Londres. Anos 60. Polanski filma Deneuve. Os pesadelos da puritana Carol (Deneuve) conduzem-na à loucura, numa espiral de comportamentos e reacções cada vez mais bizarras e destituídas de sentido. Em última análise, a realidade imita o pesadelo e Carol acaba por sofrer o abuso dos homens que procura evitar fechando-se no seu apartamento e em si mesma.
O filme começa com aquelas pequenas manias. A escova de dentes de alguém no nosso copo enoja-nos, o toque de um estranho afecta-nos, um olhar mais penetrante incomoda-nos. Mas até as atitudes mais simples do dia-a-dia representam uma dose de loucura latente. Repulsa é sinistro desde o início, mas converte-se numa obra de puro medo à medida que Polanski distorce situações do quotidiano tornando-as aterradoras.
O filme é subliminar em muitos aspectos. A componente freudiana é dominante. Uma racha num passeio aparenta um púbis, a navalha aberta sugere um falo em erecção e até o mais estreito corredor sugere uma vagina. A forma como Polanski dirige é brilhante e invulgar. A câmara filma por trás dos actores, como se estes estivessem constantemente a serem perseguidos, sob ameaça e alvo de voyeurismo, um tema dominante na obra do realizador.
1 comentário:
Um dos filmes mais brilhantes de que me lembro de ter visto. A todos os níveis, simbólicos, como tu referes, em termos de realização, de performance dos actores.
Uma obra-prima, sem dúvida.
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