sexta-feira, dezembro 22, 2006

Os Melhores de 2006

Aqui fica a minha lista dos melhores do ano de 2006. Junto aos melhores temas de cada álbum, deixo links para o You Tube para quem desejar conhecer o género musical. Este post deu um trabalhão a fazer, por isso... aproveitem! Feliz Ano de 2007!

1. Black Ships Ate the Sky – Current 93


Nem sempre quantidade é sinónimo de qualidade, mas aqui estão os melhores 75 minutos do ano de 2006. David Tibet: poeta, compositor, pregador, génio visionário por trás dessa jangada de criatividade chamada Current 93 convidou um grupo numeroso de amigos para trabalhar consigo nesta obra, que resulta de um sonho intenso preconizando o apocalipse e a segunda vinda de Cristo à terra. Dito assim parece pretensioso, mas vejam os nomes que gravitam em torno de Tibet: Marc Almond, Antony, Bonnie ‘Prince’ Billy, Ben Chasny, Shirley Collins, Baby Dee, Michael Cashmore, Pantaleimon, Clodagh Simonds, entre muitos outros. Há vários momentos brilhantes ao longo deste disco, dominado pela guitarra acústica e pela poesia de Tibet, e que pode ser inserido na categoria fluida do folk alternativo. Destacam-se as oito (!) versões da mesma canção – Idumaea – cantadas por oito dos nomes mencionados, mas que são totalmente distintas entre si, convencendo-nos de que se tratam de temas efectivamente diferentes. As palavras que aqui escrevo não fazem justiça à dimensão da obra, quer às nuances musicais, quer à riqueza poética. Depois de uma carreira com mais de 30 discos originais, repleta de obras-primas, como Thunder Perfect Mind, All the Pretty Little Horses ou Sleep Has His House, os Current 93 lançam mais um disco genial, que desafia qualificação, e complica ainda mais a tarefa de determinar qual o melhor momento da carreira da banda.

Melhores frases: “Soon as from earth I go / What will become of me? / Eternal happiness or woe / Must then my fortune be / Waked by the trumpet’s sound / I from my grave shall rise / And see the Judge with glory crowned / And see the flaming skies

Melhores temas: Sunset (The Death of Thumbelina), Idumaea (versão acapella de Antony), Idumaea (versão Baby Dee) (http://www.youtube.com/watch?v=0XOz9CtFy0s) e Black Ships Were Sinking Into Idumaea.

Editora: Durtro Jnana 2112CD

2. Songs from the Coal Mine Canary – Little Annie

Conheci Little Annie Anxiety pelas suas colaborações com David Tibet e os seus Current 93, mas desde cedo percebi que a sua voz estava talhada para momentos memoráveis. Songs from the Coal Mine Canary é uma viagem autobiográfica pela decadência física, psíquica e moral das quais só o Amor pode libertar. A voz abagaçada de Little Annie é acompanhada pelo som do piano e de cordas com melodias suaves, passando pelos blues, pelo jazz e pelo cabaret. A colaboração de Antony ao nível da composição é extraordinária e transforma este disco numa magnífica surpresa de 2006.

Melhores frases: “You can’t sing the blues while drinking milk”; “I have cruised my way down sex street / With the gorgeous and the vain / And I freshened up my makeup / On the boulevard of pain”

Melhores temas: The Good Ship Nasty Queen, Absynthtee-ism e Sit On Down. Annie canta igualmente The Rapture (http://www.youtube.com/watch?v=lio239PqdRk), de Antony & The Johnsons.

Editora: Durtro Jnana 1967CD

3. In the Maybe World – Lisa Germano

Ao fim de meia dúzia de cds a solo, Lisa Germano tem aqui um momento alto na sua carreira. A mudança de editora parece ter resultado em pleno. Na independente 4AD Lisa era uma estrela menor, ao passo que na pequena Young God Records de Michael Gira (ex-Swans) é o maior nome da casa. O piano domina a sonoridade de todo o disco, ainda que, por vezes, as melodias afectuosas sejam acompanhadas pela guitarra de Johnny Marr (ex-Smiths) e pelo baixo de Sebastian Steinberg. Uma das facetas que mais aprecio em Lisa Germano é a sua capacidade para cantar músicas sobre temas perturbadores com a maior candura do mundo. O contraste entre a dureza das letras e a beleza da voz e da música encontra aqui a sua máxima expressão.

Melhores frases: “Narcissistic little fairy / Why do I feel dead / Who was that stupid ogre / Messing with my head”

Melhores temas: Too Much Space (http://www.youtube.com/watch?v=9PSR72--GI8), Into Oblivion e In the Land of Fairies.

Editora: Young God Records CD YG 32

4. Live at Town Hall – Eels (Live with Strings)

Este é o melhor cd ao vivo do ano de 2006. Depois de seis álbuns de originais, Mark Oliver Everett, génio criativo e líder da banda The Eels recria um conjunto de 22 temas com a ajuda de uma secção de cordas e uma capacidade de improviso assinalável. O que mais me toca na música da banda é a voz carregada de sentimento de Everett, que nos transmite todas as emoções associadas aos temas, maioritariamente autobiográficos, que compõem a carreira dos Eels. A versão de Flyswatter, um tema originalmente gravado para o trabalho Daisies of the Galaxy, é surpreendente, com influências da música concreta contemporânea. A forma como este tema desagua no hit Novocaine for the Soul é também notável, tornando este álbum um verdadeiro must!

