sexta-feira, dezembro 22, 2006

Os Melhores de 2006

Aqui fica a minha lista dos melhores do ano de 2006. Junto aos melhores temas de cada álbum, deixo links para o You Tube para quem desejar conhecer o género musical. Este post deu um trabalhão a fazer, por isso... aproveitem! Feliz Ano de 2007!

1. Black Ships Ate the Sky – Current 93


Nem sempre quantidade é sinónimo de qualidade, mas aqui estão os melhores 75 minutos do ano de 2006. David Tibet: poeta, compositor, pregador, génio visionário por trás dessa jangada de criatividade chamada Current 93 convidou um grupo numeroso de amigos para trabalhar consigo nesta obra, que resulta de um sonho intenso preconizando o apocalipse e a segunda vinda de Cristo à terra. Dito assim parece pretensioso, mas vejam os nomes que gravitam em torno de Tibet: Marc Almond, Antony, Bonnie ‘Prince’ Billy, Ben Chasny, Shirley Collins, Baby Dee, Michael Cashmore, Pantaleimon, Clodagh Simonds, entre muitos outros. Há vários momentos brilhantes ao longo deste disco, dominado pela guitarra acústica e pela poesia de Tibet, e que pode ser inserido na categoria fluida do folk alternativo. Destacam-se as oito (!) versões da mesma canção – Idumaea – cantadas por oito dos nomes mencionados, mas que são totalmente distintas entre si, convencendo-nos de que se tratam de temas efectivamente diferentes. As palavras que aqui escrevo não fazem justiça à dimensão da obra, quer às nuances musicais, quer à riqueza poética. Depois de uma carreira com mais de 30 discos originais, repleta de obras-primas, como Thunder Perfect Mind, All the Pretty Little Horses ou Sleep Has His House, os Current 93 lançam mais um disco genial, que desafia qualificação, e complica ainda mais a tarefa de determinar qual o melhor momento da carreira da banda.

Melhores frases: “Soon as from earth I go / What will become of me? / Eternal happiness or woe / Must then my fortune be / Waked by the trumpet’s sound / I from my grave shall rise / And see the Judge with glory crowned / And see the flaming skies

Melhores temas: Sunset (The Death of Thumbelina), Idumaea (versão acapella de Antony), Idumaea (versão Baby Dee) (http://www.youtube.com/watch?v=0XOz9CtFy0s) e Black Ships Were Sinking Into Idumaea.

Editora: Durtro Jnana 2112CD

2. Songs from the Coal Mine Canary – Little Annie

Conheci Little Annie Anxiety pelas suas colaborações com David Tibet e os seus Current 93, mas desde cedo percebi que a sua voz estava talhada para momentos memoráveis. Songs from the Coal Mine Canary é uma viagem autobiográfica pela decadência física, psíquica e moral das quais só o Amor pode libertar. A voz abagaçada de Little Annie é acompanhada pelo som do piano e de cordas com melodias suaves, passando pelos blues, pelo jazz e pelo cabaret. A colaboração de Antony ao nível da composição é extraordinária e transforma este disco numa magnífica surpresa de 2006.

Melhores frases: “You can’t sing the blues while drinking milk”; “I have cruised my way down sex street / With the gorgeous and the vain / And I freshened up my makeup / On the boulevard of pain”

Melhores temas: The Good Ship Nasty Queen, Absynthtee-ism e Sit On Down. Annie canta igualmente The Rapture (http://www.youtube.com/watch?v=lio239PqdRk), de Antony & The Johnsons.

Editora: Durtro Jnana 1967CD

3. In the Maybe World – Lisa Germano

Ao fim de meia dúzia de cds a solo, Lisa Germano tem aqui um momento alto na sua carreira. A mudança de editora parece ter resultado em pleno. Na independente 4AD Lisa era uma estrela menor, ao passo que na pequena Young God Records de Michael Gira (ex-Swans) é o maior nome da casa. O piano domina a sonoridade de todo o disco, ainda que, por vezes, as melodias afectuosas sejam acompanhadas pela guitarra de Johnny Marr (ex-Smiths) e pelo baixo de Sebastian Steinberg. Uma das facetas que mais aprecio em Lisa Germano é a sua capacidade para cantar músicas sobre temas perturbadores com a maior candura do mundo. O contraste entre a dureza das letras e a beleza da voz e da música encontra aqui a sua máxima expressão.

Melhores frases: “Narcissistic little fairy / Why do I feel dead / Who was that stupid ogre / Messing with my head”

Melhores temas: Too Much Space (http://www.youtube.com/watch?v=9PSR72--GI8), Into Oblivion e In the Land of Fairies.

