Por alguma razão as grandes bandas da música rock se tornaram grandes... No início das suas carreiras fizeram música com que ninguém sonhava. A fase psicadélica dos Pink Floyd é menos conhecida do que a generalidade dos seus trabalhos, mas nem por isso é pouco estimulante. Tal como aconteceria posteriormente, os Floyd iniciais estavam destinados a constituir uma influência para as décadas seguintes.
Let There Be More Light, tema de abertura do álbum A Saucerful of Secrets, foi recentemente alvo de um plágio descarado pela banda canadiana Hrsta, no tema Swallow's Tail do seu trabalho Stem Stem in Electro. Como o plágio é, segundo dizem, "a melhor forma de elogio", seguramente que a banda de Mike Moya tem uma admiração incontida por este álbum dos Floyd. Para ser inteiramente justo, hoje em dia os músicos inventam muito pouco. Tenho um amigo ainda mais fanático por música do que eu, que afirma que toda a música pop-rock foi inventada nos anos 60. Tudo o que se seguiu foi simplesmente redução, reciclagem e reutilização.
Nesse espírito, A Saucerful of Secrets é, como o próprio nome indicia, um maná de ideias para músicos da actualidade. Corporal Clegg é música de feira com uma guitarra distorcida proto-Pixies. Set the Controls for the Heart of the Sun é marcado pela percussão e pela voz quase sussurada de Roger Waters, sob um suave manto de teclas psicadélicas e um baixo em destaque. É completamente invulgar na sua estrutura: tem um nome longo, ausência de letras, presta-se à improvisação e tornar-se-ia um dos favoritos dos Floyd ao vivo nesta primeira fase da sua carreira. A terminar, Jugband Blues é o opus final de Syd Barrett com os Floyd.
Mas é o tema que dá título ao disco que o torna um produto radical para a era em que foi lançado. Os 12 minutos de A Saucerful of Secrets são uma experiência alucinogénica só ultrapassável por The End dos The Doors. Os primeiros 7 minutos são quase cacofonia sonora, difícil de ouvir para a maioria, mas extremamente interessante enquanto exercício de improvisação dissonante. Cada instrumento - guitarra eléctrica, bateria e piano - assume à vez o papel principal na condução do ouvinte para paisagens sonoras inexploradas no contexto do rock e que só têm paralelo nos trabalhos do compositor de música contemporânea György Ligeti. Por esse motivo, é absolutamente surpreendente que, lá pelos 8 minutos, se inicie uma secção final que suaviza tudo o que se ouve anteriormente. A Saucerful of Secrets é quase uma demonstração de como do caos sonoro pode surgir a música mais celestial e melódica, apenas porque os seus autores assim o desejaram.
Set the Controls for the Heart of the Sun (mp3)
A Saucerful of Secrets (mp3)
Projecto 200 anos de música. A ideia é simples. Ao longo de duzentas entradas, o Piano na Floresta vai listar duzentas obras musicais, uma por cada ano, iniciando a contagem decrescente a partir do ano 2000. Se tudo correr conforme planeado, será possível identificar um disco ou uma obra composta em cada um dos anos no intervalo entre o ano 1800 e o ano 2000. Não há limitações de género musical. A qualidade e a reputação da obra não constituem critério de escolha, embora se entenda que ela é, de algum modo, representativa do ano em questão.
1 comentário:
Profundo seu comentário a cerca deste excelente álbum do Pink Floyd.
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