quinta-feira, setembro 29, 2005

Crónicas de Berlim IV

Impressiona pela positiva a ausência de pobreza, pelo menos pobreza visível. A quantidade de construção é notória, ultrapassando Lisboa em época de autárquicas! Daí que Berlim seja conhecida pela cidade da “mudança constante”, umas vezes intencional, outras vezes forçada. A cidade é limpa e não faltam restaurantes e cafés, bem como todas as lojas de marcas reputadas em todo o mundo. Nesse aspecto, a Friedrichstrasse é o lugar cosmopolita por excelência, mas a Unter Den Linden e a Wilhemstrasse são concorrentes directas pelos turistas.

E, por falar em turistas, a quantidade de pessoas que passeia por Berlim no fim-de-semana da famosa Maratona é absolutamente incrível. Só Deus saberá o que leva 40000 (quarenta mil) atletas a correr e 1.000.000 (sim, um milhão) de pessoas a assistir a uma corrida que dura 42 quilómetros, só se vêem os atletas passar uma vez e raramente envolve qualquer tipo de emoção ou incerteza no seu final. Qualquer outra especialidade do atletismo é mais emocionante, do salto em altura ao lançamento do dardo, dos 110 mtros barreiras aos 5000 metros. Ainda dizem que a Fórmula 1 é monótona porque os carros dão 70 voltas ao mesmo traçado…

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A Avenida do 17 de Junho vista do alto da Coluna Triunfal, com a meta da Maratona de Berlim já devidamente identificada a meio, a Porta de Brandenburgo ao fundo e a Torre de Comunicações da Alexander Platz ao fundo sobre o lado esquerdo

quarta-feira, setembro 28, 2005

Crónicas de Berlim III

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Fora a questão da língua, há o eterno problema da história. Os alemães não assumem plenamente a sua história, tal como é afirmado por Werner Sikorski e Rainer Laabs no livro “Checkpoint Charlie and the Wall: A Divided People Rebel” que adquiri durante a estadia. Os autores criticam a inadequada identificação dos limites do Muro de Berlim. Quinze anos após a queda do Muro, só existe um pequeno Memorial às vítimas na Bernauer Strasse e as antigas fronteiras que separavam Berlim Leste de Berlim Oeste quase desapareceram por completo, de modo que a única maneira de saber exactamente por onde passava o Muro é comprar mapas ou livros em lojas de souvenirs.

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Quanto aos factos que se referem à II Guerra Mundial, a noção de história é ainda mais traumática. A certa altura, no Museu do Cinema Alemão pode ler-se: “(…) quando os Nazis invadiram a Polónia”. Parece-me que foi a Alemanha que invadiu a Polónia, e não apenas os Nazis. Tendência para o esquecimento ou lapsus linguae? Seria o mesmo que afirmar, no caso Português, “quando os monárquicos conquistaram África”, o que não faz qualquer sentido…

terça-feira, setembro 27, 2005

Crónicas de Berlim II

A cidade é cosmopolita q.b., mas há aspectos que os alemães têm de corrigir, se quiserem ver Berlim a concorrer directamente com Paris ou Londres para capital da Europa. Como sabem, o alemão não é uma língua fácil. No entanto, os alemães parecem esperar que todos os turistas saibam a língua de Goethe. De facto, não só é raro encontrar um alemão que fale correctamente inglês, como na maioria dos casos não sabem nem se esforçam muito por comunicar. A certa altura quase dá vontade de desabafar em bom português: “Raios-o-partam! Mas você quer ou não fazer negócio?!”

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Potsdamer Platz

Crónicas de Berlim I

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Uma semana em Berlim serviu para ficar com um conhecimento relativamente detalhado da cidade. A Porta de Brandenburgo é absolutamente magistral e gloriosa, a Potsdamer Platz é plena de arquitectura ultra-moderna e irradia confiança no capitalismo financeiro, a Alexander Platz é dominada pela sua Torre de Telecomunicações, visível de qualquer local na cidade, mas foi a Coluna Triunfal que me conquistou. A sua imponência é quase indescritível. Já conhecia este marco dos excelentes filmes de Wim Wenders, “As Asas do Desejo” e “Tão Longe, Tão Perto”, mas o impacto visual deste monumento, pela localização, pelo tamanho e pelo resplandecer do sol no dourado da estátua da Deusa Vitória é mais arrebatador do que poderei descrever e as fotos demonstrar.

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sábado, setembro 24, 2005

"You are leaving the American sector"

Na Bernauer Strasse, visitei o memorial das vítimas do Muro de Berlim, alemães do leste que desejavam passar para Berlim Ocidental e foram abatidos na sua luta pela liberdade.

Nos últimos dias, passar diariamente no Checkpoint Charlie relembra-me quão precária é a liberdade e a importância de preserva-la... sempre.

quinta-feira, setembro 22, 2005

Eu sonhei ou...

