quarta-feira, dezembro 30, 2009

1941. Quarteto para o Fim do Tempo - Olivier Messiaen

O cenário é o campo de prisioneiros alemão Stalag VIII A em Görlitz (actualmente Zgorzelec, Polónia) em que o compositor francês Olivier Messiaen está internado. A 15 de Janeiro de 1941, cerca de 400 prisioneiros acompanhados por guardas alemães reúnem-se para assistir à estreia do Quarteto para o Fim do Tempo, música de câmara composta por Messiaen para os instrumentistas internados no campo: um clarinetista, um violinista e uma violoncelista. Messiaen juntou-se-lhes ao piano para formar um quarteto invulgar e que constitui hoje a mais famosa peça de música de câmara contemporânea.

Rebecca Rischin (2003) relata na sua obra For the End of Time: The Story of the Messiaen Quartet que um dos guardas alemães do campo, Karl-Albert Brüll, apreciador da música do compositor, proporcionou-lhe condições 'excepcionais' para que pudesse trabalhar. Para além de lápis, borrachas e papel de música, foi permitido a Messiaen isolar-se num quarto vazio com um guarda de plantão à porta para evitar que fosse incomodado (Rischin, 2003; Ross, 2007).

O Quarteto para o Fim do Tempo é uma obra dividida em 8 andamentos, totalizando aproximadamente 50 minutos. Embora o contexto em que foi composta possa sugerir a associação entre o regime Nazi e o apocalipse, a intenção do compositor reporta-se, em abstracto, ao fim do tempo, passado e futuro, e ao início da eternidade. Segundo o próprio Messiaen, o Quarteto é uma espécie de extensão musical da passagem do Livro do Apocalipse (capítulo 10) sobre a descida do sétimo anjo ao som de trombetas consumando o mistério de Deus e anunciando o fim do tempo.

Para ilustrar a obra escolhi o primeiro andamento, intitulado Liturgia de Cristal e descrito pelo próprio Messiaen como representando o canto solitário de despertar às 3 ou 4 da manhã de um melro (o clarinete) e de um rouxinol (o violino) rodeados por um som difuso, por um halo de trinados que se perde pela copa das árvores. Transposto para o plano religioso tal equivale ao silêncio harmonioso do Céu.




Referências:
Rischin, Rebecca (2003) For the End of Time: The Story of the Messiaen Quartet. Ithaca, NY: Cornell University Press.
Ross, Alex (2007) O Resto é Ruído: À Escuta do Século XX. Alfragide: Casa das Letras.

Projecto 200 anos de música. A ideia é simples. Ao longo de duzentas entradas, o Piano na Floresta vai listar duzentas obras musicais, uma por cada ano, iniciando a contagem decrescente a partir do ano 2000. Se tudo correr conforme planeado, será possível identificar um disco ou uma obra composta em cada um dos anos no intervalo entre o ano 1800 e o ano 2000. Não há limitações de género musical. A qualidade e a reputação da obra não constituem critério de escolha, embora se entenda que ela é, de algum modo, representativa do ano em questão.

sexta-feira, dezembro 18, 2009

Música de 2009

Embora 2009 tenha sido um ano com menos entradas neste blog do que era habitual, a música continua omnipresente na minha vida. Seguem-se 10 excelentes álbuns que fizeram parte das minhas escutas regulares ao longo do ano de 2009.

Solo II - António Pinho Vargas

Andrew Bird - Noble Beast


James Blackshaw - The Glass Bead Game

Land of Kush - Against the Day

Timber Timbre - Timber Timbre
Larkin Grimm - Parplar

Elfin Saddle - Ringing for the Begin Again


Ludovico Einaudi - Nightbook

Fire on Fire - The Orchard

Clan of Xymox - In Love We Trust

quinta-feira, novembro 12, 2009

1942. Sinfonia Nº 7 "Leninegrado" - Dmitry Shostakovich

A Sinfonia nº7 de Shostakovich foi escrita em 1941 durante a invasão da União Soviética pela Alemanha Nazi e constitui uma glorificação do espírito de resiliência que caracteriza o ser humano quando colocado perante situações extremas de agressão, sofrimento e desespero. A sua paisagem sonora evoca momentos de conflito, violência e pânico alternados com a desolação, a descrença e a inércia associadas ao sentimento de quem tudo perdeu.

A obra foi estreada em 1942 durante o longo cerco (870 dias) da cidade de Leninegrado e recorreu a todo e qualquer músico que pudesse ser libertado do esforço de guerra, de modo a completar a delapidada Orquestra da Rádio de Leninegrado.

Esta é uma sinfonia de excessos. Musicalmente, oscila entre melodiosos temas pastorais, construídos em torno flautas celestiais, harpa e violino e a violência sonora e marcial, de que é exemplo toda a secção central do primeiro andamento. Os excessos da 'Leninegrado' revelam-se ainda pela sua duração. O primeiro andamento marca uns obscenos 26 minutos e a sinfonia no seu todo regista mais de 75!



