segunda-feira, dezembro 31, 2007

quinta-feira, dezembro 27, 2007

Melhores Canções do Ano de 2007

Se a minha lista de cds causou algumas surpresas, a lista das 10 canções do ano também vai surpreender. Ao K. tenho a dizer que conheço pouco dos LCD Soundsystem e a lista só reflecte cds sobre os quais tenho opinião formada. Já relativamente aos Radiohead, digo ao Vasco que me parece mais do mesmo.

De todas as listas que vi publicadas na Internet em sites de música, muitas mencionam Panda Bear, Arcade Fire e Blonde Redhead. Poucas mencionam Bright Eyes e Andrew Bird. Todas ignoram Björk (uma tremenda injustiça!), Amiina (pelas semelhanças com Sigur Ròs) e Autumn Shade (por desconhecimento). Rufus Wainwright merece uma referência especial. Sendo este o seu quinto álbum, é também o mais brilhante. As orquestrações grandiosas, a emoção da voz e a paixão das letras justificam a minha escolha. O desprezo dos outros fica a dever-se, muito provavelmente, à atitude contestatária e quase anti-patriota de algumas canções ("Going to a town", por exemplo).

Aqui ficam as melhores do ano:

1. Antichrist Television Blues – Arcade Fire
Se Bruce Springsteen escrevesse canções sobre religião soaria assim. Um poema gigante, em dimensão e conteúdo: críticas ao fanatismo religioso (evangélico, islâmico…), Torres Gémeas, exploração de crianças para fins religiosos (leia-se €€€€€ ou $$$$$$). Win Butler e os Arcade Fire, mestres do apocalipse…

Ouvir: Aqui


2. Scythian Empires – Andrew Bird
Um prodígio de melodia, composição e execução. Andrew Bird no auge.
Ouvir:
http://www.box.net/shared/static/803d3eoqhx.mp3

3. Earth Intruders – Björk

Um pódio bem merecido. Björk em plena forma. Ela é única e a sua música desafia classificação.

Ver e ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=p3YMf5sRnDs

Ao vivo no Saturday Night Live:
http://www.youtube.com/watch?v=p9wZ_P4v3bI

4. Sparrow/Home – Autumn Shade

A primeira vez que ouvi esta música pensei que tinha sido gravada num celeiro de tamanho gigantesco. Depois de saber que os Autumn Shade são de Tulsa, Oklahoma, tenho a certeza que foi gravada num celeiro. Jes Lenee é a descoberta musical do ano.

Ouvir Home: Aqui

Ouvir o disco Ezra Moon:
http://www.autumn-shade.com/

5. Inte
rvention – Arcade Fire
Fico com pele de galinha sempre que ouço esta. Tentem lá descobrir o último grande êxito musical em que um órgão de tubos tem papel principal...

Ouvir: Aqui


6. Sunflower’s Here to Stay – Angels of Light

Infelizmente, esta não está disponível em lado nenhum. Podem ouvir um excerto fraquinho aqui: http://www.midheaven.com/fi/audio2/wearehim09.m3u

Em alternativa, Black River Song também do álbum We Are Him: http://www.thankscaptainobvious-music.net/Songs/01%20-%20Black%20River%20Song.mp3


7. Going to a Town – Rufus Wainwright

Ok, esta não ganha o prémio de popularidade entre os americanos. Acontece que nós somos europeus e, política à parte, uma boa canção basta.

Ver e ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=dUIsQo4K70Y


8. Make a Plan to Love Me – Bright Eyes
É a canção de amor do ano.

Ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=rElUB2meWsU


9.
La Dame et la Licorne – Shearwater
Vagas semelhanças com os Talk Talk em final de carreira... o que é sempre uma boa referência.
Ouvir: Aqui

10. 23 – Blonde Redhead
Alguns dizem que faz lembrar My Bloody Valentine, mas é “apenas” excelente música pop.

Ver e ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=a7FqUNlEdwA

sexta-feira, dezembro 21, 2007

Melhores Álbuns de 2007 / Best CDs of 2007

1. Neon Bible - Arcade Fire
2. Release the Stars - Rufus Wainwright
3. Ezra Moon - Autumn Shade
4. Armchair Apocrypha - Andrew Bird
5. Kurr - Amiina
6. We Are Him - Angels of Light
7. Volta - Björk
8. Cassadaga - Bright Eyes9. Person Pitch - Panda Bear
10. North Star Deserter - Vic Chesnutt

Menções Honrosas:
Ghost Will Come and Kiss Our Eyes - Hrsta
Ongiara - Great Lake Swimmers
Palo Santo - Shearwater

You, You're a History in Rust - Do Make Say Think
23 - Blonde Redhead

Amateur - Alog

sábado, dezembro 08, 2007

Um cruzamento entre o visual de Marco Paulo e a música de António Variações

Uma amplitude vocal inacreditável, uma atitude de desafio e música pop electrizante levaram à glória Billy Mackenzie e Alan Rankine, a banda que ficou mundialmente conhecida como The Associates. Nasceram em 1979, mas o reconhecimento só chegou em 1982 com o álbum Sulk, uma obra-prima da música pop, admirada por nomes tão diferentes quanto Marc Almond ou Siouxsie Sioux.

Billy Mackenzie cantava com uma intensidade rara, oscilando entre falsettos quase impossíveis nuns momentos e uma voz quase cavernosa noutros. White Car in Germany demonstra estes extremos. Noutro contexto seria apenas mais um exemplo de música euro-trash, tipo Modern Talking ou Bananarama, mas na voz de Billy, naquela voz que parece vinda do além, transforma-se numa peça de música pop sinistra, se é que o rótulo faz sentido...

Na sua fase mais extravagante, os Associates praticavam um pop melódico e energético, com rumores rampantes de falsettos movidos a hélio. Tudo a contribuir para a projecção de Billy até à eternidade. Em termos de letras e música, existem curiosas semelhanças com António Variações, mas já em termos visuais foi em Marco Paulo que pensei. Vejam 18 Carat Love Affair para avaliarem o "Marco Variações" escocês...

Os Associates dissociaram-se em 1984 e Billy segui uma carreira a solo com sucesso intermitente durante a década seguinte.

