Antes de terem a sua reputação musical arruinada pela influência nefasta da carreira a solo de Phil Collins, os Genesis faziam a música mais melódica à face do planeta. Não é apenas um elogio desmesurado da minha parte. Há um espantoso esbanjar de melodias nos primeiros quatro ou cinco álbuns dos Genesis (período de 1970 a 1975) que daria para uma banda pop ter assegurada uma série consecutiva de êxitos de vendas. Os Genesis, porém, articulavam essas melodias em longos temas, pouco ajustados à dimensão de singles, sem se preocuparem com o aparente desperdício melódico presente nos seus LPs de vinil.
Em Trespass (1970), o primeiro álbum "maduro" da banda, as orquestrações são subtis, mas frequentemente luxuosas. Os Genesis alternam momentos de flautas pastorais e com crescendos poderosos sustentados pelas teclas de Tony Banks e na voz firme e suave de Peter Gabriel. Este último é o génio óbvio por trás da criação artística e coreográfica da banda neste período. Não há qualquer tipo de arrogância ou pedantismo subjacente à música, mas a confiança que transparece nas interpretações é inegável.
Trespass é um disco que toca as margens do que viria a ser conhecido como rock progressivo ou prog-rock, mas evita cair na armadilha do facilitismo e dos excessos de orquestração cometidos pelos Yes. A subtileza dos arranjos é sobretudo visível em Stagnation, o meu tema preferido. O tal desperdício melódico atinge aqui a apoteose, através de uma estranha, mas eficaz mistura de folk britânico com rock progressivo. Ah! E as teclas! Aquelas teclas gentis que debitam melodias celestiais umas atrás das outras, como se não houvesse amanhã...
Mas Peter Gabriel e os restantes Genesis ainda têm tempo para se enfurecer em The Knife. Uma mistura explosiva de prog-rock e acelerações típicas de proto-metal. A combinção é extremamente eficaz e permitiu ao tema tornar-se o mais influente do álbum e um favorito ao vivo para a maioria dos primeiros fãs da banda. As interpretações de Gabriel também ajudaram The Knife a assumir o estatuto mítico que merece.
Sem mais delongas, aqui ficam Stagnation e The Knife (numa versão impressionante de 1973, já com Phil Collins na bateria).
Projecto 200 anos de música. A ideia é simples. Ao longo de duzentas entradas, o Piano na Floresta vai listar duzentas obras musicais, uma por cada ano, iniciando a contagem decrescente a partir do ano 2000. Se tudo correr conforme planeado, será possível identificar um disco ou uma obra composta em cada um dos anos no intervalo entre o ano 1800 e o ano 2000. Não há limitações de género musical. A qualidade e a reputação da obra não constituem critério de escolha, embora se entenda que ela é, de algum modo, representativa do ano em questão.
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