sexta-feira, outubro 24, 2008

1971. IV - Led Zeppelin

O ano de 1971 é especial. O autor deste blog nasceu no mesmo ano em que o quarto álbum dos Led Zeppelin foi lançado. Antes de prosseguirmos, um aviso prévio: não gosto de metal, em qualquer uma das suas formas (heavy metal, death metal, trash metal, rap metal, etc.). Este facto, aparentemente limitador em alguém que adora música, torna esta escolha um facto notável. Na verdade, Led Zeppelin IV, Zoso, ou simplesmente IV, é um dos discos mais influentes para qualquer banda de metal que se preze. Vejamos as razões que conduziram à minha escolha.

Se é verdade que o início do disco é rock'n'roll em estado puro (Black Dog e Rock and Roll), os temas seguintes são de uma versatilidade invulgar para o início dos anos 70. À semelhança de outros, também eu considero que os anos 70 são, grosso modo, a pior década da música popular, até porque os momentos de criatividade genial da segunda parte da década de 60 teriam, inevitavelmente, de descambar numa longa ressaca. Por isso mesmo, o trinado do bandolim da terceira faixa, The Battle of Evermore, mostra uns Led Zeppelin completamente transfigurados, falando do Príncipe da Paz, da Rainha da Luz e dos anjos de Avalon. Lírico. Místico. A participação da sacerdotisa Sandy Denny completa o quadro onírico.

Mas é evidentemente Stairway to Heaven que marca o álbum. Oito minutos para a história. O tema justifica a razão pela qual os Led Zeppelin são uma banda que desafia categorização. A guitarra dedilhada e a flauta que abrem Stairway to Heaven são lentamente substituídas por um crescendo musical que culmina num debitar de energia típico da banda, mas que exige ouvidos menos conformistas e mais audazes. Se é verdade que qualquer estudante de guitarra clássica aprende aqueles acordes iniciais como uma forma de culto à banda, também não é menos verdade que muitos deles nunca chegam apreciar toda a intensidade de Stairway to Heaven devido a uma insuficiente versatilidade no domínio do tema.

A influência do blues rock em Led Zeppelin IV é notável e estende-se à maioria dos seus temas. Tal como acontece com os Doors, para quem o blues era o core da música, devidamente enquadrado na poesia de Jim Morrison, as orquestrações mais cuidadas dos Led Zeppelin não diluem a influência dos blues, assumidos do primeiro ao último momento em IV. A originalidade reside na mescla única da voz que desafia classificação de Robert Plant, a guitarra do virtuoso Jimmy Page e o ritmo poderoso imposto pela bateria de John Bonham e pelo baixo marcado de John Paul Jones. When the Levee Breaks é, sob esse aspecto, Zeppelin em estado puro: directo, confiante e arrebatador.

The Battle of Evermore (mp3)
When the Levee Breaks (mp3)

Projecto 200 anos de música. A ideia é simples. Ao longo de duzentas entradas, o Piano na Floresta vai listar duzentas obras musicais, uma por cada ano, iniciando a contagem decrescente a partir do ano 2000. Se tudo correr conforme planeado, será possível identificar um disco ou uma obra composta em cada um dos anos no intervalo entre o ano 1800 e o ano 2000. Não há limitações de género musical. A qualidade e a reputação da obra não constituem critério de escolha, embora se entenda que ela é, de algum modo, representativa do ano em questão.

4 comentários:

Desabafosescritos disse...

Que curioso. Há uns dias atrás, o meu cunhado, uns anos mais velho que eu, mostrava-me este cd, e esta música em particular. Que eu já não ouvia há uns anos. Foi curioso porque ele comprou uma agulha nova para o seu gira-discos, e anda todo entusiasmado, novamente, com os seus vinis...incluindo este, e os dos Génesis. Bj

portasemfechadura@gmail.com disse...

Concordo plenamente com a escolha, deste album, um épico!

O som quente do vinil com um bom sistema de amplificação, uma exelente agulha, e um vinil sem riscos é melhor que qualquer formato digital! Além disso, todo a envolvente, de colocar o disco no gira-discos, a agulha, torna o vinil um objecto sagrado e o culto da música um prazer raro. Só é pena que os preços dos vinis sejam cada vez mais caros, quando se fazem re-edições..

Ruela disse...

Excelente!


Abraço.

Fernando disse...

Depois dos vossos comentários sobre o vinil, tenho de assumir uma fraqueza: só ouço vinis quando vou a casa dos meus pais e pego nos meus velhos discos.

Como sugere o Pedro, há todo um ritual associado à audição do vinil que desapareceu com o digital, sobretudo com os mp3, ipods e similares.