Miles Davis reinventou o jazz várias vezes ao longo da sua carreira, com o seu pecúlio de álbuns originais a roçar a meia centena. De todas as revoluções que operou, a fusão jazz-rock terá sido a mais radical, e aquela que lhe custou o maior número de fãs do "velho jazz". Bitches Brew (1969) é a face mais alucinante dessa revolução, perfeitamente visível no surrealismo da capa e da música.
Escrever sobre este duplo álbum, gravado em 1969, é uma tarefa quase impossível. A música não é melodiosa, previsível ou estruturada. Com duração superior a 20 minutos cada, os dois primeiros temas - Pharaoh's Dance e Bitches Brew - constituem longas improvisações do trompete de Miles Davis sobre um fundo caótico de sonoridades eléctricas, tecidas pelo piano e baixo eléctricos e pelo saxofone soprano. Tentar encontrar padrões melódicos no seio destas imensas improvisações pode ser tarefa hercúlea, sobretudo para ouvidos pouco pacientes para explorar texturas musicais densas.
Pelo que foi escrito no parágrafo anterior, ninguém esperaria que este fosse um best seller. Mas o facto é que Bitches Brew foi o primeiro disco de ouro de Miles Davis, vendendo mais de meio milhão de cópias nos Estados Unidos. Embora não seja um adepto fervoroso da Wikipedia, podem consultar o artigo referente ao álbum para constatarem o seu impacto em termos de inovação, gravação e pós-produção.
Bitches Brew (mp3)
Miles Runs the Voodoo Down (mp3)
Projecto 200 anos de música. A ideia é simples. Ao longo de duzentas entradas, o Piano na Floresta vai listar duzentas obras musicais, uma por cada ano, iniciando a contagem decrescente a partir do ano 2000. Se tudo correr conforme planeado, será possível identificar um disco ou uma obra composta em cada um dos anos no intervalo entre o ano 1800 e o ano 2000. Não há limitações de género musical. A qualidade e a reputação da obra não constituem critério de escolha, embora se entenda que ela é, de algum modo, representativa do ano em questão.
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