Projecto 200 anos de música. A ideia é simples. Ao longo de duzentas entradas, o Piano na Floresta vai listar duzentas obras musicais, uma por cada ano, iniciando a contagem decrescente a partir do ano 2000. Se tudo correr conforme planeado, será possível identificar um disco ou uma obra composta em cada um dos anos no intervalo entre o ano 1800 e o ano 2000. Não há limitações de género musical. A qualidade e a reputação da obra não constituem critério de escolha, embora se entenda que ela é, de algum modo, representativa do ano em questão.

sábado, agosto 22, 2009

1943. La Mer - Charles Trénet

A importância de La Mer de Charles Trénet no contexto da música popular não pode ser de modo algum ignorada. O seu aparecimento em múltiplas ocasiões, desde o cinema à televisão, tornou-a numa das canções mais facilmente reconhecidas da cultura popular. Consistente com esse espírito humilde, Charles Trénet escreveu-a em 10 minutos num pedaço de papel higiénico a bordo de um comboio da Société Nationale de Chemins de Fer Français corria o ano de 1943. A potência da voz de Trénet é evidente e o epílogo quase glorioso provoca-me arrepios de cada vez que o escuto. La Mer (1943) - Charles Trénet (mp3)

As utilizações mais famosas do tema incluem filmes como Lua de Mel, Lua de Fel (de Roman Polanski, 1992), Apollo 13 (de Ron Howard, 1995), O Resgate do Soldado Ryan (de Steven Spielberg, 1998) e Os Sonhadores (de Bernardo Bertolucci, 2003). A canção aparece igualmente em grandes êxitos de televisão como Ficheiros Secretos (1994), Perdidos (2005) e Saturday Night Live (2007). A versão inglesa é cantada por Robbie Williams em À Procura do Nemo (2003), um dos maiores êxitos do cinema de animação. A mais recente aparição do tema ocorre em O Escafandro e a Borboleta (2007), um filme de Julian Schnabel, muito do agrado do meu amigo Pedro e que ainda não tive oportunidade de ver.
Projecto 200 anos de música. A ideia é simples. Ao longo de duzentas entradas, o Piano na Floresta vai listar duzentas obras musicais, uma por cada ano, iniciando a contagem decrescente a partir do ano 2000. Se tudo correr conforme planeado, será possível identificar um disco ou uma obra composta em cada um dos anos no intervalo entre o ano 1800 e o ano 2000. Não há limitações de género musical. A qualidade e a reputação da obra não constituem critério de escolha, embora se entenda que ela é, de algum modo, representativa do ano em questão.

domingo, agosto 16, 2009

1944. Appalachian Spring - Aaron Copland

Appalachian Spring é um bailado comissionado pela Coolidge Foundation a Martha Graham e estreado na Biblioteca do Congresso em Wahsington, DC (1944). A música foi composta por Aaron Copland e, segundo o próprio, retrata a celebração primaveril por parte de um grupo de pioneiros que festeja a conclusão da construção da sua quinta nas colinas da Pensilvânia no início do século XIX. O futuro casal que a irá ocupar sente emoções antagónicas, associadas à alegria e tensão provocadas pelo novel desafio. Os vizinhos mais experientes e o reverendo recordam o casal das incertezas do destino, antes de os deixarem apreciar a paz proporcionada pelo seu novo lar.

O início de Appalachian Spring é inevitavelmente associado ao amanhecer de um novo dia, com um tema pastoral marcado pelos violinos, flauta e harpa. A partir dos 2'15'', a obra torna-se "expressiva", denotando os referidos sentimentos antagónicos de felicidade e inquietação face ao futuro, sendo que o tema inicial regressa pouco depois.

A secção mais famosa da obra, porém, é a sétima, um conjunto de variações sobre 'Tis the Gift to Be Simple', um hino religioso composto originalmente pelo Elder Joseph Brackett em 1848. Um excerto de Appalachian Spring com este tema pode ser escutado aqui:


Projecto 200 anos de música. A ideia é simples. Ao longo de duzentas entradas, o Piano na Floresta vai listar duzentas obras musicais, uma por cada ano, iniciando a contagem decrescente a partir do ano 2000. Se tudo correr conforme planeado, será possível identificar um disco ou uma obra composta em cada um dos anos no intervalo entre o ano 1800 e o ano 2000. Não há limitações de género musical. A qualidade e a reputação da obra não constituem critério de escolha, embora se entenda que ela é, de algum modo, representativa do ano em questão.

segunda-feira, agosto 10, 2009

1945. Concerto para Piano Nº 3 - Béla Bartók

Quando contextualizado na obra de Béla Bartók, o Concerto para Piano nº 3 é invulgarmente melódico e acessível, sobretudo se comparado com os dois primeiros Concertos para Piano, nos quais as teclas servem mais a função de percussão do que de melodia (1). Dir-se-ia que Bartók renega parte do seu passado, optando por uma melodia mais leve, ao estilo neoclássico, o que é sobretudo notório no segundo andamento (Adagio Religioso), um coral com evidentes influências de Beethoven (2).