Billy Mackenzie cometeu suícidio por overdose em 1996.

sexta-feira, novembro 30, 2007

Vou dizer baixinho para nao assustar: Supertramp

Eu sei que os Supertramp são uma banda pirosa e que a voz aguda de Roger Hodgson é detestável para muita gente. Mas recentemente apeteceu-me recordar os meus 18 anos e o primeiro contacto com a banda. A entrada memorável de "School", o dramatismo de "Crime of the Century" e o chilrear de passarinhos em "Even in the Quietest Moments" transportam-me para uma altura em que, para além de feliz, era inocente. Inocente por acreditar na bondade das pessoas, na simplicidade da vida, na evidência das decisões a tomar. Acho que perdi essa inocência quando saí de casa aos mesmíssimos 18 anos. Ou melhor, quando mudei de cidade (Gaia por Braga).

Há alguns dias atrás, o Luís falava de provincianismo. O provincianismo tem vantagens quando observado sob o ponto de vista da inocência. Impede a confrontação dos nossos medos e das nossas insuficiências, poupa-nos a tarefa árdua das escolhas e, em última análise, torna a nossa vida mais segura. Mais segura, mas muito menos interessante.

Ouvir A Soap Box Opera, na sua plenitude orquestral, lembrou-me como pode ser importante olharmos as nossas raízes e rever o percurso que fizemos. Dezoito anos depois, quase todas as premissas foram abandonadas ou reequacionadas. Perguntar-me se ainda reconheço quem era, é demasiado complexo para responder e provavelmente irrelevante para quem só contempla o futuro como opção.

"A Soap Box Opera" performed by Supertramp

PS: O meu agradecimento ao Pedro pela sugestão do título do post

segunda-feira, novembro 26, 2007

Josh Rouse ao vivo no Theatro Circo

Hoje à noite, a partir das 23 horas, eu, ele e ela, numa estranha associação bloguista, vamos prestar culto a um dos melhores "cantautores" da nova geração de músicos americanos.

Miracle - Josh Rouse ao vivo em Londres

quinta-feira, novembro 22, 2007

sábado, novembro 17, 2007

Argumentos (I)lógicos

Facto número 1: Hugo Chavez foi eleito Presidente da Venezuela em eleições livres.

Argumento utilizado, implícita ou explicitamente, pelos comentadores políticos e bloggers com base no facto número 1: Como Chavez foi eleito não é ditador.

Facto número 2: Hitler também venceu eleições com o Partido Nazi e chegou ao poder por meios democráticos.

Corolário: Ganhar eleições democráticas é irrelevante para julgar um político como potencial ditador. O tempo no poder e sobretudo os expedientes e artimanhas utilizados para a manutenção desse mesmo poder são indicadores muito mais fidedignos.

quinta-feira, novembro 15, 2007

quarta-feira, novembro 14, 2007

Pérolas da Dark Wave - Clan of Xymox


Os anos 80 viram nascer um estilo musical conhecido como dark wave. No saco cabiam muitas bandas, desde The Cure a Dead Can Dance, mas em comum tinham o preto como cor dominante na música, na poesia e na indumentária. Os Clan of Xymox, nascidos em 1984, são uma banda holandesa desta corrente e já com um conjunto apreciável de obras, das quais se destacam o homónimo Clan of Xymox (1985), Medusa (1987), Hidden Faces (1997) e o mais recente Breaking Point (2006).

Um excelente vídeo filmado em New York (com Torres Gémeas e tudo) e ao vivo na Cidade do México para o tema Stranger, um dos melhores de sempre dos Clan of Xymox. Visualmente muito bom graças aos contrastes do preto-e-branco e musicalmente apresentando a banda no seu auge, Stranger é uma curta metragem arrojada e a fugir ao estilo estafado dos vídeoclips convencionais. Um must!

terça-feira, outubro 30, 2007

(...)

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sexta-feira, outubro 26, 2007

3. La Valée (1972) - Barbet Schroeder

No que toca a obscuros objectos de desejo, La Valée de Barbet Schroeder é ainda mais difícil de encontrar do que More, o primeiro filme destas crónicas. Desta vez, os hippies de Schroeder viajam até à longínqua e francamente desconhecida Papua Nova Guiné e encontram a mulher de um diplomata francês, Viviane, obcecada pelas penas das exóticas aves-do-paraíso e com demasiado tempo para gastar. À boa maneira francesa, Viviane toma um dos rapazes como amante e, juntamente com os restantes hippies, embarca numa viagem à procura das ditas penas e do vale "obscurecido pelas nuvens" (Obscured by Clouds é o título do álbum dos Pink Floyd que contém a banda sonora deste filme). Ao longo do seu percurso pelo interior da Nova Guiné deparam-se com tribos indígenas que contactam pela primeira vez com a civilização ocidental e com o "homem branco". Ignorando a Papua Nova Guiné enquanto país, senti-me motivado, após a visualização do filme, a procurar mais informação sobre esta nação do sudeste asiático.
O mito do "bom selvagem" é o tema filosófico, mas num ambiente tão excêntrico quanto misterioso, o que fica é a componente quase documental de alguns momentos. Durante largos períodos do filme somos confrontados com um relato quase antropológico da tribo dos Kambouga, sugerindo claramente uma nostalgia do movimento hippie pelo Homem pré-contaminação da civilização ocidental. No entanto, o realismo regressa ao relato quando Olivier, acometido por um momento de lucidez, recorda Viviane que também na tribo há regras de comportamento rígidas, obediência cega ao tabu e exploração laboral e sexual das mulheres, que tornam a vivência muito menos romântica da que é sugerida pelo mito do "bom selvagem".
Muito menos directo do que More, La Valée provoca no espectador uma sensação mais reconfortante, talvez pela absoluta serenidade que trespassa toda a obra, demonstrada pela total ausência de violência física ou verbal.

segunda-feira, outubro 22, 2007

Kimi "Iceman" Raikkonen


Inacreditável! Os dois pilotos da McLaren, Lewis Hamilton e Fernando Alonso, conseguiram o feito impossível de perder o campeonato do mundo de Fórmula 1 na última corrida, quando levavam à partida respectivamente 7 e 2 pontos de avanço para o finlandês Kimi Raikkonen. Fui grande fã, diria quase de forma doentia, do brasileiro Nelson Piquet e, depois disso, o único piloto que me fazia vibrar era Mika Hakkinen. Agora, 7 anos após a última vitória de Hakkinen, o meu favorito vence o campeonato na última corrida, com um ponto de vantagem sobre Lewis Hamilton e Fernando Alonso, na mais emotiva temporada de sempre da Fórmula 1.

