quarta-feira, junho 13, 2007

17. The Lamb Lies Down on Broadway (1975) - Genesis


Em Itália, o 17 é o número do azar, mas, no país em forma de bota, os Genesis de Peter Gabriel nunca tiveram outra coisa senão sorte. Desde a sua formação, no longínquo ano de 1968, os italianos desenvolveram uma relação priviligiada com a banda e esta retribuia dizendo que "quando nos queremos sentir bem, vamos para Itália". Esta relação especial com o público italiano corresponde a "um fenómeno de culto".

Em 1975, os Genesis já não eram apenas um fenómeno de culto quando lançaram aquele que viria a ser considerado, por todos os verdadeiros fãs, como o melhor disco de sempre da banda. Curiosamente, ou talvez não, eram vistos como uma banda para público masculino. Os temas não eram românticos, Peter Gabriel não era um sex-symbol e vestia roupas excêntricas em palco, de forma que nem a sua cara era visível, e na música predominavam os instrumentais e/ou as letras com significado obscuro.

Por tudo isto, lançar um duplo álbum de originais era uma manobra editorial que requeria alguma coragem e uma grande dose de auto-confiança. The Lamb Lies Down on Broadway, ou simplesmente The Lamb, revelou-se um disco invulgar por várias razões. Por um lado, é um disco que conta uma história. Não uma história lamechas do género de Tommy dos The Who ou um conto paranóico à moda de The Wall dos Pink Floyd, mas sim uma narrativa surreal, repleta de referências oníricas, satíricas e mitológicas. A história é suficientemente complexa para despertar a curiosidade a desconhecidos.

The Lamb é também um acto de coragem porque não pisca os olhos aos tops. É uma obra sem compromissos comerciais e, por essa razão, faz mais sentido quando ouvida integralmente e na sequência em que foi criada. Alterna temas longos (In the Cage, The Lamia ou The Colony of Slippermen) com suaves momentos de transição instrumental (Hairless Heart, Silent Sorrow in Empty Boats, e The Ravine). Sublinham-se ainda saudáveis doses de experimentalismo (The Waiting Room), surrealismo (Carpet Crawlers, The Chamber of 32 Doors) e teatralidade (The Colony of Slippermen). Como se toda esta diversidade não fosse já por si cativante, há ainda algumas canções de formato mais tradicional como Counting Out Time, Lilywhite Lilith e Back in N.Y.C., esta última tendo sido alvo de uma versão por Jeff Buckley e editada no álbum póstumo Sketches for my Sweetheart the Drunk.

Apesar dos aspectos notáveis de toda esta obra, não há gravações em vídeo ou filme, o que ajudou a torná-la mítica. No You Tube, local de eleição para procurar gravações raras, todas as interpretações de músicas deste álbum com a formação original dos Genesis alternam películas de filme original com imagens fotográficas dos mesmos concertos desta digressão. Um exemplo destes documentos cinematográficos precários é a selecção que escolhi para aqui, uma interpretação teatral de Peter Gabriel em In the Cage:

A excentricidade de Peter Gabriel era tão grande que, por vezes, usava máscaras que dificultavam a interpretação dos temas, como é notório nesta rara interpretação de The Colony of Slippermen:

Para aqueles que são pouco dados a achados arqueológicos per se e preferem ver como aparentavam os Genesis com Peter Gabriel, nada como apreciar uma gravação para televisão do tema Musical Box realizada em 1972 e que é hoje um verdadeiro clássico. Se tiverem paciência para ouvir a interpretação integral, reparem nas mudanças de ritmo e melodia. O tema começa quase como uma caixa de música, mas chega a atingir momentos daquilo que um crítico recente chamou proto-grunge. Quase diria que Peter Gabriel é... lindo! As suas letras falam de Nat King Cole, infantários, croquet e caixas de música. Phil Collins é o hippie da bateria, Michael Rutherford quase invisível no baixo, e os dois génios musicais da banda em todo o seu esplendor: Tony Banks nas teclas e Steve Hackett, um guitarrista com formação clássica, na guitarra solo. O vídeo e a banda podem aparentar datados, mas há aqui contributos que irão influenciar diversos movimentos musicais dos anos 80 e 90.

3 comentários:

Sea disse...

foram um fenómeno de culto, preenchidos com enormes talentos musicais, ainda assim, nunca consegui gostar deles, nem depois dos seus membros em carreiras a solo, por isso, pessoalmente, os Genesis acabam por ser uma banda curiosa.

Anónimo disse...

É uma obra Fascinante...

margens confluentes disse...

Certamente um dos meus 5 discos favoritos, fonte permanente de inspiração e revisitação. Muito havia para dizer e pouco foi dito. Uma apresentação, quando muito. Numa nota positiva, excelente ideia para um blog, dissertar sobre discos que da lei da morte se vão libertando.