Melhores frases: It’s a motherfucker / Being here without you; Have you ever made love to a beautiful girl / made you feel like it’s not such a bad world / hey man now you’re really living

Melhores temas: Flyswatter, Bus Stop Boxer (http://www.youtube.com/watch?v=xVTI1IozwtA) e I'm Going To Stop Pretending That I Didn't Break Your Heart.

Editora: Vagrant Records

5. Let’s Get Out of This Country – Camera Obscura

Em 1984, Lloyd Cole escreveu uma canção com o presunçoso título Are You Ready to Be Heartbroken?. Em 2006, Tracyanne Campbell responde com “Lloyd, I’m ready to be heartbroken / I can’t see further than my own nose at the moment”. Esta singela pérola de humor entre escoceses inicia o melhor cd de música pop de 2006. A frescura da música, a beleza arrebatadora da secção de cordas e a voz inocente de Tracyanne Campbell conjugam-se para produzir a obra mais “comercial” desta listagem. A popularidade dos Camera Obscura começa a atingir proporções interessantes, ameaçando destronar o estatuto de culto dos Belle and Sebastian.

Melhores frases: “Let’s get out of this country / I’ll admit I am bored with me / I drowned my sorrows and slept around / When not in body at least in mind”

Melhores temas: Lloyd, I´m Ready to Be Heartbroken (http://www.youtube.com/watch?v=XTa_RQC8ZxA), Come Back Margaret e Let’s Get Out of This Country (http://www.youtube.com/watch?v=3t4xldu9fXQ).

Editora: Elefant ER-1123 CD

6. The Drift – Scott Walker

Numa outra incarnação, Scott Walker foi estrela pop nos anos 60, liderando os Walker Brothers e enfrentando uma legião de fãs histéricas à la Beatles. Nos anos 70 prosseguiu uma carreira a solo preenchida por versões de temas de Jacques Brel cantadas em inglês e por excelente música da sua autoria enquanto cantor-compositor. Em meados dos anos 70, a qualidade da sua música degradou-se e Scott Walker desapareceu enquanto músico criativo. Depois disso, apenas dois álbuns se destacam: Tilt (1995) e The Drift (2006). The Drift é um disco estranhíssimo, assente na voz sinistra, quase apocalíptica, de Walker, na instrumentação errática e nos efeitos sonoros caricatos (homens a descer escadas, burros a zurrar, crianças a gritar, entre outros). É uma obra difícil de ouvir de princípio a fim, mas aqueles que o conseguem são recompensados pela sensação de ouvirem algo verdadeiramente original e criativo.

Melhores frases: “Has absence ever sounded so eloquent so sad I doubt it?” “Polish the fork and stick the fork in him”; “I’ll punch a donkey in the streets of Galway!” “A chilling exploration of erotic consumption”

Melhores temas: Jesse (http://www.youtube.com/watch?v=GYyOkQUyJZM), Cue e Buzzers.

Editora: 4AD, cad 2603 cd

7. He Poos Clouds – Final Fantasy

Este é o disco mais elitista do ano. A última vez que ouvi uma fusão quase perfeita entre a música de câmara e o rock foi no “velhinho” cd dos Rasputina “How We Quit the Forest” (1998), no qual um trio de violoncelistas demolia todos os preconceitos sobre a utilização deste instrumento na música rock. Essa sensação de choque e surpresa voltou com o primeiro disco dos Final Fantasy. Owen Pallett, membro dos conhecidíssimos Arcade Fire e líder dos Final Fantasy é um génio: cria as letras, compõe as músicas e faz os arranjos para o quarteto de cordas que o acompanha na maioria dos temas. No meio de inúmeras pérolas poéticas, destaca-se esta: “A taut wire, her father’s evil empire / Jenna dreams of being physically able / To behead herself at the dinning room table”. Owen Pallett é a juventude inquieta pela força da caneta.

Melhores frases: “Now his massive genitals refuse to co-operate / And no amount of therapy can hope to save his marriage”

Melhores temas: This Lamb Sells Condos (http://www.youtube.com/watch?v=U1kL568eg1w), I’m Afraid of Japan e The Pooka Sings

Editora: Tomlab 69 cd

8. Nisht Azoy – Black Ox Orkestar



Oriundos de Montreal, Canadá, os Black Ox Orkestar são um colectivo de músicos fortemente influenciado pelas tradições das canções folk judaicas. Todo o trabalho é dominado pelos instrumentais, entrecortados por algumas porções cantadas em hebraico, com as respectivas traduções em inglês e francês disponíveis num folheto que acompanha o cd. Em alguns temas, os ritmos endiabrados do trompete e da percussão transportam-nos para os cenários delirantes dos filmes de Kusturica. O mercado discográfico dominado pelas multinacionais dificulta a divulgação generalizada de música que mistura a tradição com a vanguarda, como é o caso dos Black Ox Orkestar. Os exemplares à venda em Portugal são escassos, pelo que o download ilegal será a solução da maioria dos leitores que se quiseram aventurar nestas sonoridades exóticas da Europa de Leste/Médio Oriente.

