Os alucinogénios alimentaram a produção literária de Huxley. Bukowski era incapaz de escrever uma linha sem a companhia da garrafa. O ópio era o motor do génio de Burroughs. E até os Beatles só foram verdadeiramente geniais com a ajuda do LSD e da Cannabis. A ideia recorrente de que a genialidade depende da ingestão em quantidades desmesuradas de substâncias aditivas incomoda-me. Desde que casei e adoptei um saudável horário de trabalho que a única substância que consumo em doses excessivas é a cafeína. Inspira-me a actividade científica e académica, mas temo que os resultados em termos de crítica musical sejam deprimentes, como o poderá comprovar esta crónica vazia de ideias.
Este intróito serve para manifestar a minha inveja pelo estado de embriaguez permanente de Tom Waits quando produziu esta obra magistral, gravada ao vivo em 1975, entre uma mão cheia de privilegiados, num estúdio em Hollywood, Califórnia. O ambiente no estúdio lembra-nos um piano bar fumarento, pintado com cortinas de veludo roxo e decorado com fregueses colados ao balcão, face a um empregado entediado pela ausência de gorjetas que compensem o diálogo mantido com as moscas de bar embriagadas.
Mas há sempre a possibilidade de eu estar enganado quanto a este ambiente. O título do disco – Nighthawks at the Diner – é inspirado pelo fabuloso quadro do pintor do realismo americano Edward Hopper. A representação da luz, a nostalgia da América passada e a separação entre o espaço interior, mais acolhedor, e o espaço exterior, mais hostil, ajudam a melhorar o imaginário que acompanha o disco de Waits. (A propósito de Hopper, se um dia ganhar o Euromilhões, compro um original.)
Depois há esse detalhe das canções. Ainda não falei delas. Piano e voz bastam a este crooner genial, que não necessita de exposição mediática para se fazer rodear por uma legião de admiradores. Mas a banda que o acompanha, torna todo este affair ainda mais apetecível, na linha de um excelente clube de jazz que não tem hora prevista de fecho. As longas explicações entre canções são momentos hilariantes, ao nível do melhor cómico de stand-up: “Conheço uma mulher que já casou tantas vezes que até tem marcas de arroz na cara.” Pois… para isso é preciso viver muito e de modo especial, mais ou menos a história de vida do músico. Tom Waits não precisa de elogios; precisa que o ouçamos a viver.
Este intróito serve para manifestar a minha inveja pelo estado de embriaguez permanente de Tom Waits quando produziu esta obra magistral, gravada ao vivo em 1975, entre uma mão cheia de privilegiados, num estúdio em Hollywood, Califórnia. O ambiente no estúdio lembra-nos um piano bar fumarento, pintado com cortinas de veludo roxo e decorado com fregueses colados ao balcão, face a um empregado entediado pela ausência de gorjetas que compensem o diálogo mantido com as moscas de bar embriagadas.
Mas há sempre a possibilidade de eu estar enganado quanto a este ambiente. O título do disco – Nighthawks at the Diner – é inspirado pelo fabuloso quadro do pintor do realismo americano Edward Hopper. A representação da luz, a nostalgia da América passada e a separação entre o espaço interior, mais acolhedor, e o espaço exterior, mais hostil, ajudam a melhorar o imaginário que acompanha o disco de Waits. (A propósito de Hopper, se um dia ganhar o Euromilhões, compro um original.)
Depois há esse detalhe das canções. Ainda não falei delas. Piano e voz bastam a este crooner genial, que não necessita de exposição mediática para se fazer rodear por uma legião de admiradores. Mas a banda que o acompanha, torna todo este affair ainda mais apetecível, na linha de um excelente clube de jazz que não tem hora prevista de fecho. As longas explicações entre canções são momentos hilariantes, ao nível do melhor cómico de stand-up: “Conheço uma mulher que já casou tantas vezes que até tem marcas de arroz na cara.” Pois… para isso é preciso viver muito e de modo especial, mais ou menos a história de vida do músico. Tom Waits não precisa de elogios; precisa que o ouçamos a viver.
Nighthawks at the Diner (1942) by Edward Hopper
Projecto 200 anos de música. A ideia é simples. Ao longo de duzentas entradas, o Piano na Floresta vai listar duzentas obras musicais, uma por cada ano, iniciando a contagem decrescente a partir do ano 2000. Se tudo correr conforme planeado, será possível identificar um disco ou uma obra composta em cada um dos anos no intervalo entre o ano 1800 e o ano 2000. Não há limitações de género musical. A qualidade e a reputação da obra não constituem critério de escolha, embora se entenda que ela é, de algum modo, representativa do ano em questão.
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