terça-feira, maio 23, 2006

O Narcisista

Viram o Prós e Contras de ontem? Fazer um programa sobre um livro já me parece de duvidoso interesse público, mas quando o livro é particularmente MAU, o programa torna-se uma perda de tempo. Ainda pensei que a ideia fosse discutir a qualidade do jornalismo e o papel das agências noticiosas, mas tudo isso foi esquecido, até pela apresentadora, na voragem narcisista do protagonista.

Há professores universitários que envergonham a profissão. O Prof. Manuel Maria Carrilho demonstrou ontem tudo o que um professor universitário se deve abster de fazer: emitir opiniões não fundamentadas, assentes em informação casuística, enviesada ou usada unicamente para sustentar opiniões tendenciosas sobre determinado assunto e fazer generalizações abusivas com base numa amostra não representativa (neste caso, uma amostra igual a um). Como teoria da conspiração não podia ser melhor; como estudo sério é um miséria.

Em nome da profissão, lamento, e peço desculpa a todos. Acreditem que a maioria dos professores universitários recolhe informação e utiliza os dados recolhidos para testar hipóteses derivadas da teoria, procurando abstrair-se de pré-conceitos. Aparentemente, o Prof. Carrilho estava distraído nas aulas de Metodologia de Investigação nas Ciências Sociais...

sexta-feira, maio 12, 2006

Crónicas da Província I

No dia em que se inicia a semana académica da Universidade do Minho, mais conhecida como Semana do Enterro da Gata, inicia-se também a publicação de um conjunto de pequenas crónicas sobre a minha vivência em Braga. Espero que gostem e critiquem.

Nas últimas semanas, a revista Visão tem publicado várias cartas de leitores furiosos com a TV Cabo pela retirada da programação de um canal brasileiro chamado GNT. Pelos elogios ao dito, depreendo que seja da melhor televisão que se faz no "país-irmão", mas confesso que nunca tive oportunidade de conhecer a grelha de programação. Aparentemente, os habitantes da capital estão reféns da TV Cabo. São as esperas intermináveis ao telefone, os funcionários rudes no atendimento, a falta de consideração pelas preferências dos tele-espectadores, entre muitas outras queixas que demonstram um conjunto de clientes à beira de um ataque de nervos.

Tudo isto a propósito de escolha. Por influência americana, sempre apreciei a sensação de escolha. Poder escolher a escola onde colocar os filhos, o hospital onde ser operado, o café onde ler um bom livro, a loja de cds onde comprar os mais baratos e mais raros, a livraria com melhores condições de atendimento e conforto, etc, etc. Vocês percebem a ideia...

Acontece que os habitantes de Lisboa não têm alternativa. Se quiserem ver 50 canais via cabo, a única empresa que os proporciona é a TV Cabo. Ora aqui na província, não temos apenas uma, mas duas empresas de cabo: a TV Cabo e a Bragatel. Não sei a quem pertence esta última, mas escusado será dizer que é desta que sou cliente. Não tenho o GNT, mas tenho a Band TV (Bandeirantes, principal concorrente da Globo), que possui uma programação diversificada e me proporciona jogos de futebol de campeonatos a sério (Espanha e Itália) todos os fins de semana, sem que seja explorado pelos irmãos Oliveirinha e a "sua" Sport TV que cobra 20 euros para acesso a um único canal enquanto os 50 canais da Bragatel (Band TV incluída) ficam por 21 euros. Aproxima-se o Mundial de Futebol e a Band já prometeu transmitir vários jogos.

Vivo na província, mas tenho escolha. É uma escolha limitada, é certo, mas é melhor do que nada.

terça-feira, maio 09, 2006

Respostas ao post anterior

Obrigado a todos pelos comentários à posta anterior. Aqui ficam algumas respostas personalizadas...

Para todos: Vou comprar três livros de George Orwell e oferecê-los aos três melhores alunos daquela turma. Se não os posso converter a todos à literatura, pelo menos acarinho uma minoria!

K: Tens toda a razão. Ainda me lembro do prazer com que li, aos 18 anos, o romance "As Três Sereias" de Irving Wallace, influenciado pela professora de Antropologia Cultural do 1º ano da universidade. O livro tinha na capa uma imagem de um quadro de Gaugin. Foi dois em um!