Este cariz mais ligeiro da obra parece ter-se ficado a dever a uma combinação de eventos que animaram Bartók após os primeiros anos de exílio nos Estados Unidos na sequência do eclodir da 2ª Guerra Mundial. A sua situação financeira recuperou com o sucesso do Concerto para Orquestra e a sua saúde melhorou temporariamente. O facto do Concerto para Piano nº3 ser dedicado à sua segunda mulher, a pianista Ditta Pásztory pode ajudar igualmente a explicar o carácter de menor complexidade da obra, especulando-se que Bartók desejava que Ditta fosse capaz de interpretar a peça após a morte do compositor.

Um certo optimismo transparece por toda a obra, talvez também como resultado da expectativa de Bartók em regressar à pátria da qual tinha sido afastado em consequência da 2ª Guerra Mundial. Infelizmente, Bartók viria a falecer em Nova Iorque, em Setembro de 1945, vítima de leucemia, sem ter tido a oportunidade de concretizar esse desejo. O Concerto para Piano Nº3 viria a ser concluído pelo seu discípulo Tibor Serly.

(1) Posslac, Cris. 1994. Bartók Piano Concertos Nºs 1-3, Jeno Jandó, Piano, Budapest Symphony Orchestra, András Ligeti, Conductor. Naxos Edition 8.550771.
(2) Morgan, Robert P. 1991. Twentieth-Century Music. New York, NY: W. W. Norton & Company, pp. 179-186.



Projecto 200 anos de música. A ideia é simples. Ao longo de duzentas entradas, o Piano na Floresta vai listar duzentas obras musicais, uma por cada ano, iniciando a contagem decrescente a partir do ano 2000. Se tudo correr conforme planeado, será possível identificar um disco ou uma obra composta em cada um dos anos no intervalo entre o ano 1800 e o ano 2000. Não há limitações de género musical. A qualidade e a reputação da obra não constituem critério de escolha, embora se entenda que ela é, de algum modo, representativa do ano em questão.

sábado, julho 11, 2009

Depeche Mode: Previsão do Alinhamento

1.In Chains
2.Wrong
3.Hole To Feed
4.Walking In My Shoes
5.It's No Good
6.A Question Of Time
7.Precious
8.Fly On The Windscreen
9.Little Soul
10.Home
11.Come Back
12.Peace
13.In Your Room
14.I Feel You
15.Policy Of Truth
16.Enjoy The Silence
17.Never Let Me Down Again
Encore:
18.Stripped
19.Master And Servant
20.Strangelove
Encore 2:
21.Personal Jesus
22.Waiting For The Night

PS: Como previsão do alinhamento até nem estaria má, mas um pé partido em Bilbao e tudo fica "em águas de bacalhau". Ainda não é desta que os Depeche Mode tocam no Porto. Segunda tentativa, segundo concerto cancelado. Não creio em bruxas, mas...

domingo, julho 05, 2009

sábado, junho 13, 2009

1946. La Vie En Rose - Edith Piaf

O ano que se seguiu ao final da II Guerra Mundial foi, compreensivelmente, o ano de La Vie en Rose. É na inconfundível voz anasalada de Edith Piaf que La Vie en Rose nasce pela primeira vez, com música de Louis Gugliemi e letra da própria Piaf. Embora seja uma chanson d' Amour, ao tema está também associado o optimismo inerente ao fim do conflito, marcando um momento a partir do qual tudo é possível e a vida só pode melhorar.

Des yeux qui font baisser les miens
Un rire qui se perd sur sa bouche
Voilà le portrait sans retouche
De l'homme auquel j'appartiens

Quand il me prend dans ses bras
Il me parle tout bas
Je vois la vie en rose

Il me dit des mots d'amour
Des mots de tous les jours
Et ça me fait quelque chose

Il est entré dans mon cœur
Une part de bonheur
Dont je connais la cause

C'est lui pour moi, moi pour lui
Dans la vie
Il me l'a dit, l'a juré pour la vie

Et dès que je l'aperçois
Alors je sens en moi
Mon cœur qui bat

Des nuits d'amour à ne plus en finir
Un grand bonheur qui prend sa place
Les ennuis, les chagrins s'effacent
Heureux, heureux à en mourir

Quand il me prend dans ses bras
Il me parle tout bas
Je vois la vie en rose

Il me dit des mots d'amour
Des mots de tous les jours
Et ça me fait quelque chose

Il est entré dans mon cœur
Une part de bonheur
Dont je connais la cause

C'est toi pour moi, moi pour toi
Dans la vie
Il me l'a dit, l'a juré pour la vie

Et dès que je l'aperçois
Alors je sens en moi
Mon cœur qui bat

A lista de nomes que recriaram a canção inclui Cyndy Lauper, Ella Fitzgerald, Louis Armstrong, Amália Rodrigues (!), Luciano Pavarotti, entre muitos outros.