Estou longe de Portugal, mas, num delírio onírico, constou-me que Fátima Felgueiras voltou a Portugal e näo está presa. Por outras palavras, andou a viver mais de um ano a boa vida no Brasil, regressou agora e, como prémio, foi libertada. Tenho várias observacöes...

1. Para que serve a medida de coaccäo "prisäo preventiva", se as pessoas podem fugir para um país estrangeiro e regressar a tempo do julgamento?

2. Vivemos na república das bananas. É um facto consumado e näo vale a pena nega-lo. Mas... quando é que será que os portugueses, todos os portugueses, iräo aprender a näo votar em quem os engana?

3. Caros habitantes de Felgueiras, Gondomar, Oeiras e outras terras com Presidentes de Camara sob suspeita: o país está mal? A crise nunca mais termina? É bem feito! A estupidez e a ignorancia daqueles que elegem estes políticos só merece a mediocridade, a pobreza e o subdesenvolvimento. É assim que votam, é essa merda que levam.

Ass: Um cidadäo revoltado.

quarta-feira, setembro 21, 2005

Starbucks

Sentado num confortável sofá no Starbucks da Friedrichstraße, questiono-me quanto custará o franchising da representacäo da marca para Portugal... É que ir ao Starbucks näao significa apenas tomar um café! Para além dos tamanhos (short, tall, and grande) e dos estilos (Expresso, Americano, Capuccino, Macchiato, Moka Latte - há também as fatias de bolo (originalíssimas), os donuts, os bagels, os brownies, os chocolate chip cookies entre muitas outras variedades de doces, capazes de levar os diabéticos à desgraca...

Mas é sobretudo no ambiente que os Starbucks derrotam esmagadoramente os cafés tradicionais portugueses. Nos Starbucks mais espacosos, há uma sala de leitura com sofás/maples individuais de grande conforto, revistas e jornais diários gratuitos de todos os tipos e música ambiente.

Acreditem no que digo: quem tiver dinheiro para investir neste franchising em Portugal pode fazer fortuna. Se abrir um para os meus lados, serei certamente cliente habitual!

domingo, setembro 18, 2005

Berlin

"Came to your border
Looking back into the night
Falling down on the city lights far away
Tell me the answer
Who knows the wrong from the right?
Years may come and years they go
You've seen your bridges burning
And the wheels of time keep turning

Like a ship in the night
You passed along the highways of my life
And now my mind you're always in
And the ten-thirty flight will soon be headed my way
As she sails across the skyway of Berlin

Oh, and to think of all the changes you have seen
Oh, and reflect upon the way it might have been

Like a ship in the night
You passed along the highways of my life
And now my mind you're always in
And the ten-thirty flight will soon be headed my way
As she sails across the skyway of Berlin"

Berlin by Barclay James Harvest

quarta-feira, setembro 14, 2005

Jukkasjärvi, Suécia (republicado)

O autor deste blog armado em Pai Natal numa quinta de criação de renas em Jukkasjärvi, no norte da Suécia.
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Respondendo às questões da curiosa:
P: Como era a quinta?
R: Muito bonitinha, com umas tendas a lembrar os índios, mas que eram propriedade dos lapões (sami). Havia uma apresentação em vídeo sobre a criação de renas e as migrações de Verão e de Inverno, bem como explicações sobre as diversas utilizações das peles, a conservação de comida e dicas culinárias.
P: Qualquer um podia lá entrar e tocar nas ditas? Pagava-se?
R: Pagava-se para entrar na quinta e só se podia entrar no cercado onde estavam as renas com uma guia sami. Não me lembro quanto paguei, talvez uns 10 euro no máximo...
P: Que precauções era preciso tomar?
R: A única precaução que tive foi não levar com uma "chifrada"... Sabiam que os chifres das renas têm pêlo em determinadas alturas do ano?
P: Como descreverias, psicologicamente (não gozes) uma rena?
R: Bem, eu não sou psicólogo. Para isso deveria perguntar à Loopy. Achei que eram animais pacíficos, um bocadinho assustadiços e com grande vontade de comer ervas, como aliás a foto demonstra. A pele é muito macia e não resisti a comprar uma lá para casa. Imagina só as possibilidades... Como as renas são animais de criação para alimentar seres humanos e a pele é aproveitada para agasalho, acho que a sociedade protectora dos animais não ficará muito aborrecida...

domingo, setembro 11, 2005

Do leitor de cds

Respondendo ao desafio do Nuno, aqui vão as últimas notícias do meu leitor de cds:

5 álbuns:

The Arcade Fire - Funeral (ainda e sempre...)
Louis Moureau Gottschalk - Piano Music
Elizabeth Anka Vajagic - Nostalgia/Pain
Sam Shalabi - On Hashish
Magazine - Real Life (é velhinho, mas é um clássico new wave...)

5 canções:

The Arcade Fire - Tunnels
Eels - Old Shit/New Shit
Magazine - The Light Pours Out of Me
Antony and the Johnsons - Fistfull of Love
Mazzy Star - She Hangs Brightly

E como é preciso passar isto a alguém, cá vão as minhas "vítimas": Pedro, Elsa, Nazaré, Alex e a incontornável Pec.

quarta-feira, setembro 07, 2005

Será a isto que chamam multiculinarismo?

