segunda-feira, agosto 04, 2008

1978. Real Life - Magazine

O disco estava no auge. É o ano em que os Boney M. lançam alguns dos seus vómitos mais famosos (Rivers of Babylon e Rasputin), Rod Stewart tem delírios em Do Ya Think I'm Sexy e os Village People editam o medonho YMCA. Nesta conjuntura altamente adversa à música, é difícil encontrar alguma coisa de jeito. Aliás, 1978 arrisca-se a ficar para a história como o pior ano de sempre em termos musicais. As poucas excepções são a estreia de Siouxsie and the Banshees com o álbum The Scream, o segundo álbum dos Japan de David Sylvian (Obscure Alternatives), The Man Machine dos Kraftwerk, e o absolutamente contra-corrente Sultans of Swing dos Dire Straits. Tirando estes momentos de brilhantismo, cada um no seu género, o resto é tudo muito, muito mau.

A minha escolha para ilustrar o ano de 1978 não é, pelas razões apontadas, do conhecimento geral. Os Magazine são a banda de Howard DeVoto (ex-Buzzcocks) e Barry Adamson (que viria a trabalhar com Nick Cave nos Bad Seeds) e praticavam uma mistura de punk-rock-new wave, se é que tal coisa alguma vez existiu. A electrónica está presente em doses saudáveis, mas não desfoca o que é central numa banda de rock. A estrutura dominante continua a ser a ligação baixo-bateria-guitarra eléctrica e as canções são directas e sem gordura. Os Magazine ainda são uma banda punk na atitude, mas já são new wave na expressão melódica.

Não alheios ao contexto da época, os Magazine editaram Shot By Both Sides como single, um tema muito marcadamente "punk", mas o legado de Real Life encontra-se mais na semente de mudança que lança do que propriamente no seu destaque no contexto da época. O disco é composto por nove temas, dos quais se destacam Definitive Gaze, My Tulpa e The Light Pours Out of Me. Há ainda um piscar de olho a David Bowie em Burst, um teclado a imitar um cravo do século XVIII em Motorcade e uma valsinha diabólica, que bem podia ter sido escrita pelos Bauhaus, em The Great Beautician in the Sky.

Em resumo, Real Life não é um grande álbum, mas é um disco que ouço regularmente, o que, numa colecção de dois milhares, já não significa pouco! O You Tube é a porta para o passado e aí encontrei duas preciosidades:
1. The Great Beautician in the Sky
:

2. Definitive Gaze (numa versão adulteradíssima em relação ao original):


Projecto 200 anos de música. A ideia é simples. Ao longo de duzentas entradas, o Piano na Floresta vai listar duzentas obras musicais, uma por cada ano, iniciando a contagem decrescente a partir do ano 2000. Se tudo correr conforme planeado, será possível identificar um disco ou uma obra composta em cada um dos anos no intervalo entre o ano 1800 e o ano 2000. Não há limitações de género musical. A qualidade e a reputação da obra não constituem critério de escolha, embora se entenda que ela é, de algum modo, representativa do ano em questão.

2 comentários:

Bolhinha Mágica disse...

:D

Ruela disse...

ainda bem que a década de 80 não foi assim...totalmente o oposto.