quarta-feira, dezembro 30, 2009

1941. Quarteto para o Fim do Tempo - Olivier Messiaen

O cenário é o campo de prisioneiros alemão Stalag VIII A em Görlitz (actualmente Zgorzelec, Polónia) em que o compositor francês Olivier Messiaen está internado. A 15 de Janeiro de 1941, cerca de 400 prisioneiros acompanhados por guardas alemães reúnem-se para assistir à estreia do Quarteto para o Fim do Tempo, música de câmara composta por Messiaen para os instrumentistas internados no campo: um clarinetista, um violinista e uma violoncelista. Messiaen juntou-se-lhes ao piano para formar um quarteto invulgar e que constitui hoje a mais famosa peça de música de câmara contemporânea.

Rebecca Rischin (2003) relata na sua obra For the End of Time: The Story of the Messiaen Quartet que um dos guardas alemães do campo, Karl-Albert Brüll, apreciador da música do compositor, proporcionou-lhe condições 'excepcionais' para que pudesse trabalhar. Para além de lápis, borrachas e papel de música, foi permitido a Messiaen isolar-se num quarto vazio com um guarda de plantão à porta para evitar que fosse incomodado (Rischin, 2003; Ross, 2007).

O Quarteto para o Fim do Tempo é uma obra dividida em 8 andamentos, totalizando aproximadamente 50 minutos. Embora o contexto em que foi composta possa sugerir a associação entre o regime Nazi e o apocalipse, a intenção do compositor reporta-se, em abstracto, ao fim do tempo, passado e futuro, e ao início da eternidade. Segundo o próprio Messiaen, o Quarteto é uma espécie de extensão musical da passagem do Livro do Apocalipse (capítulo 10) sobre a descida do sétimo anjo ao som de trombetas consumando o mistério de Deus e anunciando o fim do tempo.

Para ilustrar a obra escolhi o primeiro andamento, intitulado Liturgia de Cristal e descrito pelo próprio Messiaen como representando o canto solitário de despertar às 3 ou 4 da manhã de um melro (o clarinete) e de um rouxinol (o violino) rodeados por um som difuso, por um halo de trinados que se perde pela copa das árvores. Transposto para o plano religioso tal equivale ao silêncio harmonioso do Céu.




Referências:
Rischin, Rebecca (2003) For the End of Time: The Story of the Messiaen Quartet. Ithaca, NY: Cornell University Press.
Ross, Alex (2007) O Resto é Ruído: À Escuta do Século XX. Alfragide: Casa das Letras.

Projecto 200 anos de música. A ideia é simples. Ao longo de duzentas entradas, o Piano na Floresta vai listar duzentas obras musicais, uma por cada ano, iniciando a contagem decrescente a partir do ano 2000. Se tudo correr conforme planeado, será possível identificar um disco ou uma obra composta em cada um dos anos no intervalo entre o ano 1800 e o ano 2000. Não há limitações de género musical. A qualidade e a reputação da obra não constituem critério de escolha, embora se entenda que ela é, de algum modo, representativa do ano em questão.

sexta-feira, dezembro 18, 2009

Música de 2009

Embora 2009 tenha sido um ano com menos entradas neste blog do que era habitual, a música continua omnipresente na minha vida. Seguem-se 10 excelentes álbuns que fizeram parte das minhas escutas regulares ao longo do ano de 2009.

Solo II - António Pinho Vargas

Andrew Bird - Noble Beast


James Blackshaw - The Glass Bead Game

Land of Kush - Against the Day

Timber Timbre - Timber Timbre
Larkin Grimm - Parplar

Elfin Saddle - Ringing for the Begin Again


Ludovico Einaudi - Nightbook

Fire on Fire - The Orchard

Clan of Xymox - In Love We Trust