Todos os pilotos de Fórmula 1 são narcisistas e, embora Raikkonen não fuja à regra, é um gentleman, sobretudo quando comparado com os outros dois. Raikkonen, conhecido por ser um dos mais azarentos pilotos da modalidade pelas inúmeras desistências inglórias, teve hoje um merecidíssimo dia de sorte!

sexta-feira, outubro 19, 2007

"Encontrei o Fernando em Braga..."

Este é um post cretino... Não o levem muito a sério. Estou cansado e sem inspiração para mais.

Não é habitual recorrer ao sitemeter para saber quem me visita, mas hoje à noite, durante um momento de tédio na internet (semelhante ao zapping televisivo), descobri que alguém de Aveiro (ou arredores) realizou uma pesquisa no Sapo com a frase: "Encontrei o Fernando em Braga..." O resultado aparecia na página 8 da pesquisa, o que significa que a pessoa até se esforçou...

O meu lado narcisista ficou curioso. Que alguém escreva isto num email a um amigo ainda se percebe, mas o que motivará um internauta a usar esta frase num motor de pesquisa?

Não sei se serei o Fernando que a pessoa encontrou, mas é possível que sim. Para lhe facilitar a tarefa, da próxima vez que tal frase seja usada num motor de pesquisa, esta entrada será o primeiro link a aparecer. Sugiro que deixe um comentário que explique a razão de tão estranha pesquisa...

PS: Por falar em pessoas a quem não falo há muito tempo... Lenita: se leres esta mensagem manda-me um email. O email do Angústias não funciona, perdi o teu e não consegui responder ao teu comentário sobre baby-sitting.

quinta-feira, outubro 11, 2007

2. The Grandmother (1970) - David Lynch


Antes de Eraserhead (1977), houve The Grandmother, uma curta metragem em que David Lynch experimenta pela primeira vez com as temáticas que apareceriam de modo mais consolidado em Eraserhead.

O filme combina animação com acção real e retrata um rapazinho incontinente que é tratado com desprezo e violência pelos pais e planta uma semente na sua cama a partir da qual se desenvolve um útero que, eventualmente, dá à luz uma mulher: a avó do título do filme. Em contraste com a relação com os pais, o rapaz recebe carinho, atenção e compreensão da avó, que nasce, literalmente, para dar amor à criança.

O ambiente é sinistro, marcado pelo constraste entre a pele muito branca das personagens e o fundo escuro no qual se movem. Em termos substantivos, trata-se de uma sucessão de metáforas sobre o nascimento, a sexualidade e a morte, filmadas de modo bizarro e grotesco e sem qualquer diálogo. Apenas música, ruídos, grunhidos, assobios e outros sons incompreensíveis que, apesar disso, constituem um notável esforço amador no domínio da sonoplastia e contribuem para tornar o filme mais inteligível.

Há momentos desconcertantes para o cinéfilo que espera uma trama linear e escorreita. É certo que talvez não se deva esperar isso de Lynch, pelo menos de um Lynch tão jovem, mas ainda assim The Grandmother tem um argumento suficientemente compreensível para merecer o estatuto de filme de culto e intrigar os mais curiosos sobre este marco do cinema marginal.

sábado, outubro 06, 2007

Então agora já não dão 100?

No futebol americano, sobretudo no futebol universitário, mandam as normas informais de cortesia que, quando uma equipa está a vencer o adversário por mais de 40 ou 50 pontos, coloque os suplentes a jogar e evite resultados humilhantes de tipo 70-0 ou 80-0.

A selecção profissional da Nova Zelândia, que resolveu humilhar a selecção amadora de Portugal com um desnecessário 108-13 na Taça do Mundo de Rugby, acaba de ser eliminada nos quartos-de-final da competição ao perder por 20-18 com a França.

Não posso negar que senti uma certa justiça poética no ar...

sexta-feira, outubro 05, 2007

1. More (1969) - Barbet Schroeder

O primeiro filme do realizador franco-alemão Barbet Schroeder retrata a descida ao abismo de um jovem alemão que se apaixona por uma americana com vasta experiência no mundo da droga. Stefan viaja à boleia para Paris, onde conhece Estelle Miller que o convence a passar o Verão consigo em Ibiza. Aqui, na pequena ilha de Formentera onde todos se conhecem, Stefan experimenta vários tipos de drogas, partindo dos inocentes charros, para as anfetaminas, passando pelo LSD e acabando dependente do cavalo (heroína).

O filme surge na ressaca do movimento hippie, do flower power e do Verão do Amor, assumindo uma surpreendente postura crítica do consumo de drogas. O argumento é simples, quase diria amadoresco, e os actores têm desempenhos relativamente fracos, ainda que Mimsy Farmer (Estelle) vista, de forma convincente, a pele de anjo negro. Um dos principais méritos do filme reside na forma como trata o tema da toxicodependência, em contracorrente com o optimismo prevalecente durante grande parte dos anos 60. Nesse sentido, pode ser considerado um percursor, fraco, é certo, de Trainspotting, ou de relatos como os de Christiane F. ou Sid & Nancy.

A banda sonora foi composta integralmente pelos Pink Floyd e constitui outro ponto alto do filme. A música alterna longas sequências psicadélicas (Quicksilver) com interlúdios que contextualizam a acção (Party Sequence ou A Spanish Piece) Os temas mais marcantes são Cirrus Minor, Crying Song e Cymbaline (com voz de Roger Waters e não de David Gilmour, como acontece no álbum original). A paisagem sonora é acompanhada por uma excelente fotografia das paisagens sublimes de Ibiza (pôr-do-sol, mar, falésias, etc.). Não fosse o tema sério, tratado de forma realista, quase diria que se trata de um óptimo filme de Verão, mas provavelmente o contraste entre a vitalidade da paisagem e a decadência das personagens não é casual.