Sinistro (Nota: Acho que devias usar o teu nome verdadeiro...): Sabes que já tive a sensação que os alunos mais dedicados são olhados de soslaio pelos outros? Parece que o trabalho e o esforço são vistos como uma espécie de lepra...

JJ: Quanto a erros de ortografia, um dia destes apresento a lista dos últimos exames... Saber escrever é pedir muito. Hoje uma aluna confessou-me que a sua principal dificuldade estava em saber distinguir a linguagem SMS do Português correcto. Não me surpreendeu. Construir frases correctas e com sequência é agora um acto de heroísmo.

Cláudia: Todos nós reconhecemos a influência de professores universitários verdadeiros mestres. Os meus foram um professor de Sociologia do Poder (Joaquim Costa) e um professor de História das Ideias Políticas e Sociais (João Rosas). O facto de eu ter continuado a dedicar-me à leitura nessas áreas por cultura geral indicia o seu papel na minha formação.

Cátia: Estou absolutamente de acordo com a necessidade de mais cultura e educação cívica, mas confesso-me céptico quanto à capacidade da actual geração de educadores (pais, professores, no fundo, todos nós) para inverter esta situação.

LN: Confesso alguma dificuldade em lidar com essas situações. Na maioria das vezes, opto por prosseguir a aula sem dar grande valor ao problema, mas de vez em quando irrito-me!

Musqueteira: Ora aí está uma questão pertinente! Os livros ganharão mofo nas estantes das bibliotecas ou serão vendidos para reciclagem de papel ao preço da chuva...

sexta-feira, maio 05, 2006

Ignorance is Bliss?

Ando deprimido com o ensino. Não é grande afirmação, sobretudo numa altura em que a maioria dos portugueses anda deprimida com tantos outros aspectos, mas sinto falta de uma chama que nos guie para um caminho melhor. A nível das universidades, já tive maiores alegrias do que tenho hoje. Fica aqui um exemplo do que digo; não o julguem como amostra representativa, mas apenas como um indício de um problema mais profundo...

Há um par de semanas, leccionava eu uma aula de Políticas Sociais para cerca de 30 alunos, em que se falava do peso do Estado, não apenas na Economia, mas também na vida do cidadãos, quando questionei os alunos sobre Eric Arthur Blair a.k.a. George Orwell...

Q: Já leram George Orwell?
R: ... (silêncio)
Q: Mas já ouviram falar...
R: ... (mais silêncio)
Q: Nunca ouviram falar das suas obras mais conhecidas, "1984" e "O Triunfo dos Porcos"? - insisti.
R: Não - responderam a medo.

Desisti. Que os alunos nunca tivessem ouvido falar de "Na penúria em Paris e Londres" ou "Homenagem à Catalunha", eu ainda compreendia. Já o facto de Big Brother ser, para eles, apenas um programa de televisão, é arrepiante! Como sugeriu o Prof. Medina Carreira esta semana, numa conferência a que assisti, as escolas e universidades portuguesas estão a criar e a reproduzir analfabetos, mostrando-se incapazes de inverter este ciclo de massificação de ignorantes encartados.

segunda-feira, maio 01, 2006

Mês novo, alma nova

Depois de um mês de Abril preenchido com muito, muito trabalho, estou de regresso. Nada de locais exóticos: apenas uma conferência em Coimbra e umas reuniões em Lisboa; mas a preparação de tudo isto foi demorada e impediu-me de dedicar atenção ao blog. Agora que entra Maio, talvez seja possível arranjar tempo para mais actividades de lazer...

Começo por mudar de livro de cabeceira. O curtíssimo conto do escritor russo Nikolai Gógol, Diário de um Louco, que podem ler aqui, vai ocupar o próximo par de noites. Obrigado Assírio & Alvim!

Musicalmente, ando voltado para os clássicos americanos contemporâneos que podem conhecer melhor a partir da lista ali ao lado, mas nada que impeça a audição do génio mais ou menos desconhecido do cantor, compositor e violinista Andrew Bird. Fica a tocar Sovay para amostra...