Projecto 200 anos de música. A ideia é simples. Ao longo de duzentas entradas, o Piano na Floresta vai listar duzentas obras musicais, uma por cada ano, iniciando a contagem decrescente a partir do ano 2000. Se tudo correr conforme planeado, será possível identificar um disco ou uma obra composta em cada um dos anos no intervalo entre o ano 1800 e o ano 2000. Não há limitações de género musical. A qualidade e a reputação da obra não constituem critério de escolha, embora se entenda que ela é, de algum modo, representativa do ano em questão.

sexta-feira, maio 29, 2009

Lets Grow Old Together...


A comparação com os Joy Division é demasiado óbvia. Mais interessante é ouvir Duran Duran no refrão de To Lose My Life, Adrian Borland (The Sound) na voz e anos 80 espalhados por todo o álbum.

domingo, maio 17, 2009

Música Suave e Idealismo

Antony Hagerty deslumbrou todos os que ontem à noite se deslocaram ao Theatro Circo em Braga. A sua música centrada no piano e acompanhada por dois violinos, violoncelo, baixo e guitarra eléctrica ou clarinete (alternadamente) seduz todos os ouvidos por onde passa e a sua suavidade contrasta, por vezes de forma chocante, com as letras controversas dos temas interpretados. A inquietude em Another World, o masoquismo e a violência doméstica em Cripple and the Starfish, ou a ambiguidade de género em For Today I Am a Boy e I Fell in Love with a Dead Boy demonstram que Antony não hesita nas palavras necessárias para veicular uma mensagem, mas o concerto torna também evidente que a música não tem que ser transtornada ou violenta para transmitir a essa mesma mensagem.

Os pontos altos do concerto foram, a meu ver, Kiss My Name, pela execução luxuosa das cordas, The Crying Light, pela simplicidade da voz e piano e Shake That Devil pela improvisão que se lhe seguiu. A minha maior surpresa foi a excelente interpretação de Hope Mountain, acompanhada pela explicação impressionista do próprio Antony sobre como o suave teclar do piano significaria a segunda vinda de Cristo, reincarnado como mulher, caminhando sobre as águas num rio do Afeganistão.

Alinhamento:

1. Where Is My Power?
2. Her Eyes Are Underneath the Ground
3. Epilepsy Is Dancing
4. One Dove
5. For Today I Am a Boy
6. Kiss My Name
7. Everglade
8. Another World
9. Shake That Devil
10. The Crying Light
11. I Fell in Love With a Dead Boy
12. Fistful of Love
13. You Are My Sister
14. Hope Mountain
15. Twilight
16. Aeon
----
17. Cripple and the Starfish
18. Hope There's Someone

terça-feira, maio 12, 2009

Antony and the Johnsons

Os bilhetes estão comprados há três meses. Sábado é a grande noite. Antony and the Johnsons ao vivo no Theatro Circo.
A fotografia apresenta uma previsão do alinhamento. O conjunto de temas anuncia-se fenomenal, sendo este Shake That Devil um dos pontos altos.


sábado, maio 09, 2009

1947. Abril em Portugal (Coimbra) - José Galhardo/ Raul Ferrão

Antes de ser acusado de ignorar integralmente a música portuguesa, resolvi prestar homenagem a um dos temas mais universalmente consagrados: Abril em Portugal (Coimbra). Com letra de José Galhardo e música de Raul Ferrão, este tema já foi interpretado por Jane Morgan, Eartha Kitt, Perez Prado & His Orchestra, Les Baxter & Orchestra, entre muitos outros. Mais de 60 anos após a sua composição, Abril em Portugal é, quase de certeza, o tema composto por portugueses com maior número de versões, o que o transporta para um patamar de relevo único.
A versão escolhida para integrar este post é, e não poderia deixar de o ser, a de Amália Rodrigues:

Projecto 200 anos de música. A ideia é simples. Ao longo de duzentas entradas, o Piano na Floresta vai listar duzentas obras musicais, uma por cada ano, iniciando a contagem decrescente a partir do ano 2000. Se tudo correr conforme planeado, será possível identificar um disco ou uma obra composta em cada um dos anos no intervalo entre o ano 1800 e o ano 2000. Não há limitações de género musical. A qualidade e a reputação da obra não constituem critério de escolha, embora se entenda que ela é, de algum modo, representativa do ano em questão.

segunda-feira, maio 04, 2009

1948. Sonatas e Interlúdios para Piano Preparado - John Cage

Os puristas acusaram-no de ser um "destruidor de pianos", mas a palavra "génio" é manifestamente insuficiente para descrever o americano John Cage (1912-1992). Admirador de Arnold Schoenberg e influenciado pelo Budismo Zen, John Cage teve como objectivo de vida explorar a utilização musical do ruído, numa tentativa de se distanciar da composição musical enquanto forma de comunicação.