PS: Não deixa de ser curioso o facto de, tanto no cinema como na vida real, os relatos de casais de toxicodependentes atribuírem à mulher o papel de víbora (Sid Vicious & Nancy Spungen, Kurt Cobain & Courtney Love, Estelle & Stefan em More).

segunda-feira, outubro 01, 2007

A Hora da Siesta

Entre os dias 19 e 23 de Setembro estive em Madrid para apresentar o artigo "Understanding Intergovernmental Cooperation in a Context of Decentralization: An Empirical Study of Collaboration among Portuguese Municipalities" na conferência do European Group of Public Administration (EGPA).

Fiquei horrorizado com o facto de os espanhóis terem obrigado todos os conferencistas a painéis/sessões paralelas entre as 12 e as 14 horas, o que em alguns casos adiou o almoço para lá das 14:30. Este hábito cultural resultou na "fúria" de muitos participantes, menos habituados à hora da "siesta".

A ideia politicamente correcta de que não se pode ofender as tradições do país organizador pareceu-me totalmente descabida e ineficiente, não só porque os espanhóis eram uma minoria, mas sobretudo em termos de rendimento intelectual dos participantes durante o painel às ditas horas. Incomodado, sussurrava-me um vizinho britânico: "Acabem lá com as perguntas e vamos mas é almoçar!"

sábado, setembro 29, 2007

Os meus favoritos do Thyssen-Bornemisza

The Madonna of the Village (1936-1942) - Marc Chagall

Este encheu-me as medidas. Na minha subjectiva e modesta opinião é o quadro mais marcante da exibição permanente. O surrealismo na sua vertente mais meiga e onírica: um anjo a tocar trombeta, uma vaca a tocar violino nos céus e uma virgem a pairar sobre a aldeia... Absolutamente maravilhoso.

domingo, setembro 16, 2007

" Eu era como lixo que atraía moscas, em vez de uma flor desejada por borboletas e abelhas." Charles Bukowski in Ham on Rye (1982)


Uma palavra: Bukowski. A primeira vez que se lê é surpreendente, quase chocante. O estilo é fácil, directo e rude. Vou mais longe: é como ler Henri Miller sem aquele sexo todo ou uma versão literária de Feios, Porcos e Maus de Ettore Scola. Dir-se-ia que Charles Bukowski passou demasiado tempo da sua vida a limpar latrinas e a sua obra é parte dos escritos das portas de casa de banho. Mas tal seria injusto, dada a capacidade para descrever, de forma visceral, a vida decadente, a dependência alcoólica e a ausência de valores que atravessam toda a sua obra.

O meu primeiro contacto com Charles Bukowski foi com Correios (Post Office, 1971). Nenhuma obra literária fez mais para arruinar a reputação dos carteiros na América do que este pedaço de literatura da sarjeta. Bukowski sublinha todos os preconceitos que temos a respeito dos carteiros: o ódio mortal entre esta classe profissional e a raça canina, a tendência para saltarem para a cama de donas de casa carentes, o desrespeito pela autoridade dos superiores e o tratamento desprezível prestado aos e pelos utentes. Tudo isto aparece descrito de forma extremamente colorida nesta novela de ler e chorar por mais. Confesso que, inicialmente, ainda senti alguma piedade pela pobreza moral do carteiro Henri Chinaski, mas todos os pruridos e simpatia desaparecem ao fim de meia centena de páginas de acontecimentos delirantes e quase inenarráveis.

A segunda experiência foi com A Sul de Nenhum Norte (South of No North, 1973), no original), mas foi mais recentemente, com Ham On Rye (1982) que percebi que grande parte da obra de Bukowski gira em torno desse personagem com muito de marginal e autobiográfico (Henri Chinaski). Contudo, nesta obra de 1982, o leitor sente alguma simpatia por Chinaski, quase sempre descrito como um pária, um adolescente desprezado socialmente que deseja viver como um eremita (cf. O episódio do gigantesco ataque de acne que dura quase um ano e o isola por completo dos colegas de liceu). Existem vários personagens desprezíveis nesta obra, mas por Chinaski sentimos alguma simpatia, pelo menos enquanto adolescente. Diria que Chinaski é uma espécie de Adrian Mole para adultos, com borbulhas e tudo. Todavia, a adolescência amarga desemboca num adulto alcoólico, beligerante e completamente sem rumo.

Agora, na minha estadia em Chicago, aproveitei para adquirir Factotum (1975) e Hot Water Music (1983). O mesmo estilo delirante, a mesma decadência das personagens e uma descrição politicamente incorrecta de sexo com uma prostituta de fazer rir até às lágrimas. O conhecido Matt Dillon interpreta Henri Chinaski na versão para cinema de Factotum (2005), contracenando com Lili Taylor, Marisa Tomei, Fisher Stevens e Karen Young.

terça-feira, agosto 28, 2007

A caminho de Chicago

Amanhã, dia 29, viajo para Chicago para participar na conferência da American Political Science Association (APSA). Com mais de 7000 participantes, 46 divisões especializadas e 730 painéis, esta é a maior conferência do mundo na área da Ciência Política.

Num olhar atento pelo programa da conferência constato que sou o único português a viver em Portugal a participar. Encontram-se inscritos um par de portugueses, doutorandos do Instituto Europeu Universitário de Florença, mas fora isso... um deserto! Não admira, por isso, que já tenha ouvido, em conferências internacionais, o comentário "mas... não sabia que havia cientistas políticos em Portugal?!".

Ironicamente, sendo doutorado em Administração e Políticas Públicas, não me considero exactamente um "cientista político", ainda que a minha área de investigação seja "filha da Ciência Política".

Os interessados no tema do artigo a apresentar podem ler aqui o resumo e os detalhes em Inglês.