Melhores temas: Ratsekr Grec, Tsvey Taybelakh e Dobriden.

Editora: Constellation Records CST038

9. Evangelista – Carla Bozulich


Ok. Carla Bozulich não é exactamente uma Diamanda Galas, mas aproxima-se de uma P.J. Harvey muito zangada. Evangelista é uma estreia absolutamente surpreendente. Nunca tinha ouvido falar desta mulher até ter ouvido Evangelista I, o primeiro tema do disco. Posso garantir que fiquei arrepiado de medo. Sim, puro e não adulterado medo! A entrada deste cd é um tema com mais de 9 minutos em que Bozulich grita furiosamente as letras do tema por meio de samples, loops e uma secção de cordas composta por violino, viola, violoncelo e contrabaixo tocados de forma muito pouco ortodoxa. A acrescentar a toda esta cacofonia alucinante há ainda um discurso do Elder Otis Jones, pregando no distante ano de 1936. As coisas acalmam bastante depois deste início fulgurante, mas por esta altura já Carla Bozulich tinha ganho entrada directa para a tabela dos 10 melhores do ano. Steal Away é uma ode pungente e How to Survive Being Hit by Lightning um clássico instantâneo. Curiosamente, o cd termina com uma versão muito mais soft do primeiro tema.

Melhores temas: Evangelista I, Steal Away, How to Survive Being Hit By Lightning e Pissing (http://www.youtube.com/watch?v=TCuVmV5RWEU.

Editora: Constellation Records CST041

10. Fear is On Our Side – I Love You But I’ve Chosen Darkness

Pegue-se em duas ou três boas colheitas de pop-rock britânico dos anos 80 – The Chameleons, The Sound e Echo & The Bunnymen – junte-se uns pózinhos de Interpol e uma capa de cd enigmática, e temos os I Love You But I’ve Chosen Darkness. Os sons desta banda de nome enigmático fazem lembrar as velhas cidades inglesas debilitadas pela industrialização, mas a sua proveniência é a cidade de Austin, conhecida pela cultura musical alternativa alimentada pela Universidade do Texas.

Melhores temas: The Ghost, According to Plan (http://www.youtube.com/watch?v=tw1T9sQ5gBU) e Today
Editora: Secretly Canadian SC123


quinta-feira, dezembro 21, 2006

Os Piores e os Assim-Assim de 2006

Antes da lista final dos 10 melhores cds de 2006, deixo-vos com "os outros"; aqueles cds que comprei, mas que estão longe de satisfazer ouvidos mais exigentes. Esta lista inclui:

1. As desilusões: aqueles artistas que fizeram obras de grande qualidade no passado, mas que enveredaram pelo caminho do facilitismo e/ou sucesso fácil, produzindo trabalhos abaixo ou, nalguns casos, francamente abaixo do nível anterior.
Os Mojave 3 já fizeram música pop-rock quase perfeita, mas Puzzles Like You é um disco acomodado e desinspirado. É a primeira obra medíocre de Rachel Goswell, Neil Halstead e Ian McCutcheon, e não posso deixar de sentir saudades dos primeiros dois trabalhos dos Mojave 3 ou dos fabulosos Slowdive.
Os Lambchop são um caso mais preocupante. A banda tem um passado de excelência, mas uma certa obsolescência começou a instalar-se desde o anterior AwCmon/NoyouCmon. O título do último - Damaged - é uma estranha premonição do fim da carreira da banda de Kurt Wagner.
Quanto a Peter Murphy, depois de ter dividido crítica e fans com o anterior Dust (que pessoalmente considero fabuloso), apresenta agora uma obra menor e que, felizmente, quase passou despercebida. Depois de uma obra demasiado centrada num rock desinspirado, já não sei o que posso esperar da próxima...

