Portrait é o segundo álbum dos The Walker Brothers, que não eram irmãos nem se chamavam Walker: Scott Engel, John Maus e Gary Leeds. À partida, os leitores podem pensar tratar-se de uma boys band da época, mas nada de mais errado. O som que caracteriza a banda é dominado pela voz de barítono de Scott 'Walker' e pela secção de cordas luxuosas que saturam todo o som. Ao produzirem uma versão muito própria da famosa wall of sound, criada pelo conhecidíssimo produtor Phil Spector, os The Walker Brothers viriam a influenciar músicos que merecem hoje o máximo respeito dos seus pares, como sejam os Tindersticks, Divine Comedy ou Nick Cave.
Portrait não é um álbum particularmente diferente dos três editados pela banda nos anos 60. Contém temas originais compostos por Scott (Saturday's Child ou I Can See It Now), alternados com clássicos do jazz e dos blues (Summertime, de Gershwin ou People Get Ready, de Curtis Mayfield). A reedição de que sou orgulhoso proprietário inclui ainda os lados A e B dos singles que foram lançados contemporaneamente ao álbum, dos quais se destaca naturalmente The Sun Ain't Gonna Shine Anymore, uma versão do original dos The Four Seasons, que recebe o tratamento habitual da banda e do seu produtor (Bob Crewe), transformando-o no sucesso que ainda hoje é plenamente reconhecido por quem gosta de clássicos da pop.
A brilhante carreira a solo de Scott Walker demonstra igualmente que o sucesso meteórico da banda não foi casual e se propagou no tempo com uma resistência invulgar, sobretudo no que se poderia pensar ser um estilo musical datado. Talvez a principal explicação para semelhante durabilidade resida na voz de Scott Walker, que considero das mais maravilhosas que já escutei.
The Sun Ain't Gonna Shine Anymore (mp3)
Projecto 200 anos de música. A ideia é simples. Ao longo de duzentas entradas, o Piano na Floresta vai listar duzentas obras musicais, uma por cada ano, iniciando a contagem decrescente a partir do ano 2000. Se tudo correr conforme planeado, será possível identificar um disco ou uma obra composta em cada um dos anos no intervalo entre o ano 1800 e o ano 2000. Não há limitações de género musical. A qualidade e a reputação da obra não constituem critério de escolha, embora se entenda que ela é, de algum modo, representativa do ano em questão.
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