Como podem constatar pela foto da minha última estadia em Chicago cheguei de carro ao fantástico Museu de Arte Contemporânea.


sexta-feira, agosto 24, 2007

domingo, agosto 19, 2007

Empreendedorismo

Vasco Eiriz, meu colega de trabalho na Universidade do Minho e companheiro de aventuras na blogosfera, convidou-me a converter algumas das críticas musicais contidas neste blog em artigos para a revista Rede 2020, uma publicação bimestral com distribuição electrónica.

A revista iniciou-se como um projecto ligado às áreas da Gestão, da Estratégia e do Marketing, mas evoluiu para um conjunto mais vasto de temas, incluindo agora também a arquitectura, a literatura, a música, entre muitos outros assuntos.

A divulgação da revista por via digital favorece a comunicação entre os portugueses dos 5 continentes, o que constitui, na opinião do Vasco, com a qual concordo plenamente, um dos seus maiores méritos. A última edição da Rede 2020 está disponível aqui.

O blog Empreender é um projecto editorial associado à Rede 2020.

sexta-feira, agosto 17, 2007

Green is the Colour

Uma crítica ao filme More realizado por Barbet Schroeder foi publicada por mim no Angústias de um Professor. Um dos temas da banda sonora dos Pink Floyd - Green is the Colour - toca ali ao lado...

domingo, agosto 12, 2007

Libertem as estrelas!

Release the Stars, o novo de Rufus Wainwright é um disco absolutamente soberbo. Aqui fica uma amostra...

segunda-feira, agosto 06, 2007

Lee Hazlewood (09-07-1929 - 04-08-2007)


Lee Hazlewood faleceu no passado sábado, dia 4 de Agosto, aos 78 anos, de cancro renal. Nascido em Mannford, Oklahoma, Lee viveu um pouco por todo o mundo: Londres, Paris, Helsínquia, Las Vegas e Phoenix. Nos últimos anos da sua vida passou igualmente temporadas em Espanha e na Florida, mas a sua ligação à Europa mais conhecida é com a Suécia. Tendo vivido e trabalhado entre 1970 e 1977, desenvolvendo uma afinidade tão grande com o país escandinavo que chegou a intitular um dos seus discos como "A Cowboy in Sweden".
Dotado de uma notável voz de barítono, a sua música sempre foi difícil de definir, oscilando entre o mais puro country e o cross-over com o rock. Foi igualmente conhecido pelo tema "These boots are made for walking" composto para Nancy Sinatra e que a tornou uma estrela. Fez inúmeros duetos com Nancy Sinatra, Suzi Jane Hokom, Ann-Margret e Anna Hanski. Os seus discos mais marcantes foram The Very Special World Of Lee Hazlewood (1966), Lee Hazlewoodism Its Cause and Cure (1967), The Cowboy and the Lady (1968) e Requiem for an Almost Lady (1971). Os melhores temas da sua longa colaboração com Nancy Sinatra aparecem na colectânea Fairy Tales & Fantasies. Para além de "These boots are made for walking", um dos temas mais famosos de Lee foi "Summer Wine", que podem escutar em fundo neste blog. A faceta de storyteller de Lee, acompanhado por Donnie Owens, pode ser apreciada no vídeo de "First Street Blues" gravado para o programa da televisão sueca "Love and Other Crimes" (1968).

A sua influência musical é notória em nomes conhecidos da música dita alternativa como os Tindersticks, Lambchop, Calexico. Todos eles, assim como Lydia Lunch, Primal Scream, Einstürzende Neubauten, Nick Cave, Anita Lane e Boyd Rice gravaram versões dos seus temas.

domingo, agosto 05, 2007

Qual a banda sonora?

Al Bowlly interpreta o tema de fundo deste blog, "Guilty", que surge integrado numa banda sonora extremamente popular de um filme lançado em 2001. Dois temas interpretados pelo mesmo cantor - "Midnight, the Stars and You" e "It's All Forgotten Now" - haviam sido igualmente utilizados numa obra-prima de terror da década de 80.

Quais os dois filmes em que os temas de Al Bowlly, nascido a 7 de Janeiro de 1899 em Lourenço Marques (território português, portanto), aparecem?

sexta-feira, julho 27, 2007

Um Piano em Férias

Este ano, com uma bébé de 4 meses, não há viagens épicas de 3 semanas de carro a atravessar o continente Americano. Como diz a publicidade, "vamos para fora cá dentro", evitando as confusões algarvias e apostando num destino alentejano com sabor a África.


quinta-feira, julho 19, 2007

Adivinha

Em que filme polémico, baseado na obra Die Traumnovelle do escritor austríaco Arthur Schnitzler, é que se pode ouvir o tema a tocar ali ao lado intitulado Valsa 2 da Jazz Suite Nº2 composta por Dmitri Shotakovich?

quarta-feira, julho 11, 2007

Momentos

Esgotei os adjectivos para descrever os Arcade Fire. A orquestra louca de Montréal demonstra que nem numa daquelas aparições estereotipadas para televisão estamos seguros... Que o digam as cordas e a guitarra de Win Butler!

sábado, julho 07, 2007

20. OK Computer (1997) - Radiohead


A listagem dos 20 melhores discos da minha vida chega hoje ao fim. Ao longo de 20 entradas, apresentei, critiquei e, na maioria das vezes, elogiei obras discográficas de grande valor pessoal e sentimental. Muitas vezes, estes trabalhos marcaram a minha existência em virtude de um "alinhamento perfeito das estrelas". Alguns eram muito conhecidos e idolatrados, outros obras que pouco venderam e passaram despercebidas à generalidade do público consumidor de música.

Nada como um dos melhores discos dos anos 90 para fechar com chave de ouro. Para verem a dimensão da qualidade da obra, os críticos habitualmente forretas da Pitchfork perderam a cabeça e atribuiram a nota perfeita (10.0) ao álbum.

Confesso que o meu amor pelos Radiohead era muito limitado até ao momento em que lançaram OK Computer. Tinham uma cançãozinha de 4 acordes - Creep - que se recusavam a tocar em concerto por que, afirmavam, era a única que o público queria ouvir... manias!

