segunda-feira, agosto 10, 2009

1945. Concerto para Piano Nº 3 - Béla Bartók

Quando contextualizado na obra de Béla Bartók, o Concerto para Piano nº 3 é invulgarmente melódico e acessível, sobretudo se comparado com os dois primeiros Concertos para Piano, nos quais as teclas servem mais a função de percussão do que de melodia (1). Dir-se-ia que Bartók renega parte do seu passado, optando por uma melodia mais leve, ao estilo neoclássico, o que é sobretudo notório no segundo andamento (Adagio Religioso), um coral com evidentes influências de Beethoven (2).

Este cariz mais ligeiro da obra parece ter-se ficado a dever a uma combinação de eventos que animaram Bartók após os primeiros anos de exílio nos Estados Unidos na sequência do eclodir da 2ª Guerra Mundial. A sua situação financeira recuperou com o sucesso do Concerto para Orquestra e a sua saúde melhorou temporariamente. O facto do Concerto para Piano nº3 ser dedicado à sua segunda mulher, a pianista Ditta Pásztory pode ajudar igualmente a explicar o carácter de menor complexidade da obra, especulando-se que Bartók desejava que Ditta fosse capaz de interpretar a peça após a morte do compositor.

Um certo optimismo transparece por toda a obra, talvez também como resultado da expectativa de Bartók em regressar à pátria da qual tinha sido afastado em consequência da 2ª Guerra Mundial. Infelizmente, Bartók viria a falecer em Nova Iorque, em Setembro de 1945, vítima de leucemia, sem ter tido a oportunidade de concretizar esse desejo. O Concerto para Piano Nº3 viria a ser concluído pelo seu discípulo Tibor Serly.

(1) Posslac, Cris. 1994. Bartók Piano Concertos Nºs 1-3, Jeno Jandó, Piano, Budapest Symphony Orchestra, András Ligeti, Conductor. Naxos Edition 8.550771.
(2) Morgan, Robert P. 1991. Twentieth-Century Music. New York, NY: W. W. Norton & Company, pp. 179-186.



Projecto 200 anos de música. A ideia é simples. Ao longo de duzentas entradas, o Piano na Floresta vai listar duzentas obras musicais, uma por cada ano, iniciando a contagem decrescente a partir do ano 2000. Se tudo correr conforme planeado, será possível identificar um disco ou uma obra composta em cada um dos anos no intervalo entre o ano 1800 e o ano 2000. Não há limitações de género musical. A qualidade e a reputação da obra não constituem critério de escolha, embora se entenda que ela é, de algum modo, representativa do ano em questão.

1 comentário:

Paulo Cunha disse...

O seu blog é sensacional! Caí aqui por acaso, ao fazer uma busca pela Sinfonia nº 3 do Górecki. Vi que você transita pelo pop/rock e pelo clássico com igual competência. Realmente muito bom! Um abraço.