Editora: Young God Records CD YG 32

4. Live at Town Hall – Eels (Live with Strings)

Este é o melhor cd ao vivo do ano de 2006. Depois de seis álbuns de originais, Mark Oliver Everett, génio criativo e líder da banda The Eels recria um conjunto de 22 temas com a ajuda de uma secção de cordas e uma capacidade de improviso assinalável. O que mais me toca na música da banda é a voz carregada de sentimento de Everett, que nos transmite todas as emoções associadas aos temas, maioritariamente autobiográficos, que compõem a carreira dos Eels. A versão de Flyswatter, um tema originalmente gravado para o trabalho Daisies of the Galaxy, é surpreendente, com influências da música concreta contemporânea. A forma como este tema desagua no hit Novocaine for the Soul é também notável, tornando este álbum um verdadeiro must!

Melhores frases: It’s a motherfucker / Being here without you; Have you ever made love to a beautiful girl / made you feel like it’s not such a bad world / hey man now you’re really living

Melhores temas: Flyswatter, Bus Stop Boxer (http://www.youtube.com/watch?v=xVTI1IozwtA) e I'm Going To Stop Pretending That I Didn't Break Your Heart.

Editora: Vagrant Records

5. Let’s Get Out of This Country – Camera Obscura

Em 1984, Lloyd Cole escreveu uma canção com o presunçoso título Are You Ready to Be Heartbroken?. Em 2006, Tracyanne Campbell responde com “Lloyd, I’m ready to be heartbroken / I can’t see further than my own nose at the moment”. Esta singela pérola de humor entre escoceses inicia o melhor cd de música pop de 2006. A frescura da música, a beleza arrebatadora da secção de cordas e a voz inocente de Tracyanne Campbell conjugam-se para produzir a obra mais “comercial” desta listagem. A popularidade dos Camera Obscura começa a atingir proporções interessantes, ameaçando destronar o estatuto de culto dos Belle and Sebastian.

Melhores frases: “Let’s get out of this country / I’ll admit I am bored with me / I drowned my sorrows and slept around / When not in body at least in mind”

Melhores temas: Lloyd, I´m Ready to Be Heartbroken (http://www.youtube.com/watch?v=XTa_RQC8ZxA), Come Back Margaret e Let’s Get Out of This Country (http://www.youtube.com/watch?v=3t4xldu9fXQ).

Editora: Elefant ER-1123 CD

6. The Drift – Scott Walker

Numa outra incarnação, Scott Walker foi estrela pop nos anos 60, liderando os Walker Brothers e enfrentando uma legião de fãs histéricas à la Beatles. Nos anos 70 prosseguiu uma carreira a solo preenchida por versões de temas de Jacques Brel cantadas em inglês e por excelente música da sua autoria enquanto cantor-compositor. Em meados dos anos 70, a qualidade da sua música degradou-se e Scott Walker desapareceu enquanto músico criativo. Depois disso, apenas dois álbuns se destacam: Tilt (1995) e The Drift (2006). The Drift é um disco estranhíssimo, assente na voz sinistra, quase apocalíptica, de Walker, na instrumentação errática e nos efeitos sonoros caricatos (homens a descer escadas, burros a zurrar, crianças a gritar, entre outros). É uma obra difícil de ouvir de princípio a fim, mas aqueles que o conseguem são recompensados pela sensação de ouvirem algo verdadeiramente original e criativo.

Melhores frases: “Has absence ever sounded so eloquent so sad I doubt it?” “Polish the fork and stick the fork in him”; “I’ll punch a donkey in the streets of Galway!” “A chilling exploration of erotic consumption”

Melhores temas: Jesse (http://www.youtube.com/watch?v=GYyOkQUyJZM), Cue e Buzzers.

Editora: 4AD, cad 2603 cd

7. He Poos Clouds – Final Fantasy

Este é o disco mais elitista do ano. A última vez que ouvi uma fusão quase perfeita entre a música de câmara e o rock foi no “velhinho” cd dos Rasputina “How We Quit the Forest” (1998), no qual um trio de violoncelistas demolia todos os preconceitos sobre a utilização deste instrumento na música rock. Essa sensação de choque e surpresa voltou com o primeiro disco dos Final Fantasy. Owen Pallett, membro dos conhecidíssimos Arcade Fire e líder dos Final Fantasy é um génio: cria as letras, compõe as músicas e faz os arranjos para o quarteto de cordas que o acompanha na maioria dos temas. No meio de inúmeras pérolas poéticas, destaca-se esta: “A taut wire, her father’s evil empire / Jenna dreams of being physically able / To behead herself at the dinning room table”. Owen Pallett é a juventude inquieta pela força da caneta.