a. Puzzles Like You - Mojave 3
















b. Damaged - Lambchop












c. Unshattered - Peter Murphy













2. Os assim-assim: cds que têm qualidade, mas não a suficiente para aceder ao top 10. Depois de assinar em 2005 um cd a rondar a perfeição, era difícil pedir algo melhor feito com extras e versões desse tempo passado em estúdio. The Avalanche é, apesar disso, um bom trabalho e que demonstra que, mesmo nos restos, Sufjan é brilhante.
Os Legendary Pink Dots têm mais de 20 anos de carreira e, quando assim é, a novidade começa a ser escassa. No entanto, os LPD são representantes de um estilo musical invulgar, que mistura sons electrónicos alternativos com letras que descrevem cenários fantásticos e "do outro mundo". É um disco difícil, mas os LPD nunca foram uma banda fácil...
Enquanto cantor-compositor, Josh Rouse segue a linha do melhor da velha guarda (de Joni Mitchell a Leonard Cohen) e Subtítulo demonstra que Rouse continua em forma. As suaves melodias, a instrumentação delicada e as letras que cantam o amor e as suas angústias permanecem no ouvido e garantem a audição continuada sem enfado.
Isobel Campbell (dos Belle and Sebastian) e Mark Lanegan (dos Screaming Trees) formaram uma invulgar parceria musical, a fazer lembrar os duetos dos anos 60 de Lee Hazlewood com Nancy Sinatra. Qualquer coisa entre o cowboy saloon e o bordel, entre a voz delicodoce de Isobel e a voz rouca e carregada de whiskey de Mark. Se houvesse um décimo primeiro classificado...
Em Montréal vive a mais inspirada geração de músicos do chamado pós-rock. Eric Chenaux faz parte desse colectivo alternativo e apresenta aqui um cd de estreia a prometer muito. Temas desconcertantes, adornados com violino e banjo (!), para além dos tradicionais, numa banda que estende as sonoridades da editora Constellation Records para novas paragens.
Por último, Jessica Bailiff editou Feels Like Home, que mantém a linha já demonstrada nos dois trabalhos anteriores. Muito centrado na voz e guitarra eléctrica, este disco tem o mérito de ser curto, directo e simples, evitando arranjos excessivos que prejudicariam a mensagem da autora. Uma carreira para continuar a acompanhar na editora Kranky Records de Chicago.

a. The Avalanche - Sufjan Stevens












b. Your Children Placate You From Premature Graves - Legendary Pink Dots













c. Subtítulo - Josh Rouse














d. Ballad of the Broken Seas - Isobel Campbell & Mark Lanegan












e. Dull Lights - Eric Chenaux















f. Feels Like Home - Jessica Bailiff




quinta-feira, dezembro 14, 2006

Qual o melhor cd de 2006?

2006 foi um ano de colheita musical excelente. A 15 dias do final do ano está aberta a caça ao melhor cd de 2006. Sugestões aguardam-se. A lista do Piano estará disponível até ao dia de Natal.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

35 Anos às 12h40m

Completo hoje 35 anos de existência. Como é tradição cá no blog, deixo-vos com uma fotografia minha durante 24 horas. Espero que gostem desta "rica prenda"...

terça-feira, dezembro 12, 2006

Las Vegas

(Excalibur by night)

Não sendo um dos hotéis da moda, como o Bellagio, o Excalibur apresenta preços convidativos para a qualidade de serviço prestado. Quem vem a Las Vegas sem uma mentalização prévia apanha o choque da sua vida. A cidade é inebriante, louca, luminosa e alucinante. Os hotéis variam entre o imponente e o kitsch, o grandioso e o decadente, mas há uma magia no ar que torna a cidade, e as suas quase 200.000 camas para turistas, uma atracção irresistível para os viajantes mais cosmopolitas.
(Show de luz e som do Hotel Bellagio)

Longe vão os tempos em que o Flamingo, o Tropicana, o Riviera e o Frontier dominavam a paisagem de Las Vegas. Estes velhos hotéis, bonitos à sua maneira, aparecem agora diluídos na paisagem urbana, absorvidos pela megalomania do MGM Grand (um hotel com 5000 quartos!!!), Bellagio, New York, New York, Mandalay Bay ou Luxor.
(Las Vegas Boulevard)

Os vapores da cafeína do Starbucks em pleno Las Vegas Boulevard afectam-me, o Monte Carlo em frente causa-me inveja e a ostentação do Bellagio, com a boutique Armani no seu interior, recorda-me que não sou o José Mourinho e um sobretudo Armani, com 40 graus de temperatura lá fora, não vem nada a calhar.
(Um piano no Starbucks)

quarta-feira, novembro 29, 2006

Lisa Germano ao Vivo - Theatro Circo, Braga


Lisa Germano apresenta hoje à noite, pelas 23h59m (!!!), o seu mais recente trabalho - In the Maybe World - no Pequeno Auditório do Theatro Circo em Braga. Um espectáculo de culto a não perder para amantes de sons alternativos.
Capa de In the Maybe World

sexta-feira, novembro 17, 2006

Colorado City: A Poligamia entre os Mórmon

Mais uma crónica da viagem realizada em Agosto... desta vez sobre o suculento tema da Poligamia!

A longa faixa de terreno entre a fronteira do Utah e o Grand Canyon do Arizona é praticamente desprovida de população. Nesse pedaço de território esquecido situa-se a infame localidade de Colorado City, um dos últimos redutos de poligamia entre os Mórmon. Apesar de proibida oficialmente em 1890, a poligamia continua a ser praticada por grupos marginais (alguns diriam fundamentalistas) ligados à religião criada por Joseph Smith.

Colorado City é um lugar estranho, com ruas muito largas, demasiado largas para um localidade com apenas 6000 habitantes, e uma proporção anormal, para o contexto americano, de moradias com dois pisos. Manda a tradição que no rés-do-chão morem as mulheres com filhos e no piso superior, aquelas que ainda não os têm.