Em 1940, quando instado a compor uma peça de dança para um teatro com espaço insuficiente para um ensemble de percussão, Cage conclui que o problema era do piano e não da sala. Assim, decide introduzir vários objectos entre as cordas do piano - elásticos, porcas, parafusos, borrachas, entre outros - que permitem ao pianista produzir um conjunto de sons semelhantes a um ensemble de percussão.

Lutando contra os preconceitos associados à composição, Cage procurou que esta dependesse mais das escolhas do executante e do contexto da interpretação do que das escolhas prévias do compositor. Em 4'33'' (1952) o silêncio impera durante os 4 minutos e 33 segundos de duração da peça, em que o pianista permanece sentado, imóvel, em frente ao piano. Tal facto torna a peça integralmente dependente dos ruídos aleatórios produzidos na sala (tosse, espirros, ranger de cadeiras, bater de portas, entre outros ruídos da audiência), o que conduz a que cada interpretação seja única e irrepetível.

As Sonatas e Interlúdios para Piano Preparado foram compostas durante 2 anos e terminadas em 1948. A sonoridade oscila, segundo o próprio Cage, entre as influências da música ocidental nos sons semelhantes a sinos e as da música oriental, sugerida pelos sons de tambores. De um modo geral, a harmonia musical encontra-se ausente, sendo a estrutura rítmica a preocupação central. Cage comparou a composição desta peça ao caminhar pela praia à descoberta de conchas e búzios que nos agradam. À medida que explorava o piano preparado, retinha as sonoridades que combinavam com a estrutura rítmica, abandonando as restantes. No limite deste método, Cage acaba por deixar cair toda a intencionalidade da composição para privilegiar a aleatoriedade.

A melhor performance disponível no You Tube das "Sonatas e Interlúdios" é de Tim Ovens a interpretar a Sonata IV. O vídeo demora um pouco a carregar, mas vale a pena apreciar a preparação técnica do piano.


Projecto 200 anos de música. A ideia é simples. Ao longo de duzentas entradas, o Piano na Floresta vai listar duzentas obras musicais, uma por cada ano, iniciando a contagem decrescente a partir do ano 2000. Se tudo correr conforme planeado, será possível identificar um disco ou uma obra composta em cada um dos anos no intervalo entre o ano 1800 e o ano 2000. Não há limitações de género musical. A qualidade e a reputação da obra não constituem critério de escolha, embora se entenda que ela é, de algum modo, representativa do ano em questão.

segunda-feira, abril 06, 2009

1949. Birth of Cool - Miles Davis

As obras verdadeiramente revolucionárias resultam frequentemente de uma conjugação única de factores. Birth of Cool não é, sob esse aspecto, uma excepção à regra. Depois de ter surgido duas vezes neste projecto (1969 e 1959), Miles Davis volta a aparecer, desta vez em 1949, com mais um trabalho de vanguarda. Desta vez, Miles opera a transição do jazz "clássico", associado ao bebop, para o jazz "moderno", na vertente cool jazz. A importância desta obra é particularmente notória no desenvolver de um novo estilo de jazz na Califórnia, que ficou conhecido como West Coast jazz e que terá Dave Brubeck e Chet Baker como alguns dos expoentes.

Gravado maioritariamente em 1949, Birth of Cool é um álbum luxuoso sob o ponto de vista orquestral, marcado pela colaboração de Gil Evans com o grupo de 8 músicos que acompanha Miles Davis (trompete): Mike Zwerin (trombone), Bill Barber (tuba), Junior Collins (trompa), Gerry Mulligan (saxofone barítono), Lee Konitz (saxofone alto), John Lewis (piano), Al McKibbon (baixo) e Max Roach (bateria).

Para os leitores e ouvintes que têm maior dificuldade com o jazz, esta será uma óptima forma de começar neste género, dado que Birth of Cool possui ritmos de swing, toques clássicos e sonoridades easy listening. No disco destacam-se os tema Jeru, Move e Boplicity, com este último a aparecer em destaque nesta selecção retirada do You Tube:


Projecto 200 anos de música. A ideia é simples. Ao longo de duzentas entradas, o Piano na Floresta vai listar duzentas obras musicais, uma por cada ano, iniciando a contagem decrescente a partir do ano 2000. Se tudo correr conforme planeado, será possível identificar um disco ou uma obra composta em cada um dos anos no intervalo entre o ano 1800 e o ano 2000. Não há limitações de género musical. A qualidade e a reputação da obra não constituem critério de escolha, embora se entenda que ela é, de algum modo, representativa do ano em questão.

terça-feira, março 31, 2009

1950. Pure Ella - Ella Fitzgerald

A voz cristalina e a invulgar longevidade de Ella Fitzgerald justificam plenamente a utilização do termo diva para descrever esta magnífica mulher do jazz. Depois de Billie Holiday (1958) e Sarah Vaughan (1952), Ella Fitzgerald é a terceira grande voz feminina do jazz a aparecer nesta lista.

