quarta-feira, agosto 06, 2008

1977. Low - David Bowie

David Bowie é conhecido pelo "camaleão" da música pop-rock, devido à sua capacidade para se reinventar tanto a nível musical como em termos de imagem. Uma dessas reinvenções, aquela que foi, na minha opinião, a mais marcante, ocorreu com Low gravado e editado em 1977. No ano anterior, Bowie havia lançado Station To Station, um álbum que indiciava uma crise de inspiração e fazia temer pela qualidade do seu sucessor.

Depois de muitas obras de música popular marcantes na década de 60 e no início da década de 70, em meados da década, a imagem começava a sobrepor-se à música. Com o disco e com o punk em extremos opostos, era mais importante a maneira como os músicos vestiam do que a música que faziam. Bowie fez precisamente o percurso inverso. Com uma imagem muito mais sóbria, a música toma aqui a "boca de cena".

Low é igualmente marcante pelas influências que vai gerar. Os Joy Division serão a face mais visível dessa influência, mas muitas outras bandas de finais de 70 e início de 80 utilizam os sintetizadores de uma forma semelhante. O disco alterna instrumentais com temas minimalmente cantados, o que representa uma novidade radical do próprio Bowie. Os temas mais relevantes são Sound and Vision (por ser o 'hit' do álbum), Always Crashing In The Same Car, A New Career In A New Town e Warszawa.

Bowie deslocou-se a Berlim para gravar este disco, tal como viria acontecer com os dois seguintes (Heroes e Lodger). O optimismo e os exageros musicais do início dos anos 70 dão aqui lugar a um disco revolucionariamente sóbrio. A electrónica exagerada do rock progressivo, que Bowie sempre rejeitou, é substituída por uma utilização sóbria, mas eficaz, dos sintetizadores, que valorizam a criação de ambientes e paisagens sonoras de uma beleza sem precedentes.

Sound and Vision ao vivo aqui: http://www.youtube.com/watch?v=GYEOlxcirX0

Esta crónica foi publicada originalmente na Rede 2020.

Projecto 200 anos de música. A ideia é simples. Ao longo de duzentas entradas, o Piano na Floresta vai listar duzentas obras musicais, uma por cada ano, iniciando a contagem decrescente a partir do ano 2000. Se tudo correr conforme planeado, será possível identificar um disco ou uma obra composta em cada um dos anos no intervalo entre o ano 1800 e o ano 2000. Não há limitações de género musical. A qualidade e a reputação da obra não constituem critério de escolha, embora se entenda que ela é, de algum modo, representativa do ano em questão.

10 comentários:

Nuno Gonçalo Poças disse...

É, para mim, um dos melhores discos da década de 70. Excelente escolha.

Nota: o primeiro nome dos Joy Division foi retirado desta música: eram os Warsaw.

Fernando disse...

Obrigado. Concordo plenamente.

E a tua nota diz bem da dimensão da influência deste disco nos Joy Division.

Ruela disse...

sim é bom, mas para mim o que mais marcou a década de 70 (e futuras gerações) foi "Never Mind The Bollocks, Here's The Sex Pistols"...
com um único album ficaram na história...

Nuno Gonçalo Poças disse...

É um facto que os Sex Pistols ficaram na história com um único álbum. Tal como é verdade que "Never Mind The Bollocks..." é um bom disco. Mas, quanto a mim, os Sex Pistols ficaram mais na história por causa da sua atitude do que pelos virtuosismos ou pela criatividade artística. Mais "punks" foram os Ramones, mais virtuosos eram os Buzzcooks... Mas isto pode ser só impressão minha, que sou novo...

Fernando disse...

Concordo com o Nuno. Os Sex Pistols são marcantes enquanto líderes da "revolução cultural" contra os velhos costumes, o conservadorismo nos valores e a música estereotipada baseada na repetição de fórmulas gastas (disco, glam-rock e rock progressivo). Enquanto influência musical esgotaram-se em 1977.

Ruela disse...

Por um lado concordo com os dois... mas as sementes foram lançadas e actualmente muitas bandas de topo continuam a "beber" essa influência...tais como os The Prodigy...o grupo mais carismático do planeta.

Nuno Gonçalo Poças disse...

Os Prodigy são o grupo mais carismático do planeta?

Sinceramente não percebi...

Ruela disse...

não são?


criatividade.

Nuno Gonçalo Poças disse...

Sinceramente nunca tinha pensado no conceito de banda mais carismática do mundo. Mas agora que penso, não consigo vislumbrar nenhuma em especial... e os Prodigy não entrariam numa lista de ponderáveis. Mas são opiniões...

Teste Sniqper disse...

Pedindo antecipadas desculpas pela “invasão” e alguma usurpação de espaço, gostaríamos de deixar o convite para uma visita a este Espaço que irá agitar as águas da Passividade Portuguesa...