A localização estratégica de Colorado City, na fronteira entre o Utah e o Arizona, permitia que, sempre que as autoridades do Utah perseguiam os polígamos de forma mais acérrima, estes atravessassem a fronteira à procura de refúgio no estado vizinho, aproveitando o relativo mau relacionamento entre as autoridades respectivas. Quando estas começaram a colaborar, os homens de Colorado City foram obrigados a “dar corda aos sapatos” e abandonar os seus lares. Por essa razão, a proporção de mulheres e crianças é significativamente maior do que seria de esperar.

Contudo, o assunto da poligamia está longe de ser pacífico, já que as famílias argumentam que as práticas poligâmicas são voluntárias e que ninguém é obrigado a ser polígamo. Além disso, a prisão dos homens polígamos resulta no abandono de mulheres e filhos, o que é mais prejudicial para estes últimos do que seria a vivência numa sociedade poligâmica. Todavia, os actos dos próprios chefes de família acabam por dar razão aos que se opõem à poligamia. Num caso relatado num canal de televisão americano, um homem tomou para sua quarta esposa uma rapariga de apenas 13 anos, o que levanta de imediato preocupações com práticas de pedofilia. Como as comunidades poligâmicas tendem a ser extremamente fechadas, os pedidos de maior empenho nas investigações do Ministério Público no sentido de perseguir os polígamos não param. A polémica segue dentro de momentos…

A Slight Case of Paranoia

A entrevista de Santana Lopes com Judite de Sousa dava um excelente estudo de caso para a especialidade de Psiquiatria...

quarta-feira, novembro 08, 2006

O Diabo Veste Prada


O Diabo Veste Prada é um filmezinho interessante. Mereceria umas três estrelas em cinco possíveis pela brilhante Meryl Streep, pelo guarda-roupa, pelos Manolo Blanick e pelos Jimmy Choo e, claro, por New York. Como todos sabem, Meryl Streep é uma actriz do outro mundo e neste filme tem um par de momentos inesquecíveis em que me fez lembrar outro "monstro" do cinema: Bette Davies em All About Eve.

Mas Streep não tem culpa do argumento impregnado de um moralismo bacôco de O Diabo Veste Prada. Alguém no seu devido juízo recusaria uma ascensão meteórica no mundo da moda por uma questão de princípios, ainda por cima duvidosos? A personagem de Andrea (Andy) está cheia de equívocos. Durante 90% do filme está longe de demonstrar conflitos interiores profundos sobre a sua ascensão profissional. Mais do que isso, parece deliciar-se com os pequenos sucessos que vai obtendo no dia-a-dia. Por essa razão, o final parece-me completamente inconsistente com o retrato da personagem que é construído ao longo da película.

A mensagem final - uma certa superioridade moral de Andy - é absolutamente execrável. Alguém que tenha uma profissão minimamente competitiva sabe que muito frequentemente é inevitável concorrermos contra pessoas de quem gostamos. A minha própria carreira é disso exemplo. Neste momento, os quadros de vagas do meu departamento estão preenchidos, pelo que a única forma de uma vaga ser libertada é alguém reformar-se, despedir-se ou morrer. Qualquer uma destas situações é bastante improvável. Dado este número limitado de vagas, o mais provável é que eu próprio tenha de concorrer, imagine-se, com o meu padrinho de casamento por uma delas. Muito possivelmente, o Luís e a Rosa também competirão entre si, mas não estou a ver nenhum de nós assoberbado por dramas existenciais ou pseudo-complexos de culpa.

sexta-feira, outubro 27, 2006

Monument Valley

A visita a Monument Valley foi feita com um tempo pouco convidativo, mas, apesar disso, é impossível ficar indiferente à imensidão entrecortada por formações rochosas invulgares. Embora se chame um “vale”, Monument Valley não é verdadeiramente um vale, mas antes um planalto que a erosão transformou numa planície com formações rochas enormes (mesas e agulhas).

A viagem de Blanding até Monument Valley passa por Valley of the Gods, uma paisagem quase irreal, dificilmente imitável à face da Terra. Em apenas três quilómetros, a estrada desce 300 metros, desde Muley Point até Valley of the Gods. Apesar da desolação, ou se calhar por causa dela, este local continua a ser para mim um dos mais belos do mundo. Na foto de cima, a Ana admira a paisagem. Tirando alguns veículos ocasionais, passam-se milhas e milhas sem se ver um único ser humano. Estamos muito longe do turismo de massas e este local é um descanso, para o corpo e para a alma!