Em Pure Ella, a voz de Ella Fitzgerald e o piano tocado por Ellis Larkins reunem-se de forma mágica para interpretar temas compostos por George Gershwin e letras de Ira Gershwin. Destaca-se a memorável interpretação de Someone To Watch Over Me, assim como a suavidade de But Not For Me.

Ella Fitzgerald - But Not For Me



Projecto 200 anos de música. A ideia é simples. Ao longo de duzentas entradas, o Piano na Floresta vai listar duzentas obras musicais, uma por cada ano, iniciando a contagem decrescente a partir do ano 2000. Se tudo correr conforme planeado, será possível identificar um disco ou uma obra composta em cada um dos anos no intervalo entre o ano 1800 e o ano 2000. Não há limitações de género musical. A qualidade e a reputação da obra não constituem critério de escolha, embora se entenda que ela é, de algum modo, representativa do ano em questão.

terça-feira, março 24, 2009

1951.Concerto para Piano e Orquestra Nº 2 - Lukas Foss

Lukas Foss faleceu no início do mês de Fevereiro de 2009, aos 86 anos. Foss tinha 28 anos quando concluiu o seu segundo concerto para piano e orquestra, uma obra de grande fôlego e revelando uma maturidade muito superior à do seu antecessor, que sofre de típicos defeitos de juventude, já que foi composto aos 17 anos.

Após uma longa introdução da orquestra, o piano entra, solitário, aos 3 minutos e 20 segundos do primeiro andamento, fortemente marcado pelas tonalidades da América dos espaços abertos, das grandes distâncias e da natureza em bruto. Em contraste, o segundo andamento segue um registo adagietto, de uma musicalidade esparsa e mais próxima da sonoridade cinematográfica. Mas é o terceiro andamento que representa o ponto alto desta obra, sobretudo a cadenza, que o próprio Lukas Foss definiu como "louca e obsessiva"(1), realçando o virtuosismo necessário à sua execução.

Entre as influências do compositor americano contam-se Paul Hindemith e, numa fase mais adiantada da sua obra, Igor Stravinsky. Este Concerto para Piano e Orquestra segue a forma do Concerto para Piano e Orquestra Nº5 (Imperador) de Ludwing Van Beethoven, mas as influências sonoras são claramente de Stravinsky, que Lukas Foss conheceu pessoalmente pela altura da première desta obra e de quem mais tarde se tornaria amigo.

(1) Lukas Foss, notas da edição Piano Concertos / Elegy for Anne Frank. Jon Nakamatsu (piano), Yakov Kasman (piano), Lukas Foss (piano), Eliza Foss (narrador), Pacific Symphony Orchestra /Carl St. Clair (maestro). Harmonia Mundi, 2001.

Projecto 200 anos de música. A ideia é simples. Ao longo de duzentas entradas, o Piano na Floresta vai listar duzentas obras musicais, uma por cada ano, iniciando a contagem decrescente a partir do ano 2000. Se tudo correr conforme planeado, será possível identificar um disco ou uma obra composta em cada um dos anos no intervalo entre o ano 1800 e o ano 2000. Não há limitações de género musical. A qualidade e a reputação da obra não constituem critério de escolha, embora se entenda que ela é, de algum modo, representativa do ano em questão.

sábado, março 07, 2009

1952. In Hi-Fi - Sarah Vaughan

Os anos 50 marcam o encontro de três divas do jazz - Billie Holiday, Ella Fitzgerald e Sarah Vaughan. Das três, a vocalista e pianista Sarah Vaughan (1924-1990) foi a que teve a vida mais equilibrada e menos marcada por traumas de infância, adolescência e jovem adulta. Por altura do lançamento de In Hi-Fi, em 1952, já Sarah era uma veterana dos blues e do jazz, apesar de ter apenas 28 anos.

O álbum é uma magnífica selecção de clássicos do jazz, incluindo Nice Work If you Can Get It, Can't Get Out of this Mood e Ain't Misbehavin', e conta com a participação de Miles Davis no trompete. As composições alternam o small ensemble com a orquestra alargada em estúdio, mas em todas elas sobressai a voz emotiva, sofisticada e segura de Vaughan.