As referências ao stress quotidiano, à alienação dos yuppies na vida empresarial, o trabalho obsessivo e destituído de sentido são os temas dominantes das letras escritas por Thom Yorke. A famosa dedicatória a Bill Gates do tema Paranoid Android parece confirmar a repulsa pela orientação materialista e consumista do mundo actual.
A obra é por muitos considerada como o primeiro disco anti-globalização, se é que tal faz algum sentido... Paranoid Android é uma das selecções do You Tube para este post. De notar as tiradas geniais como: "Ambition makes you look pretty ugly / Kicking and squealing gucci little piggy"

Ou:

"That's it, sir
You're leaving
The crackle of pigskin
The dust and the screaming
The yuppies networking
The panic, the vomit
The panic, the vomit
God loves his children,
God loves his children, yeah!"

O disco é extremamente "cinematográfico". Canções como Subterranean Homesick Alien ou Lucky demonstram este lado de OK Computer e indicam uma versatilidade até então desconhecida na banda. O melhor exemplo desta vertente "banda sonora" é Exit Music (for a film):

Num disco tão perfeito, é difícil identificar as melhores faixas. Musicalmente, as minhas preferências vão para Exit Music, Lucky, No Surprises e Let Down. Paranoid Android é um invulgar caso de brilhantismo poético e musical e, para mim, a melhor música dos anos 90. Curiosamente, tem também uma duração invulgar para um tema single, com mais de 6 minutos e meio, e uma complexidade de estrutura e composição rara para uma banda rock. A intensidade das faixas de OK Computer é ainda mais vincada ao vivo, como o demonstra o vídeo de Airbag, retirado de uma actuação no programa de Jools Holland. Sublinhe-se a fantástica tirada irónica "In a fast german car / I'm amazed that I survived / An airbag saved my life"

sexta-feira, julho 06, 2007

As Angústias de um Professor estão de volta...

Ao fim de quase dois anos, o blog Angústias de um Professor, qual fénix se ergue, para narrar o quotidiano do Homem, do profissional e do mundo irrequieto em que vivemos. Dizem que não há amor como o primeiro... e o Angústias foi o meu primeiro blog e aquele em que coloquei todo o meu empenho.

Não há razões objectivas para esta decisão, mas as conversas com o Pedro, os emails da Gala e os comentários simpáticos (e manifestamente exagerados) de ex-alunos, que conheceram o Angústias de um Professor nos seus tempos áureos de mais de uma centena de visitantes diários, tornaram-me nostálgico.

Regresso com um novo template e cheio de ideias e opiniões. Vamos ver se o tempo e o stress profissional permitem a regularidade de entradas que desejo.

Entretanto, Um Piano na Floresta continua como blog especializado em música. Por falar nisso, já viram a listagem e crítica realizada aos 20 discos da minha vida? Já só falta o vigésimo disco... está a chegar!!!

domingo, julho 01, 2007

Carla Bozulich @ Plano B


Carla Bozulich actua esta quinta-feira, dia 5 de Julho, no Plano B no Porto e, no dia seguinte, na Galeria Zé dos Bois em Lisboa. Só se o trabalho apertar muito é que não irei...

Carla Bozulich pertence à excelente editora canadiana Constellation Records, que edita alguns dos músicos mais criativos e irreverentes da onda pós-rock. Embora Evangelista seja o seu disco de estreia na Constellation, Carla está longe de ser uma principante nestas andanças, tendo pertencido à banda Geraldine Fibbers. (Para confirmar os preconceitos do portugueses sobre a ignorância dos americanos, este site indica Porto e Lisboa como sendo "Spain"...)

Há uns tempos atrás considerei Evangelista como o 9º melhor álbum do ano e, na altura, escrevi:

"Ok. Carla Bozulich não é exactamente uma Diamanda Galas, mas aproxima-se de uma P.J. Harvey muito zangada. Evangelista é uma estreia absolutamente surpreendente. Nunca tinha ouvido falar desta mulher até ter ouvido Evangelista I, o primeiro tema do disco. Posso garantir que fiquei arrepiado de medo. Sim, puro e não adulterado medo! A entrada deste cd é um tema com mais de 9 minutos em que Bozulich grita furiosamente as letras do tema por meio de samples, loops e uma secção de cordas composta por violino, viola, violoncelo e contrabaixo tocados de forma muito pouco ortodoxa. A acrescentar a toda esta cacofonia alucinante há ainda um discurso do Elder Otis Jones, pregando no distante ano de 1936. As coisas acalmam bastante depois deste início fulgurante, mas por esta altura já Carla Bozulich tinha ganho entrada directa para a tabela dos 10 melhores do ano. Steal Away é uma ode pungente e How to Survive Being Hit by Lightning um clássico instantâneo. Curiosamente, o cd termina com Evangelista II, uma versão muito mais soft do primeiro tema."

Para saber mais sobre Carla Bozulich visitem o seu site no My Space.

quinta-feira, junho 28, 2007

19. Bring On the Night (1986) - Sting


Para quem conhece bem este blog, esta deve parecer uma estranha escolha. Para alguns poderá ser demasiado comercial; para outros, apenas um apeadeiro na carreira de Sting. Para mim, tem um significado muito especial: foi o primeiro disco de música verdadeiramente boa que gostei, ou melhor, aprendi a gostar. Confusos? Eu explico.

Quando tinha 16 anos, só ouvia música má: Wham!, Duran Duran, Modern Talking, Kim Wilde, A-ha, entre muitos outros pimbas anglo-saxónicos. Este Bring On the Night foi uma revolução para os meus ouvidos. Na altura, os meus amigos gostavam de música muito mais comercial e ligeira, pelo que a repetida audição deste disco não lhes passava pela cabeça. Mas, o que é que faz de Bring On the Night um disco especial?

Sting tinha já uma longa carreira na música pop-rock quando editou este álbum feito de versões da sua antiga banda - The Police - misturadas com originais seus. Até aqui nada de novo. Mas Sting adoptou uma perspectiva revisionista. Pegou em todos aqueles temas pop e transformou-os em versões de fusão com o jazz. Não o fez sozinho. Teve a ajuda de verdadeiros "monstros" da história do jazz, como sejam Branford Marsalis (tocou com Art Blakey, Dizzie Gillespie, Miles Davis e Wynton Marsalis), Omar Hakim (baterista dos Weather Report), Darryl Jones (baixista de Miles Davis) e Kenny Kirkland (teclista de Dizzie Gillespie e Wynton Marsalis). Nas vozes, o disco conta ainda com Janice Pendarvis, que havia trabalhado com Philip Glass, Laurie Anderson, Robert Flack e Peter Tosh, e Dolette McDonald, que colaborou com os Police, Talking Heads e Laurie Anderson.

