
Os puristas acusaram-no de ser um "destruidor de pianos", mas a palavra "génio" é manifestamente insuficiente para descrever o americano
John Cage (1912-1992). Admirador de
Arnold Schoenberg e influenciado pelo
Budismo Zen, John Cage teve como objectivo de vida explorar a utilização musical do ruído, numa tentativa de se distanciar da composição musical enquanto forma de comunicação.
Em 1940, quando instado a compor uma peça de dança para um teatro com espaço insuficiente para um ensemble de percussão, Cage conclui que o problema era do piano e não da sala. Assim, decide introduzir vários objectos entre as cordas do piano - elásticos, porcas, parafusos, borrachas, entre outros - que permitem ao pianista produzir um conjunto de sons semelhantes a um ensemble de percussão.
Lutando contra os preconceitos associados à composição, Cage procurou que esta dependesse mais das escolhas do executante e do contexto da interpretação do que das escolhas prévias do compositor. Em
4'33'' (1952) o silêncio impera durante os 4 minutos e 33 segundos de duração da peça, em que o pianista permanece sentado, imóvel, em frente ao piano. Tal facto torna a peça integralmente dependente dos ruídos aleatórios produzidos na sala (tosse, espirros, ranger de cadeiras, bater de portas, entre outros ruídos da audiência), o que conduz a que cada interpretação seja única e irrepetível.
As
Sonatas e Interlúdios para Piano Preparado foram compostas durante 2 anos e terminadas em 1948. A sonoridade oscila, segundo o próprio Cage, entre as influências da música ocidental nos sons semelhantes a sinos e as da música oriental, sugerida pelos sons de tambores. De um modo geral, a harmonia musical encontra-se ausente, sendo a estrutura rítmica a preocupação central. Cage comparou a composição desta peça ao caminhar pela praia à descoberta de conchas e búzios que nos agradam. À medida que explorava o piano preparado, retinha as sonoridades que combinavam com a estrutura rítmica, abandonando as restantes. No limite deste método, Cage acaba por deixar cair toda a intencionalidade da composição para privilegiar a aleatoriedade.
A melhor performance disponível no You Tube das "Sonatas e Interlúdios" é de Tim Ovens a interpretar a Sonata IV. O vídeo demora um pouco a carregar, mas vale a pena apreciar a preparação técnica do piano.