sexta-feira, abril 25, 2008

4. Persona (1966) - Ingmar Bergman


Persona é provavelmente um dos filmes mais "difíceis" que já vi. Para além da surreal sequência de abertura, que mistura uma crucifixão, uma tarântula, um pénis erecto, uma ovelha a ser abatida, excertos de filmes mudos e vários corpos inertes/mortos em camas de hospital, o filme é trespassado por uma aura misteriosa e demencial. Bergman não é um cineasta fácil. Já o sabia. Mas Persona é, de entre os objectos cinematográficos do autor, o mais intrigante.

Elizabeth Vogler (Liv Ullmann), uma actriz que interpreta o papel de Elektra numa peça deixa subitamente de falar e é internada num hospital. Alma (Bibi Andersson) é a enfermeira encarregue de cuidar de Elizabeth, acabando ambas por se instalarem numa casa de praia da directora do hospital. Ao longo do seu contacto, a enfermeira fala com Elizabeth como se ela fosse sua interlocutora e revela-lhe as suas experiência sexuais precoces e um aborto ocorrido na sequência de uma relação com um homem casado, entre outros sentimentos e emoções.

Após meses sem que Elizabeth pronuncie uma palavra, Alma oferece-se para depositar no correio a correspondência pessoal da actriz. Movida pela curiosidade, acaba por ler a carta dirigida à administradora, na qual Elizabeth afirma estudar em detalhe o comportamento da enfermeira. A partir deste momento, a personagem de Alma transfigura-se por completo, passando a expressar o seu ódio e desprezo pela actriz.

O aspecto mais complexo do filme reside no facto de, sobretudo após a leitura da carta, as personalidades de Elizabeth e Alma se confundirem, ao ponto de confundir o espectador sobre quem exerce a actividade profissional e quem é a paciente (um fenómeno designado de transferência em psicanálise). Mais do que isso, uma interpretação alternativa sugere que as duas personagens são uma só pessoa, sendo Elizabeth a pessoa "interior" e Alma a sua versão "exterior" ou "revelada". Várias cenas ao longo do filme contribuem para algum fundamento desta explicação.

Para mais informação e "interpretações alternativas" sobre Persona, aconselha-se a leitura do longo artigo em inglês na Wikipedia.

terça-feira, abril 22, 2008

The Birth of a Nation (1915) - D. W. Griffith

No passado dia 9 de Abril comemoraram-se 143 anos do fim da Guerra Civil Americana, tantos quantos nos separaram, no dia 14 de Abril, do assassinato do Presidente Abraham Lincoln. Foi com alguma dose de coragem que cometi a proeza de ver, sem interrupções, a versão original e integral (duração superior a 3 horas) de “O Nascimento de uma Nação” (The Birth of a Nation) (1915) de Douglas W. Griffith.

O filme encontra-se dividido em duas partes, iniciando-se com o dealbar da Guerra Civil, retratando o assassinato do Presidente Lincoln e culminando com o período da Reconstrução no pós-guerra. A história das famílias Cameron (do Sul) e Stoneman (do Norte) é contada sob a perspectiva da primeira, pelo que o filme está embebido de um racismo quase omnipresente, visível nos textos e nas representações caricatas nos negros, quase sempre associados a comportamento patetas e destituídos de significado racional. Nesse aspecto, o filme é quase obsceno para os dias de hoje, mas não deixa de ser um documento histórico, sobretudo no modo como retrata a visão transmitida pelos brancos colonizadores e pró-esclavagistas no tempo em que a acção decorre e mesmo no momento em que a obra foi realizada.

The Birth of a Nation é igualmente famoso pelo tratamento nobre que dá à Ku Klux Klan, retratando a organização como defensora da ordem e da democracia, contra a anarquia representada pela atribuição do poder aos negros no pós-Guerra Civil. No entanto, esta organização racista e segregacionista viria a ser responsável, ao longo dos seus mais de cem anos de existência, por centenas de episódios criminosos contra os negros do sul dos Estados Unidos.

Os meios utilizados são notáveis: 5000 cenas diferentes, 1357 planos individuais, 18000 actores e figurantes, 3000 cavalos e 7 meses de produção. Para compreenderem quão extraordinários são estes números, lembrem-se que o filme é considerado o primeiro grande épico do cinema mudo e foi realizado apenas três anos após o afundamento do Titanic! As notas da edição realçam igualmente que nenhum outro filme se pode gabar de um esforço tão gigantesco, sobretudo na actualidade, em que os meios digitais dispensam cada vez mais a presença do elemento humano nas cenas mais grandiosas.

Apesar das observações sobre a qualidade dos actores do cinema mudo serem, como é lógico, altamente subjectivas, não posso deixar de destacar a encantadora Lillian Gish. As suas expressões ternas e arrebatadas ainda hoje apaixonam e, correndo o risco de parecer ridículo, sinto-me enfeitiçado pelo seu desempenho. Tanto assim que já adquiri mais um par de filmes em que Lillian Gish é a actriz principal, também estes mudos e a preto-e-branco. O poder dos clássicos!

sábado, abril 05, 2008

Diário Mali (2003)

Não sei como é possível este disco ter-me passado ao lado. Diário Mali é uma colaboração de Ludovico Einaudi, um pianista italiano e do guitarrista Ballaké Sissoko, originário do Mali. Interpretações brilhantes, explorando diversos géneros músicais através do diálogo constante entre a guitarra acústica e o piano, transportam-nos mentalmente para as paisagens africanas dos nossos sonhos e dos nossos filmes predilectos.

Altamente recomendado para amantes, sonhadores e outros exploradores.