Sem surpresa, o disco é uma fabulosa demonstração como temas de estúdio podem ser recriados ao vivo num formato integralmente diferente. As versões remisturadas de One World/Love is the Seventh Wave e Bring on the Night/When the World is Running Down são testemunhos da capacidade criativa e irreverente de Sting, demonstrando uma invulgar humildade, que segundo consta não é nada típica do músico-professor. Os solos de saxofone de Marsalis e os solos de piano de Kirkland, infelizmente desaparecido em 1998, tornam o disco um verdadeiro "must have" para apreciadores de jazz.

O meu gosto por este disco transformou-me num pária entre os meus amigos mais chegados. "Lá vem este com o jazz", costumavam dizer. Essa segregação valeu a pena. O inconformismo demonstrado na altura viria a alargar-se para muitas outras áreas da música, confirmando que "não se deve negar à partida uma ciência que se desconhece..."

Bring On the Night, em versão abreviada (o original tem 11 minutos e 42 segundos), pode ser escutado aqui. Os saudosistas podem comparar esta versão jazz, com o original "reggae-pop" dos Police, também disponível no You Tube.

sexta-feira, junho 22, 2007

São João com Philip Glass


No âmbito das celebrações do seu septuagésimo aniversário, Philip Glass traz a digressão Solo Piano ao Theatro Circo, em Braga, dia 24 de Junho, pelas 22 horas. Embora os seus trabalhos para piano a solo não sejam os meus preferidos, esta é uma oportunidade única, talvez a última, para ver Glass ao vivo a interpretar os seus próprios temas. Para ouvir alguns dos momentos mais representativos da carreira do músico americano passem pelo sítio oficial: Philip Glass.
Esperemos que o público de Braga seja mais compreensivo do que o de Springfield... hehehehe!!!

terça-feira, junho 19, 2007

18. Ende Neu (1996) - Einstürzende Neubauten


O primeiro automóvel que comprei, em 1995, foi um usado: um Alfa Romeo 33 1.5 de cor preta e a gasolina. Lembro-me do entusiasmo com que fui orgulhoso proprietário, durante uns 4 anos, de um carro que tinha um péssimo cadastro de segurança passiva e bebia gasolina como um viajante que encontra um oásis no deserto bebe água. Era um carro com muitos defeitos, mas tinha sido adquirido com o esforço do meu trabalho e possuia uma característica que desculpava todos os outros defeitos: nenhum motor soa igual ao de um Alfa Romeo. A publicidade dizia que era um "Cuore Sportivo" e o motor do Alfa era isso mesmo, o meu coração mecânico.

Por isso, não admira que quando saiu Ende Neu (1996) dos Einstürzende Neubauten tenha estabelecido uma ligação muito especial com este disco. Eu explico: o tema NNNAAAMMM (acrónimo para New No New Age Advanced Ambient Motor Music Machine) conta com a participação especial de um motor de Alfa Romeo que, no mínimo, dá um carácter inovador à secção de percussão da banda. Em abono da verdade, diga-se que este tema conta com mais alguns contributos revolucionários: um berbequim eléctrico Bosch, um compressor a vapor Bauknecht, um caterpillar Case 2004, entre outros protagonistas menos conhecidos. O mais extraordinário é que tudo soa razoavelmente melódico, e até comercial, sobretudo se comparado com os primeiros dez anos da carreira dos Einstürzende Neubauten. Para os mais versados em música contemporânea alemã terem uma ideia, NNNAAAMMM é uma espécie de Kraftwerk no final do milénio, tingido com música concreta à la Karl-Heinz Stockhausen. Impossível não gostar!

Tal como a música de Nick Cave se tornou mais acessível com o passar dos anos, também Blixa Bargeld, vocalista dos EN e membro dos Bad Seeds, modificou a sonoridade da banda, provavelmente de forma involuntária, tornando-a mais audível. A prova disso mesmo é que há, neste álbum, excelentes temas, com um formato relativamente convencional e capazes de atrair uma audiência mais alargada. Aproveito para recomendar The Garden, Die Explosion Im Festspielhaus e, claro, Stella Maris. Esta última foi escolhida no You Tube para representar esta obra e mistura dois temas que me são extremamente queridos: o Amor e as viagens. Especialmente recomendado para aqueles cujo pensamento possui asas...

quarta-feira, junho 13, 2007

17. The Lamb Lies Down on Broadway (1975) - Genesis


Em Itália, o 17 é o número do azar, mas, no país em forma de bota, os Genesis de Peter Gabriel nunca tiveram outra coisa senão sorte. Desde a sua formação, no longínquo ano de 1968, os italianos desenvolveram uma relação priviligiada com a banda e esta retribuia dizendo que "quando nos queremos sentir bem, vamos para Itália". Esta relação especial com o público italiano corresponde a "um fenómeno de culto".

Em 1975, os Genesis já não eram apenas um fenómeno de culto quando lançaram aquele que viria a ser considerado, por todos os verdadeiros fãs, como o melhor disco de sempre da banda. Curiosamente, ou talvez não, eram vistos como uma banda para público masculino. Os temas não eram românticos, Peter Gabriel não era um sex-symbol e vestia roupas excêntricas em palco, de forma que nem a sua cara era visível, e na música predominavam os instrumentais e/ou as letras com significado obscuro.

Por tudo isto, lançar um duplo álbum de originais era uma manobra editorial que requeria alguma coragem e uma grande dose de auto-confiança. The Lamb Lies Down on Broadway, ou simplesmente The Lamb, revelou-se um disco invulgar por várias razões. Por um lado, é um disco que conta uma história. Não uma história lamechas do género de Tommy dos The Who ou um conto paranóico à moda de The Wall dos Pink Floyd, mas sim uma narrativa surreal, repleta de referências oníricas, satíricas e mitológicas. A história é suficientemente complexa para despertar a curiosidade a desconhecidos.