Desde o final da mítica estrada 261 até Monument Valley são mais 24 quilómetros, sempre na Reserva dos Navajos, a tribo (ou Nação) Navajo continua a viver da exploração do turismo. Os preços até nem são elevados e o menu tem especialidades curiosas, como sejam… um bife Sylvester Stallone ou uma sandwich Tom Hanks! Espreitam lá a ementa...

sexta-feira, outubro 20, 2006

Arches National Park (Utah)

The Windows (Janela Norte e Janela Sul) no magnífico Parque Nacional dos Arcos, perto de Moab (Utah). Criados pela erosão de milhares de anos, estes arcos são um dos pontos mais carismáticos deste parque nacional. Reparem só no tamanho das pessoas por baixo dos arcos gigantescos... parecem formiguinhas!

quarta-feira, outubro 18, 2006

Capitol Reef Canyon (Utah)


Chamem-me masoquista, mas há qualquer coisa que me atrai na América profunda, aquela que é preconceituosa, desconfiada dos estrangeiros, pouco educada e rude q.b. Não é inexplicável. Por azar essa América é também linda! As paisagens naturais são de uma beleza indescritível, que nenhuma das fotos que publique neste blogue pode transmitir. A primeira foto deste post mostra o Aquarius Plateau, um planalto terra-de-ninguém no Sul do Utah. Em nenhum outro local dos EUA se sente o isolamento e a distância da civilização e as cores da natureza assumem aqui grande esplendor.

O dia começou em Salina, uma pequena localidade e terminou em Green River, outra pequena localidade do Utah. Pelo meio, o Capitol Reef Canyon. Apesar de alguma experiência em viagens deste género, nunca tinha caminhado no fundo de um canyon. A sensação é esmagadora. As paredes laterais altíssimas e os constantes avisos “Danger! Flash Floods!” podem dissuadir alguns turistas. Nós arriscamos. Na segunda foto podem ver (se a ampliarem) a Ana a caminhar de costas para a objectiva. Ela não está longe. A dimensão gigantesca do canyon é que a faz parecer extremamente pequena.

No fundo do canyon, após uma longa caminhada, podemos encontrar o Mormon Pioneer Register, um conjunto de assinaturas na pedra datadas do final do século XIX, quando os pioneiros mormons atravessaram estas paragens em direcção ao Oeste.

quinta-feira, outubro 12, 2006

Bauhaus

Nunca houve uma banda igual. Muitos tentaram imitá-los, mas sempre com resultados patéticos. Todos os discos dos Bauhaus estão agora em promoção na Fnac do Gaia Shopping por apenas 7,50€. Entre originais, discos ao vivo e BBC Sessions, comprei o único que me faltava, cujo primeiro tema toca ali ao lado...

quarta-feira, outubro 04, 2006

Salt Lake City (Utah)

Em viagem pelo Mormon Country...

Apesar dos preconceitos, Salt Lake City é uma lufada de ar fresco, depois de tanto viajar por zonas rurais. Os monumentos mais famosos estão ligados aos fiéis da religião Jesus Christ of Latter Day Saints, mais conhecidos por Mórmon. Até o famoso Delta Center, o gigantesco pavilhão onde joga habitualmente a equipa de basquetebol profissional dos Utah Jazz, está, pelo menos indirectamente, relacionado com a religião, já que a maioria dos jogadores são, também eles, Mórmon.

Como em Roma sê Romano, em Salt Lake City sê Mórmon. Fomos visitar o Museu da História da Igreja para conhecê-la, pelo menos sob o ponto de vista dos próprios crentes… Muita simpatia à entrada e, ao longo do percurso, vários guias para esclarecerem as dúvidas do visitante: “Este aqui é o relógio do John Taylor!”. Surpreendido, fico a olhar com cara de quem não entende. “Quem terá sido este tipo” – penso eu. A resposta vem mais adiante. O massacre que acabou com a vida de Joseph Smith, profeta e fundador da Igreja Mórmon, deixou vivo um dos primeiros seguidores, John Taylor, graças ao tal relógio que desviou a bala! Sigo o meu caminho a pensar que já não se fazem relógios como antigamente...

A História desta religião é igual à de todas as outras: um profeta inspirador e visionário, aumento rápido do número de seguidores, perseguições por desconfiança e inveja, assassinato do profeta e mais perseguições, sempre em busca da terra prometida. Que a terra prometida seja Salt Lake City já é menos compreensível, mas talvez isso explique por que razão ninguém quis expulsar os Mórmons de Salt Lake. Depois de conhecer Salt Lake percebo porquê. Quem gostaria de morar em Salt Lake?!

PS: A primeira foto mostra os contrastes em Salt Lake City. Dois edifícios históricos dos Mórmon e, por trás, o novo e gigantesco Mormon Administrative Center. A segunda foto revela o exterior do Tabernáculo Mórmon de Salt Lake City. O interior só é acessível aos membros da religião. A última foto foi tirada junto à Lion House, construída por Brigham Young para as suas mulheres e filhos. Se quiserem ler detalhes sobre a prática da poligamia, basta clicar na imagem.

PS2: No espírito da tolerância religiosa e do entendimento entre culturas, adquiri e estou a ler a obra Mormon Country (1942) de Wallace Stegner.

segunda-feira, setembro 25, 2006

Middlesex


Já alguma vez sentiram saudades de um livro? Acabei de ler Middlesex no sábado e já sinto saudades dos personagens e do enredo. Este é um trabalho notável, não só pelo tema insólito que retrata, mas sobretudo pelo relato da longa sequência de eventos que conduz à revelação de um terrível segredo familiar. Com esta obra, Eugenides venceu merecidamente o prémio Pulitzer de 2003 para melhor obra de ficção.

