Na selecção dos 20 discos da minha vida há bandas e discos sobejamente conhecidos. White Light From the Mouth of Infinity dos Swans não é um deles. É, muito possivelmente, a escolha mais estranha. Os Swans são uma banda que resulta do génio criativo de um homem – Michael Gira – que durante 15 anos se empenhou em desenvolver um estilo único e inconfundível de fazer música. Valorizando radicalmente a independência criativa, musical e editorial, criou a sua própria editora – a Young God Records – que se dedica à descoberta de novos talentos. Fazem parte da Young God nomes como Lisa Germano, Devendra Banhart, Akron/Family, entre outros.
Musicalmente, os Swans começaram por praticar o seu conceito muito próprio de música industrial, com vagas semelhanças com os Einstürzende Neubauten e Throbbing Gristle. A primeira fase da sua carreira (1983-1987) é caracterizada pela violência, de palavras e sons, o que torna os discos praticamente inaudíveis e peças de colecção para os fãs mais empenhados.
Em 1988 inicia-se a fase mais criativa em termos líricos e melódicos, a que não será alheio o contributo da voz bela e maldita de Jarboe. São desta fase os discos The Burning World (1989), White Light From the Mouth of Infinity (1991), Love of Life (1992) e o fabuloso álbum ao vivo Omniscience (1992). The Great Anihilator (1994) é o disco de transição para uma fase de exploração da música ambiental (e transcendental) no período 1995-1997. Este último período tem como expoente máximo um dos discos mais estranhos (e estranhamente belo) que compõe a minha colecção – Soundtracks For the Blind (1995). A carreira dos Swans termina em grande com Swans Are Dead (1997), um duplo cd ao vivo que resume os concertos dados ao longo da última digressão da banda.
A escolha de White Light From the Mouth of Infinity para esta selecção de discos que marcam a minha vida explica-se facilmente. Um amigo meu, completamente vidrado na sonoridade da banda, mostrou-me este disco. Comecei a ouvir e... nunca mais parei. A voz de Gira é grave, profunda, e assemelha-se a um trovão. As letras manifestam revolta, arrogância, egoísmo, desolação, isolamento e morte. A música alterna a melodia suave e recortada com momentos de descarga sonora, com bateria muito marcada, mas paradoxalmente melódicos. Salvaguardadas as devidas distâncias, dir-se-ia que os Swans desenvolvem neste disco o conceito musical que os Pink Floyd exploraram em Shine On You Crazy Diamond, com a vantagem adicional de Gira escrever letras muito superiores às da banda de rock sinfónico.
Não é fácil destacar um tema deste disco. O álbum vale fundamentalmente pelo seu conjunto, pela forma como os temas estão encadeados e pela utilização de um vasto leque de instrumentos que contribui para uma textura musicalmente densa. Os temas mais marcantes serão, porventura, Love Will Save You, Miracle of Love, e Song For the Sun. O poema de Failure é o mais notável do disco e um dos mais impressionantes da longa carreira de Michael Gira.
Godspeed You Black Emperor, Mogwai e outras bandas do género pós-rock não descobriram a pólvora. São, em larga medida, influenciados pelos Swans na sua fase experimental, particularmente no que diz respeito ao uso de sons pré-gravados/pré-programados, samplers e drones. Quanto a Michael Gira, continua no activo com o seu projecto Angels of Light. Como muitos músicos que atingem a maturidade (cf. Nick Cave), Gira é hoje um homem muito mais calmo. A música é mais melódica do que nunca e, uma vez por outra, vislumbram-se canções de amor genuínas, como é o caso de Untitled Love Song incluída no seu How I Loved You (2002).
Will We Survive (Michael Gira):
I'll drink the moonlight from your hands
I'll swim an ocean filled with sorrow
No lover please don't go
We can crucify tomorrow
Let the sunlight feed the air
Let it fill our lungs with lies
We'll be memorized by shadows
But our loneliness will survive
Now the sugar in your soft voice
Makes the sweetness in your weeping
And the black rose that you swallowed
Feeds the solitude you're dreaming
No I'll never taste your tears again
In the darkness that we're breathing in
Now the sun will kill the garden
In a universe that is bleeding.
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