Come Rain or Come Shine - Sarah Vaughan & Miles Davis:


Projecto 200 anos de música. A ideia é simples. Ao longo de duzentas entradas, o Piano na Floresta vai listar duzentas obras musicais, uma por cada ano, iniciando a contagem decrescente a partir do ano 2000. Se tudo correr conforme planeado, será possível identificar um disco ou uma obra composta em cada um dos anos no intervalo entre o ano 1800 e o ano 2000. Não há limitações de género musical. A qualidade e a reputação da obra não constituem critério de escolha, embora se entenda que ela é, de algum modo, representativa do ano em questão.

sábado, fevereiro 28, 2009

1953. Sinfonia Nº 10 - Dmitri Shostakovich

A Sinfonia Nº10 de Dmitri Shostakovich marca a reabilitação do compositor na União Soviética, graças à morte de Josef Staline em 1953. O final do quarto andamento é, diz-se, um retrato musical do ditador, realçando a sua brutalidade e sugerindo a "banalidade do mal"(1). A utilização do metrónomo num ritmo alucinante é a marca distintiva da gravação dirigida por Herbert Von Karajan, que conduz a Orquestra Filarmónica de Berlim a uma performance memorável.

O Allegro do 2º andamento desperta em mim sentimentos intensos, furiosos, quase violentos. Tal não surpreende. Nesse sentido, o contraste entre andamentos dificilmente poderia ser mais pronunciado. Por contraposição, o primeiro andamento é de uma beleza melódica trágica, marcado por oscilações entre a contenção sinistra e as explosões sonoras de contornos épicos. Há qualquer coisa de verdadeiramente inquietante neste primeiro andamento, em que o cronómetro ultrapassa os 22 minutos. Não sei se é a ausência de uma estrutura facilmente apreensível nas primeiras audições, ou o "sentimento avassalador de uma angústia sublimada" (2) de que falam as críticas à obra. Mas é impossível não sentir essa inquietude perante música tão densa e crispada.
1. Moderato (mp3 excerto)
2. Allegro (mp3 excerto)
3. Allegretto
4. Andante - Allegro

(1) Solomon Volkov, Testimony: The Memoirs of Dmitri Shostakovich, Limelight Editions, 2004.
(2) Richard Osborne, notas da edição Shostakovich, Symphony nº10 in E Minor, Op.93, Berliner Philarmoniker conducted by Herbert Von Karajan, Deutsche Grammophon, 1981

Projecto 200 anos de música. A ideia é simples. Ao longo de duzentas entradas, o Piano na Floresta vai listar duzentas obras musicais, uma por cada ano, iniciando a contagem decrescente a partir do ano 2000. Se tudo correr conforme planeado, será possível identificar um disco ou uma obra composta em cada um dos anos no intervalo entre o ano 1800 e o ano 2000. Não há limitações de género musical. A qualidade e a reputação da obra não constituem critério de escolha, embora se entenda que ela é, de algum modo, representativa do ano em questão.

sábado, fevereiro 07, 2009

1954. Louis Armstrong Plays W.C. Handy

Louis Armstrong é provavelmente o mais famoso músico de jazz de todos os tempos. Na interpretação dos temas mais famosos de W.C.Handy, considerado o pai dos blues, o vocalista e trompetista atinge níveis de intensidade, perfeição e exigência só acessíveis a um predestinado. A orquestração é excelente e a produção límpida ao ponto de permitir aos restantes músicos um lugar de destaque para além do próprio Louis, com particular destaque para Barney Bigard no clarinete e Billy Kyle no piano. Os duetos de Louis com a voz encantadora de Velma Middleton transmitem a química das grandes parcerias, sobretudo em Lovess Love, Long Gone (from the Bowlin' Green) e na épica versão de St. Louis Blues.

Ouvir os blues de W.C.Handy interpretados por Louis Armstrong and His All-Stars é quase uma experiência religiosa, porque deve ser saboreada em condições apropriadas. Um sofá confortável, um Jack Daniels na mão e a ausência de companhia, são indispensáveis para poder disfrutar dos blues na sua plenitude. A tristeza toma outra dimensão quando é partilhada, ainda que seja discutível se ela aumenta ou diminui em função dessa partilha. Tal como a partilha da tristeza não nos deixa indiferentes, o mesmo se pode dizer deste disco memorável, uma das últimas grandes interpretações de Louis Armstrong.