Apesar da sua dimensão (530 páginas), ou se calhar por causa dela, a obra de Jeffrey Eugenides é de “ler e chorar por mais”. Eugenides escreveu apenas dois livros, ganhando reputação de forma instantânea com o seu As Virgens Suicidas, mais tarde adaptado ao cinema por Sofia Coppola. Middlesex é um livro que também implora ser transformado em filme, mas talvez pelo pai de Sofia, já que relata a saga de uma família de imigrantes gregos na América.

O que torna Middlesex uma peça literária única é o seu tema. A personagem principal, Calliope, nasce e é criada até aos 14 anos como rapariga; apenas com a chegada da puberdade se descobre a incrível verdade: Calliope é hermafrodita; exteriormente (quase) aparenta ser mulher, mas interiormente é homem, possuindo testículos que nunca chegaram a descer e, também por essa razão, não permitiram uma identificação atempada do sexo da criança.

O tom do enredo oscila entre uma comédia e uma tragédia grega, com momentos de soap opera americana. Uma delícia!

quinta-feira, setembro 14, 2006

Milão - Barcelona

Os poucos que responderam preferiram Barcelona. Aqui fica a avaliação detalhada e... subjectiva.
1. Beleza humana: Milão
Milão é a capital da moda e, só por isso, já seria uma cidade repleta de gente bonita, mas as italianas e os italianos capricham MESMO na forma de vestir.
2. Arquitectura citadina: Barcelona
Aqui sobram poucas dúvidas. A Barcelona de Antoni Gaudí é maravilhosa em termos arquitectónicos. O Parque Güell, a Sagrada Família, a Casa Milà (La Pedrera), entre muitos outros edifícios, dão a Barcelona um charme fantástico e surreal que é inesquecível. Milão, apesar de alguns edifícios interessantes sob o ponto de vista arquitectónico, está longe de poder competir.
3. Comida: Milão
Por lapso, cheguei a pedir Pasta Carbonara em Milão. Fui informado educadamente que (ler em Inglês com sotaque Italiano) "that pasta is not from this region". Mas a pasta daquela região é uma delícia. Há uma certa "unidade" na cozinha regional italiana que está ausente da comida catalã. Com o meu gosto por massas, natas e queijos, Milão ganha à vontade.
4. Metropolitano: Barcelona
Aqui a coisa complica-se. Nenhuma das redes de metropolitano é parecida com a de Moscovo, mas a de Barcelona impõe-se pela existência de ar condicionado permanentemente ligado, melhores carruagens, melhores passageiros e mais turistas. Milão que me desculpe, mas ainda não percebi qual é a ideia de abrir todas as janelas em todas as carruagens quando se anda a alta velocidade debaixo da terra...
5. Compras: Milão
Um Centro Comercial só com lojas Armani e a representatividade das marcas mais luxuosas (Gucci, Carolina Herrera, Louis Vuitton, Bvlgari, etc) permitem a Milão vencer Barcelona sem grande dificuldade.
6. Catedral: Milão
A Sagrada Família é uma obra impressionante pela sua dimensão e megalomania, é sobretudo encantadora por Gaudí pretender imitar as grandes catedrais da Idade Média em tamanho e tempo de construção. Neste momento, estão prontas 8 das 16 torres previstas e a construção já dura há mais de 100 anos. Acontece que a construção do Duomo (Catedral de Milão) foi iniciada em 1390 e terminada em 1817, tendo demorado quase quatro séculos e meio a terminar. Dada a duração do projecto, a Catedral de Milão resulta de uma mistura de estilos, embora o gótico seja predominante. A dimensão do Duomo é impossível de descrever em palavras. Para comprenderem melhor, basta dizer que as visitas ao telhado são um must e chegam a andar centenas de pessoas pelo telhado sem que este pareça sobrelotado.
7. Parque Automóvel: Milão
Passeava em frente ao Scala de Milão quando pararam num semáforo dois Porsches e um Ferrari entre eles. É preciso dizer mais alguma coisa?
8. Vida nocturna: Barcelona
Barcelona ganha por KO. Neste âmbito, a oferta é muita e diversificada e a localização da cidade, o clima e a mentalidade liberal transformam Barcelona na cidade mais aliciante para sair à noite e até de manhã.
9. Museus e actividade cultural: Barcelona
Aqui a preferência é pessoal. As pinacotecas e a Arte do Renascimento em Milão não me encantam por aí além, ao passo que o Museu Picasso, o Museu Dali e a Casa de Gaudí apresentam exposições que alimentam os meus olhos, o coração e a alma.
10. Equipa de futebol: Barcelona
A parada de estrelas em Milão é imensa. Entre a Internazionale e o A.C.Milan, a cidade é completamente fanática, não sendo por acaso que lhes chamam tiffosi. Em Barcelona, as estrelas da bola não são propriamente frequentadores da passerelle, mas sim verdadeiros artistas da bola. Relembro alguns: Ronaldinho, Deco, Messi, Eto'o, Iniesta, Giuly. Entre Milão e Barcelona... Barcelona sempre!
11. Estacionamento: Barcelona, apesar de tudo
O caos nas duas cidades é imenso, mas Milão desafia tudo que possam ter visto até hoje. Estacionar "de ouvido", estacionar de frente num local onde só cabe um Smart, acelerar nas passadeiras, estacionar nas mesmas, passar sinais vermelhos, vi de tudo em terras milanezas.

