
A Sinfonia Nº10 de Dmitri Shostakovich marca a reabilitação do compositor na União Soviética, graças à morte de Josef Staline em 1953. O final do quarto andamento é, diz-se, um retrato musical do ditador, realçando a sua brutalidade e sugerindo a "banalidade do mal"(1). A utilização do metrónomo num ritmo alucinante é a marca distintiva da gravação dirigida por Herbert Von Karajan, que conduz a Orquestra Filarmónica de Berlim a uma performance memorável.
O Allegro do 2º andamento desperta em mim sentimentos intensos, furiosos, quase violentos. Tal não surpreende. Nesse sentido, o contraste entre andamentos dificilmente poderia ser mais pronunciado. Por contraposição, o primeiro andamento é de uma beleza melódica trágica, marcado por oscilações entre a contenção sinistra e as explosões sonoras de contornos épicos. Há qualquer coisa de verdadeiramente inquietante neste primeiro andamento, em que o cronómetro ultrapassa os 22 minutos. Não sei se é a ausência de uma estrutura facilmente apreensível nas primeiras audições, ou o "sentimento avassalador de uma angústia sublimada" (2) de que falam as críticas à obra. Mas é impossível não sentir essa inquietude perante música tão densa e crispada.
1. Moderato (mp3 excerto)
2. Allegro (mp3 excerto)
3. Allegretto
4. Andante - Allegro
(1) Solomon Volkov, Testimony: The Memoirs of Dmitri Shostakovich, Limelight Editions, 2004.
(2) Richard Osborne, notas da edição Shostakovich, Symphony nº10 in E Minor, Op.93, Berliner Philarmoniker conducted by Herbert Von Karajan, Deutsche Grammophon, 1981
(1) Solomon Volkov, Testimony: The Memoirs of Dmitri Shostakovich, Limelight Editions, 2004.
(2) Richard Osborne, notas da edição Shostakovich, Symphony nº10 in E Minor, Op.93, Berliner Philarmoniker conducted by Herbert Von Karajan, Deutsche Grammophon, 1981