A gigantesca versão de Saint Louis Blues, uma das melhores de todos os tempos, pode ser escutada integralmente no You Tube:

Projecto 200 anos de música. A ideia é simples. Ao longo de duzentas entradas, o Piano na Floresta vai listar duzentas obras musicais, uma por cada ano, iniciando a contagem decrescente a partir do ano 2000. Se tudo correr conforme planeado, será possível identificar um disco ou uma obra composta em cada um dos anos no intervalo entre o ano 1800 e o ano 2000. Não há limitações de género musical. A qualidade e a reputação da obra não constituem critério de escolha, embora se entenda que ela é, de algum modo, representativa do ano em questão.

quarta-feira, janeiro 14, 2009

Euforia

Changing Your Strut When You Know I'm Behind You
Changing Your Ways Cause You Don't Know What To Do
I Only Wanna Tell You
How I Feel Inside
If Only You Could Listen
Try To Change Your Mind

So I Walk Right Up To You
And You Walk All Over Me
And I Ask You What You Want
And You Tell Me What You Need
Can't You Feel It All Come Down
Can't You Hear It All Around
At The Place Where Lost Is Found
That Great Love Sound

Talking To You Makes Me Wanna Shake And Shout
Touching You Makes Me Wanna Come Right Out
You Could Never Want Me
The Same Way I Want You
I'm Love Tornado Struck
I Don't Know What To Do

sábado, janeiro 10, 2009

1955. Maybellene - Chuck Berry

A Rolling Stone disse que o rock'n'roll começou aqui. A importância de Chuck Berry no nascimento do rock'n'roll é por demais evidente. Os acordes simples, a energia debitada, a produção caseira e as letras sobre carros e mulheres apontaram o caminho para o garage rock e para o rockabilly, catapultaram Elvis Presley para o estrelato, influenciaram bandas memoráveis como Pixies, Jesus and The Mary Chain ou Straycats e ainda hoje têm dignos descendentes nos Black Rebel Motorcycle Club ou The Raveonettes.
Maybellene é uma canção simples, directa, com apenas 2 minutos e 21 segundos, mas o seu impacto ultrapassa em muito a sua qualidade intrínseca. É a atitude rock'n'roll que nasce com esta canção e ignorar esse impacto é esquecer que toda a música popular tem uma dívida para com nomes fundadores como Chuck Berry. A justiça tem sido feita ao longo dos anos, com inúmeras homenagens e referências no contexto da cultura popular. Por exemplo, quem não se recorda de Michael J. Fox a fazer de Marty McFly em Regresso ao Futuro (1985) a tocar Johnny B. Good em 1955 em frente a uma plateia de teenagers atónitos?

Maybellene (mp3) - Chuck Berry
Projecto 200 anos de música. A ideia é simples. Ao longo de duzentas entradas, o Piano na Floresta vai listar duzentas obras musicais, uma por cada ano, iniciando a contagem decrescente a partir do ano 2000. Se tudo correr conforme planeado, será possível identificar um disco ou uma obra composta em cada um dos anos no intervalo entre o ano 1800 e o ano 2000. Não há limitações de género musical. A qualidade e a reputação da obra não constituem critério de escolha, embora se entenda que ela é, de algum modo, representativa do ano em questão.

domingo, janeiro 04, 2009

Vazio

Rooms by the Sea (1951) by Edward Hopper
Música: Popstar Researching Oblivion by Flotation Toy Warning (mp3)

sábado, janeiro 03, 2009

1956. Elvis Presley - Elvis Presley

Elvis Presley foi um pioneiro. Mesmo não sendo apreciador dos primórdios do rock'n'roll, tenho de admitir que a sua influência ultrapassa em muito a sua geração. Na verdade, o gingar de ancas de Elvis fez mais pelo progresso da música popular contra as mentalidades conservadoras e estagnadas do que Lennon e Ono nus na cama pela paz, o arrancar da cabeça de um periquito vivo por Ozzy Osborne ou o soutien cone de Jean-Paul Gautier usado por Madonna.

A atitude rebelde, anti-sistema, seria retomada nos primórdios do punk-rock, em particular na versão que casou com sucesso a música e a atitude, como foi o caso dos The Clash. A admiração da banda de Joe Strummer por Elvis era tão grande, que até a capa de London Calling é um tributo.

O primeiro disco de Elvis Presley foi editado em 1956 e tem título homónimo. São apenas 28 minutos, mas o poder avassalador desta música para partir corações e provocar revoluções é evidente desde a abertura com Blue Suede Shoes (mp3). Nenhum dos temas foi escrito por Elvis, mas as suas interpretações tornaram-se hinos para uma geração de teenagers brancos da América que nunca tinham ouvido coisa semelhante.

Blue Suede Shoes (mp3); Trying to Get to You (mp3); Blue Moon (mp3).

Projecto 200 anos de música. A ideia é simples. Ao longo de duzentas entradas, o Piano na Floresta vai listar duzentas obras musicais, uma por cada ano, iniciando a contagem decrescente a partir do ano 2000. Se tudo correr conforme planeado, será possível identificar um disco ou uma obra composta em cada um dos anos no intervalo entre o ano 1800 e o ano 2000. Não há limitações de género musical. A qualidade e a reputação da obra não constituem critério de escolha, embora se entenda que ela é, de algum modo, representativa do ano em questão.