Resultado Final: Barcelona 6 Milão 5

segunda-feira, setembro 11, 2006

Milano - Barcelona

Duas cidades fantásticas competem num mini-concurso bloguístico para determinar qual a melhor. Aqui fica a lista dos 11 itens a avaliar:

1. Beleza humana
2. Arquitectura citadina
3. Comida
4. Metropolitano
5. Compras
6. Catedral
7. Parque Automóvel
8. Vida nocturna
9. Museus e actividade cultural
10. Equipa de futebol
11. Estacionamento

Votem através de comentário ou email (umpianonafloresta@gmail.com)

segunda-feira, setembro 04, 2006

Milano


Depois de uma divertida troca de impressões com a Inês sobre as bolachas Milano, posso agora confirmar que vou saborear a verdadeira Milano, a partir de amanhã e até ao próximo Domingo.

Com a sua mania das grandezas, o European Group of Public Administration decidiu reunir em Milão, de 6 a 9 de Setembro. É a minha primeira ida a Itália e nem o habitual nervoso miudinho, associado à apresentação pública do artigo "Regional Partnerships and Co-operation between Portuguese Municipalities: Recent Experiences in Service Delivery", impedirá um par de crónicas bloguísticas.

A publicação das crónicas americanas, totalmente escritas ao longo do mês de Agosto, será retomada após a conferência.

Boa semana para todos!

Crónicas Americanas 4: Montpellier (Idaho)


Abandonamos o Parque Nacional do Yellowstone pelo sul, passando por um outro parque nacional - o Grand Teton - cujo elemento mais marcante é a impressionante cadeia montanhosa que vêem na imagem. O Teton Range ultrapassa em vários pontos os 4 mil metros acima do nível do mar (mais do dobro da Serra da Estrela) e a paisagem tem elementos em comum com as Rochosas do Canadá, já que é também marcada por lagos resultantes do degelo dos glaciares.

O Estado Americano do Idaho é famoso pela qualidade das suas batatas, promovidas até nas matrículas dos automóveis! É o único local do mundo em que Montpellier fica a norte de Paris. É também a única forma de Montpellier ser maior do que Paris.
A paisagem é aqui composta por quintas e ranchos e pequenas localidades que nunca chegam a ultrapassar as duas ou três centenas de habitantes. Em contraste, Montpellier tem 2250 habitantes, uma "metrópole" que oferece comida, quarto e outros serviços úteis. Por comparação com Cody, os preços baixaram para metade. O quarto custa aqui 65 dólares (aproximadamente 50 euro), mas a qualidade é até ligeiramente superior, talvez devido ao facto do hotel ser novo.

Bem-vindos ao Idaho!

Nota: Obrigado a todos pelos vossos comentários às entradas anteriores. Gostaste dos bisontes? Toma lá mais esta!

sexta-feira, setembro 01, 2006

Crónicas Americanas 3: Parque Nacional do Yellowstone


O Parque Nacional de Yellowstone é a jóia da coroa dos parques nacionais dos Estados Unidos. Absolutamente maravilhoso. Uma paisagem composta por géisers, fumarolas e nascentes de água quente torna o Yellowstone um local quase único no mundo, apenas comparável a certas áreas na Islândia e na Nova Zelândia. A razão deste cenário é a gigantesca cratera vulcânica com aproximadamente 3500 quilómetros quadrados que é totalmente abarcada pela delimitação do Parque. As erupções vulcânicas sucedem-se em intervalos de aproximadamente 600 milhões de anos. A primeira há 2 milhões de anos, a segunda há 1,3 milhões e a última há 640 milhões de anos, pelo que a próxima poderá estar iminente. Das dezenas de exemplos possíveis, o mais famoso dos elementos desta “explosiva” paisagem é o géiser “Old Faithful” (“Velho Fiel”), que, fazendo jus ao nome, permanece activo de 90 em 90 minutos.

A vida selvagem é abundante e diversificada: bisontes, alces, veados, ursos pretos e grizzlies, lobos, coiotes, cisnes trombeteiros e pelicanos. O mais incrível é que muitos destes animais se passeiam pelo Parque sem qualquer receio dos seres humanos (e dos automóveis). Os bisontes, em particular, são tão aparentemente dóceis, que não surpreende que tenham sido caçados quase até à extinção. O cenário da foto é esclarecedor.

Menos espectacular, mas de uma serenidade idêntica à sua dimensão, é o Yellowstone Lake. É o maior lago de montanha da América do Norte, com 32 quilómetros de comprimento, 22 de largura e 50 metros de profundidade média. A temperatura média à superfície em Agosto é de 12 graus centígrados. Os seus habitantes mais conhecidos são as trutas, de uma espécie nativa, que servem de alimento aos pelicanos brancos que também abundam pelo Parque.

Aproveitei a margem do lago para recuperar forças e absorver inspiração neste local magnífico.