Melhores frases: “Now his massive genitals refuse to co-operate / And no amount of therapy can hope to save his marriage”

Melhores temas: This Lamb Sells Condos (http://www.youtube.com/watch?v=U1kL568eg1w), I’m Afraid of Japan e The Pooka Sings

Editora: Tomlab 69 cd

8. Nisht Azoy – Black Ox Orkestar



Oriundos de Montreal, Canadá, os Black Ox Orkestar são um colectivo de músicos fortemente influenciado pelas tradições das canções folk judaicas. Todo o trabalho é dominado pelos instrumentais, entrecortados por algumas porções cantadas em hebraico, com as respectivas traduções em inglês e francês disponíveis num folheto que acompanha o cd. Em alguns temas, os ritmos endiabrados do trompete e da percussão transportam-nos para os cenários delirantes dos filmes de Kusturica. O mercado discográfico dominado pelas multinacionais dificulta a divulgação generalizada de música que mistura a tradição com a vanguarda, como é o caso dos Black Ox Orkestar. Os exemplares à venda em Portugal são escassos, pelo que o download ilegal será a solução da maioria dos leitores que se quiseram aventurar nestas sonoridades exóticas da Europa de Leste/Médio Oriente.

Melhores temas: Ratsekr Grec, Tsvey Taybelakh e Dobriden.

Editora: Constellation Records CST038

9. Evangelista – Carla Bozulich


Ok. Carla Bozulich não é exactamente uma Diamanda Galas, mas aproxima-se de uma P.J. Harvey muito zangada. Evangelista é uma estreia absolutamente surpreendente. Nunca tinha ouvido falar desta mulher até ter ouvido Evangelista I, o primeiro tema do disco. Posso garantir que fiquei arrepiado de medo. Sim, puro e não adulterado medo! A entrada deste cd é um tema com mais de 9 minutos em que Bozulich grita furiosamente as letras do tema por meio de samples, loops e uma secção de cordas composta por violino, viola, violoncelo e contrabaixo tocados de forma muito pouco ortodoxa. A acrescentar a toda esta cacofonia alucinante há ainda um discurso do Elder Otis Jones, pregando no distante ano de 1936. As coisas acalmam bastante depois deste início fulgurante, mas por esta altura já Carla Bozulich tinha ganho entrada directa para a tabela dos 10 melhores do ano. Steal Away é uma ode pungente e How to Survive Being Hit by Lightning um clássico instantâneo. Curiosamente, o cd termina com uma versão muito mais soft do primeiro tema.

Melhores temas: Evangelista I, Steal Away, How to Survive Being Hit By Lightning e Pissing (http://www.youtube.com/watch?v=TCuVmV5RWEU.

Editora: Constellation Records CST041

10. Fear is On Our Side – I Love You But I’ve Chosen Darkness

Pegue-se em duas ou três boas colheitas de pop-rock britânico dos anos 80 – The Chameleons, The Sound e Echo & The Bunnymen – junte-se uns pózinhos de Interpol e uma capa de cd enigmática, e temos os I Love You But I’ve Chosen Darkness. Os sons desta banda de nome enigmático fazem lembrar as velhas cidades inglesas debilitadas pela industrialização, mas a sua proveniência é a cidade de Austin, conhecida pela cultura musical alternativa alimentada pela Universidade do Texas.

Melhores temas: The Ghost, According to Plan (http://www.youtube.com/watch?v=tw1T9sQ5gBU) e Today
Editora: Secretly Canadian SC123


quinta-feira, dezembro 21, 2006

Os Piores e os Assim-Assim de 2006

Antes da lista final dos 10 melhores cds de 2006, deixo-vos com "os outros"; aqueles cds que comprei, mas que estão longe de satisfazer ouvidos mais exigentes. Esta lista inclui:

1. As desilusões: aqueles artistas que fizeram obras de grande qualidade no passado, mas que enveredaram pelo caminho do facilitismo e/ou sucesso fácil, produzindo trabalhos abaixo ou, nalguns casos, francamente abaixo do nível anterior.
Os Mojave 3 já fizeram música pop-rock quase perfeita, mas Puzzles Like You é um disco acomodado e desinspirado. É a primeira obra medíocre de Rachel Goswell, Neil Halstead e Ian McCutcheon, e não posso deixar de sentir saudades dos primeiros dois trabalhos dos Mojave 3 ou dos fabulosos Slowdive.
Os Lambchop são um caso mais preocupante. A banda tem um passado de excelência, mas uma certa obsolescência começou a instalar-se desde o anterior AwCmon/NoyouCmon. O título do último - Damaged - é uma estranha premonição do fim da carreira da banda de Kurt Wagner.
Quanto a Peter Murphy, depois de ter dividido crítica e fans com o anterior Dust (que pessoalmente considero fabuloso), apresenta agora uma obra menor e que, felizmente, quase passou despercebida. Depois de uma obra demasiado centrada num rock desinspirado, já não sei o que posso esperar da próxima...

