inspiradores como Anna Maria, Aventura, Bagdad, Boca Raton, Cinco Bayou, Clarcona, Hypoluxo, Kissimmee, Tampa, Pensacola ou Wauchula. Outros municípios têm nomes simplesmente cómicos quando traduzidos: Marathon ("Maratona"), Holiday ("Férias"), Frostproof (literalmente "À prova de gelo"), Fruitland Park ("Parque da Terra das Frutas"), Niceville ("Terra Simpática") e Lazy Lake ("Lago Preguiçoso").
Claro que a minha cidade preferida da Florida é Tavares, apelido de alguém que os leitores bem conhecem.

Vícios

"Many a good man has been put under the bridge by a woman"

Henry Chinaski in Women by Charles Bukowski

sexta-feira, janeiro 11, 2008

Sofa Station

O Pedro, a Cláudia e eu decidimos formar uma parceria bloguística sob o título Sofa Station. As razões para o nome variam segundo os participantes e só depois de concordarmos no nome é que percebemos os múltiplos significados da palavra "estação" em português.

O Sofa Station é um local de encontro de amigos que raramente se vêem, e por isso escolhem formato blog para trocarem ideias e manterem contacto entre si. Em português, a Estação do Sofá também é como as estações do ano: varia em termos de temperatura, clima e pressão atmosférica.

Para iniciar as hostilidades, escrevi uma entrada sobre a Lei nº37/2007, de 14 de Agosto, mais conhecida como "lei do tabaco". É o meu regresso às opiniões polémicas e temas fracturantes com o post Uma bacalhoada sem fumo, por favor. Já não escrevia assim desde o tempo do meu blog Angústias de um Professor...

quinta-feira, janeiro 03, 2008

Um Piano Erudito

Comecei a ouvir música erudita no berço. Afirmam os meus pais que eu chorava ao ouvir o célebre "Adagio em Sol menor" (ouvir) de Tomaso Albinoni a tocar no gira-discos. Não me lembro disso, é claro; mas recordo os discos de vinil que o meu pai tocava quando eu tinha 7 ou 8 anos. As valsas da família Strauss, as sonatas para piano de Beethoven, os études de Chopin e as aberturas de óperas de Rossini e Wagner. É destas raízes que desponta o meu amor pela música, tanto como ouvinte como coleccionador.

Hoje em dia, a minha colecção conta com três centenas de cds de música erudita, incluindo todos os sub-géneros: barroco, clássico, romântico, pós-romântico e contemporâneo. É difícil identificar os meus compositores favoritos (são tantos!). Destaco dois de cada género: Vivaldi e Bach (período barroco), Mozart e Krommer (período clássico), Beethoven e Wagner (período romântico), Sibelius e Rachmaninoff (período pós-romântico) e Glass e Pärt (período contemporâneo).

Quanto às minhas peças favoritas, a escolha é uma tarefa "mastodôntica", mas aqui fica uma selecção abreviada, por período:

Período Barroco:
Adagio em Sol menor - Tomaso Albinoni (arranjo de Remo Giazotto)
Canon em Ré Maior - Johann Pachelbel (ouvir)

Período Clássico:
Requiem - Wolfgang A. Mozart (ouvir excerto)
Sinfonia nº39 - Wolfgang A. Mozart (ouvir Menuetto-3º andamento)
Concerto para Piano e Orquestra nº 20 em Ré menor K.466 - Wolfgang A. Mozart (ouvir excerto do Allegro-1º andamento)

Período Romântico:
Concerto para Trompete e Orquestra em Mi bemol Maior - Joseph Haydn (ouvir 3º andamento-Allegro)
Concerto para Piano e Orquestra nº 5 em Mi bemol Maior, Op. 73 - Ludwig Van Beethoven (ouvir excerto Rondo. Allegro.-3º andamento)
Sonata Nº 14 em Dó sustenido menor, Op. 27 nº2 "Moonlight" - Ludwig Van Beethoven (ouvir 3º andamento)
Quinteto em Lá Maior, D. 667 "A Truta" - Franz Schubert (ouvir 4º andamento)
Sheherazade (Suite Sinfónica), Op. 35 - Rimsky-Korsakov (ouvir excerto)
Abertura da ópera William Tell - Giacomo Rossini (ouvir excerto)
Abertura da ópera Tannhäuser - Richard Wagner (ouvir excerto)
A Morte de Siegfried e Marcha Fúnebre (da ópera O Crepúsculo dos Deuses) - Richard Wagner (ouvir)

Período Pós-Romântico:
Concerto para Piano e Orquestra nº 3 em Ré menor, Op. 30 - Sergei Rachmaninoff (ouvir excerto do 1º andamento)
Concerto para Piano e Orquestra nº 3, Sz 119 - Béla Bartók (ouvir Allegretto-1º andamento)
Concerto para Violino e Orquestra em Ré menor, Op. 47 - Jean Sibelius (ouvir Allegro Moderato-1º andamento)
Prelude à l'aprés midi d'un faune - Claude Debussy (ouvir)

Período Contemporâneo:
Sinfonia nº 3, Op.36 "Symphony of Sorrowful Songs" - Henryk Górecki (ouvir 3º andamento)
Spiegel Im Spiegel - Arvo Pärt (ouvir)
Fratres - Arvo Pärt (ouvir)
Different Trains - Steve Reich (ouvir excerto)
Short Ride in a Fast Machine - John Adams (ouvir)
Metamorfoses - Philip Glass (ouvir Metamorfose 2)