Estava eu numa espera de 4 horas no aeroporto de Frankfurt, quando decidi saborear um excelente sushi na praça da alimentação. Durante o belo repasto, passa por mim um japonês com um prato cheio de batatas fritas e frango de churrasco. Este episódio despertou-me a uma dúvida existencial:

Será que os japoneses olham para uma refeição ocidental como nós olhamos para o sushi, como algo exótico?

Kraków

Uma cidade muito bela. A localização nas margens do rio Vístula (Wisla) é perfeita e a praça central de Cracóvia extremamente relaxante e repleta de esplanadas convidativas para desfrutar de uma refeição, um gelado ou uma cerveja polaca (Tyskie, Zywiec ou Okocim são as marcas mais representadas). O sofrimento na Escandinávia com preços elevadíssimos e incomportáveis para uma carteira portuguesa, deu aqui lugar ao arrasador poder de compra do euro sobre o zlot. Refeições completas em esplanadas confortáveis por 50 zlots (aproximadamente 12 euro) é definitivamente pouco dispendioso. Além disso, uma cidade que oferece entretenimento de rua com temas de Vivaldi tocados em violino ou Haydn em trompete merece uma prolongada vénia.

domingo, setembro 04, 2005

Oświęcim

So aparentemente e que Oświęcim e uma cidade igual as outras cidades de tamanho semelhante (75000 habitantes). Aqui tiveram lugar os actos mais atrozes de toda a historia da humanidade. Mentalizei-me para o que ia ver. Mas nenhuma reflexao previa nos prepara para o que vamos ver.

Auschwitz I e brutal. No bloco 11 decorriam os julgamentos sumarios de prisioneiros rebeldes, seguidos invariavelmente pela tortura e execucao por fuzilamento. Fome, falta de ar e celas quadradas com 1m de lado eram apenas algumas das formas de sadismo que os nazis aplicavam em Auschwitz I. Outras imagens marcam a visita: as pilhas de sapatos, pentes, escovas de dentes, xailes de oracao e cabelos(!) sao arrepiantes e servem como dolorosa imagem de um passado que nunca devera ser esquecido.

Se Auschwitz I e chocante por aquilo que mostra, Auschwitz II (Birkenau) arrasa-nos o espirito pelo que oculta. Mais de 300 barracas/blocos, cada um com "capacidade" para 400 prisioneiros, chegavam a albergar mais do dobro. Muitos blocos ja nao existem, mas as chamines subsistem, como para provar a extensao do campo. As camaras de gas/crematorios, pelo contrario, foram demolidas pelos nazis em retirada. Ouvir a guia afirmar que, na vespera da libertacao, uma das camaras de gas ainda funcionou, foi demasiado para mim. Sai do campo com um no na garganta...

Auschwitz I era um quartel do exercito da Polonia que foi transformado em campo de concentracao pelos nazis para albergar, inicialmente, prisioneiros politicos. Birkenau foi criado propositadamente para o exterminio e e esse facto que torna o campo mais impressionante e revoltante. A linha de caminho-de-ferro que termina dentro do campo e um caminho sem saida, um trilho de morte. Mesmo hoje, a vida parece continuar ausente. Nao ha animais de qualquer especie no campo, o que adensa a atmosfera ja de si pesada. Embora o campo tenha dezenas de quilometros a ceu aberto, a sensacao e sufocante. Foi arrasador. Nunca senti nada parecido com isto.

quinta-feira, setembro 01, 2005

Cracovia

Socorro! Os acentos estao completamente ausentes deste teclado!

Estou em Cracovia, na Polonia, para a V Conferencia da European Society of Criminology. A apresentacao do nosso artigo "Reckless Driving in Portugal: The Deterrent Impact of Increased Penalities on Traffic Accidents" correu da melhor maneira e os comentarios que obtivemos foram positivos. Numa entrada proxima farei uma descricao mais detalhada do artigo e das nossas conclusoes.

Se exceptuarmos os acontecimentos da II Guerra Mundial e o premio Nobel a Lech Walesa e o seu papel no sindicato "Solidariedade" na "ocidentalizacao" do pais, confesso que conheco pouco da Polonia.

As primeiras impressoes revelam um povo extremamente simpatico e solicito para com os estrangeiros, ainda que algo incomodado com o seu passado, sobretudo o passado recente sob dominio sovietico. Prova disso sao as constantes referencias na literatura turistica ao fim do mercado negro nos cambios, que desapareceu ha 15 anos! Imagino que, antes de 1989, o negocio devia florescer, a julgar pelas casas de cambio porta-sim, porta-nao, que se encontram no centro da cidade. Duas perguntas derivo daqui: Negocios do mercado negro que foram convertidos em casas de cambio legitimas? O que vai esta gente fazer quando o euro for adoptado pela Polonia?