a. Puzzles Like You - Mojave 3
















b. Damaged - Lambchop












c. Unshattered - Peter Murphy













2. Os assim-assim: cds que têm qualidade, mas não a suficiente para aceder ao top 10. Depois de assinar em 2005 um cd a rondar a perfeição, era difícil pedir algo melhor feito com extras e versões desse tempo passado em estúdio. The Avalanche é, apesar disso, um bom trabalho e que demonstra que, mesmo nos restos, Sufjan é brilhante.
Os Legendary Pink Dots têm mais de 20 anos de carreira e, quando assim é, a novidade começa a ser escassa. No entanto, os LPD são representantes de um estilo musical invulgar, que mistura sons electrónicos alternativos com letras que descrevem cenários fantásticos e "do outro mundo". É um disco difícil, mas os LPD nunca foram uma banda fácil...
Enquanto cantor-compositor, Josh Rouse segue a linha do melhor da velha guarda (de Joni Mitchell a Leonard Cohen) e Subtítulo demonstra que Rouse continua em forma. As suaves melodias, a instrumentação delicada e as letras que cantam o amor e as suas angústias permanecem no ouvido e garantem a audição continuada sem enfado.
Isobel Campbell (dos Belle and Sebastian) e Mark Lanegan (dos Screaming Trees) formaram uma invulgar parceria musical, a fazer lembrar os duetos dos anos 60 de Lee Hazlewood com Nancy Sinatra. Qualquer coisa entre o cowboy saloon e o bordel, entre a voz delicodoce de Isobel e a voz rouca e carregada de whiskey de Mark. Se houvesse um décimo primeiro classificado...
Em Montréal vive a mais inspirada geração de músicos do chamado pós-rock. Eric Chenaux faz parte desse colectivo alternativo e apresenta aqui um cd de estreia a prometer muito. Temas desconcertantes, adornados com violino e banjo (!), para além dos tradicionais, numa banda que estende as sonoridades da editora Constellation Records para novas paragens.
Por último, Jessica Bailiff editou Feels Like Home, que mantém a linha já demonstrada nos dois trabalhos anteriores. Muito centrado na voz e guitarra eléctrica, este disco tem o mérito de ser curto, directo e simples, evitando arranjos excessivos que prejudicariam a mensagem da autora. Uma carreira para continuar a acompanhar na editora Kranky Records de Chicago.

a. The Avalanche - Sufjan Stevens












b. Your Children Placate You From Premature Graves - Legendary Pink Dots













c. Subtítulo - Josh Rouse














d. Ballad of the Broken Seas - Isobel Campbell & Mark Lanegan












e. Dull Lights - Eric Chenaux















f. Feels Like Home - Jessica Bailiff




quinta-feira, dezembro 14, 2006

Qual o melhor cd de 2006?

2006 foi um ano de colheita musical excelente. A 15 dias do final do ano está aberta a caça ao melhor cd de 2006. Sugestões aguardam-se. A lista do Piano estará disponível até ao dia de Natal.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

35 Anos às 12h40m

Completo hoje 35 anos de existência. Como é tradição cá no blog, deixo-vos com uma fotografia minha durante 24 horas. Espero que gostem desta "rica prenda"...

terça-feira, dezembro 12, 2006

Las Vegas

(Excalibur by night)

Não sendo um dos hotéis da moda, como o Bellagio, o Excalibur apresenta preços convidativos para a qualidade de serviço prestado. Quem vem a Las Vegas sem uma mentalização prévia apanha o choque da sua vida. A cidade é inebriante, louca, luminosa e alucinante. Os hotéis variam entre o imponente e o kitsch, o grandioso e o decadente, mas há uma magia no ar que torna a cidade, e as suas quase 200.000 camas para turistas, uma atracção irresistível para os viajantes mais cosmopolitas.
(Show de luz e som do Hotel Bellagio)

Longe vão os tempos em que o Flamingo, o Tropicana, o Riviera e o Frontier dominavam a paisagem de Las Vegas. Estes velhos hotéis, bonitos à sua maneira, aparecem agora diluídos na paisagem urbana, absorvidos pela megalomania do MGM Grand (um hotel com 5000 quartos!!!), Bellagio, New York, New York, Mandalay Bay ou Luxor.
(Las Vegas Boulevard)

Os vapores da cafeína do Starbucks em pleno Las Vegas Boulevard afectam-me, o Monte Carlo em frente causa-me inveja e a ostentação do Bellagio, com a boutique Armani no seu interior, recorda-me que não sou o José Mourinho e um sobretudo Armani, com 40 graus de temperatura lá fora, não vem nada a calhar.
(Um piano no Starbucks)