Na minha mente o local era cheio de mistério. Desde que vi pela primeira vez o filme Zabriskie Point de Michelangelo Antonioni que o Vale da Morte faz parte do meu imaginário. Um jovem revolucionário empenha-se até ao limite na contestação à guerra do Vietname, ignorando estrategicamente a incoerência de cometer um assassinato para levar a cabo os seus objectivos pacifistas. O filme tem uma fotografia muito bem conseguida e a música dos Pink Floyd, na sua era mais psicadélica, ajudou a torná-lo inesquecível.
Com alguma persuasão, lá consegui convencer a Ana a alinhar num desvio à nossa rota para uma experiência absolutamente original. Dizer que o Vale da Morte é um local inóspito é pouco, dada a temperatura sufocante (acima dos 45ºC) e a quase total ausência de humidade.Badwater Basin (226 pés, ou 85,5 metros, abaixo do nível do mar) arrasa com o optimismo de qualquer turista mais entusiasta e constituiu um dos pontos altos, passe a ironia, desta viagem. Sol escaldante, luz natural ofuscante, inexistência de sombra, quase total ausência de água e uma proporção gigantesca de sal tornam o ponto mais baixo do Continente Americano um dos lugares mais desoladores à face da Terra. A abundância de sal gera igualmente inúmeras miragens, convencendo o nosso cérebro da presença de água onde nenhuma existe. O oásis da fotografia seguinte é que não é uma miragem. Trata-se de um hotel de cinco estrelas em Furnace Creek, a sede do Parque Nacional do Vale da Morte e provavelmente o único local do parque em que podemos encontrar algum conforto e alívio da fornalha no exterior.
No Vale da Morte encontramos ainda este local sui generis: o campo de Golfe do Diabo. O sal cristalizado depositado e talhado pelo vento e pela chuva fornece à paisagem este aspecto rugoso em constante alteração. Como nos alterta o aviso: Cuidado! Caminhar no Campo de Golfe do Diabo é muito difícil. Uma queda pode resultar em cortes dolorosos e até em ossos partidos.
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