The Lamb é também um acto de coragem porque não pisca os olhos aos tops. É uma obra sem compromissos comerciais e, por essa razão, faz mais sentido quando ouvida integralmente e na sequência em que foi criada. Alterna temas longos (In the Cage, The Lamia ou The Colony of Slippermen) com suaves momentos de transição instrumental (Hairless Heart, Silent Sorrow in Empty Boats, e The Ravine). Sublinham-se ainda saudáveis doses de experimentalismo (The Waiting Room), surrealismo (Carpet Crawlers, The Chamber of 32 Doors) e teatralidade (The Colony of Slippermen). Como se toda esta diversidade não fosse já por si cativante, há ainda algumas canções de formato mais tradicional como Counting Out Time, Lilywhite Lilith e Back in N.Y.C., esta última tendo sido alvo de uma versão por Jeff Buckley e editada no álbum póstumo Sketches for my Sweetheart the Drunk.

Apesar dos aspectos notáveis de toda esta obra, não há gravações em vídeo ou filme, o que ajudou a torná-la mítica. No You Tube, local de eleição para procurar gravações raras, todas as interpretações de músicas deste álbum com a formação original dos Genesis alternam películas de filme original com imagens fotográficas dos mesmos concertos desta digressão. Um exemplo destes documentos cinematográficos precários é a selecção que escolhi para aqui, uma interpretação teatral de Peter Gabriel em In the Cage:

A excentricidade de Peter Gabriel era tão grande que, por vezes, usava máscaras que dificultavam a interpretação dos temas, como é notório nesta rara interpretação de The Colony of Slippermen:

Para aqueles que são pouco dados a achados arqueológicos per se e preferem ver como aparentavam os Genesis com Peter Gabriel, nada como apreciar uma gravação para televisão do tema Musical Box realizada em 1972 e que é hoje um verdadeiro clássico. Se tiverem paciência para ouvir a interpretação integral, reparem nas mudanças de ritmo e melodia. O tema começa quase como uma caixa de música, mas chega a atingir momentos daquilo que um crítico recente chamou proto-grunge. Quase diria que Peter Gabriel é... lindo! As suas letras falam de Nat King Cole, infantários, croquet e caixas de música. Phil Collins é o hippie da bateria, Michael Rutherford quase invisível no baixo, e os dois génios musicais da banda em todo o seu esplendor: Tony Banks nas teclas e Steve Hackett, um guitarrista com formação clássica, na guitarra solo. O vídeo e a banda podem aparentar datados, mas há aqui contributos que irão influenciar diversos movimentos musicais dos anos 80 e 90.

quinta-feira, junho 07, 2007

16. The Good Son (1990) - Nick Cave & The Bad Seeds


Ouvi Nick Cave pela primeira vez com 18 anos. Não foi nos The Boys Next Door a cantar "I've been contemplating suicide..."(Nota: primeira banda de Nick Cave, quando este tinha 16 anos); também não foi a gritar desalmadamente nos Birthday Party; nem sequer era Nick a suplicar From Her to Eternity no filme de Wim Wenders "As Asas do Desejo". Nada disso. A primeira vez que ouvi Nick Cave foi a cantar em português o tema Foi Na Cruz, do álbum The Good Son. Desde aí nunca mais deixei de gostar de Nick Cave, da sua poesia, da sua música e da sua personalidade, isto apesar de algumas desilusões ao longo dos anos, como foi o caso de Nocturama, que é, sem dificuldade, o pior disco alguma vez editado pelo homem.

Em The Good Son, Nick Cave assume uma postura menos revoltada, quase soft, relativamente liberta de drogas e, influenciado pelo seu namoro com a estilista brasileira Viviane Carneiro, compõe o já mencionado Foi Na Cruz, baseado na canção tradicional brasileira de inspiração religiosa. Mas as canções que ficam para a história são sobretudo as baladas The Ship Song e Lucy, num registo melódico até aqui quase desconhecido para os fãs de Nick. Pessoalmente, e numa veia mais depressiva, nada supera The Weeping Song, que se tornou a minha canção favorita deste disco e uma das minhas predilectas de toda a carreira de Nick com os Bad Seeds. Para recordarem este tema, deixo-vos com o seu vídeo-clip entre o genial e o kitsch...

segunda-feira, maio 28, 2007

15. Funeral (2004) - Arcade Fire


Este é, para já, o melhor disco do século XXI. Lançado a 14 de Setembro de 2004 na América do Norte, só chegou ao conhecimento da generalidade do público na Europa em meados de 2005. E foi quase uma revolução musical!

A obra toma o nome Funeral, a partir da estranha coincidência de nove familiares dos seis membros principais da banda terem falecido na altura em que o disco estava a ser gravado no mítico Hotel2Tango, em Montréal, ao longo de um par de Invernos inclementes, como só os de Montréal sabem sê-lo.

Não duvidem: estamos perante uma obra fantástica, para apreciar do primeiro ao último tema. Mas, como noutros casos, há sempre alguns temas que se destacam por serem mais "radiofónicos". A voz de Win Butler domina a maioria dos temas e está também associada aos melhores. Tunnels é um crescendo musical magnífico a marcar a entrada, Power Out faz lembrar uns New Order muito, mas mesmo muito, zangados ("Ice has covered up my parents hands don't have any dreams don't have any plans" e "I went up into the night, I went out to pick a fight with anyone"). Wake up é um verdadeiro hino ao crescimento, sublinhando que a maturidade tem um preço, geralmente associado com maior cinismo e desconfiança ("I guess we'll just have to adjust").

Nascida no Haiti, a charmosa Régine Chassagne dedica a canção homónima ao país do qual é natural. A sua voz é estranha... desafinada, diriam alguns, e provavelmente com razão. E, no entanto, a sua presença em palco é espontânea, apaixonante e única. Qual o coração masculino mais empedernido que não se derrete perante os seus lamentos sobre as horríveis "nuits de Duvalier"?