segunda-feira, março 06, 2006

Música à Terça VII


Já muito foi escrito sobre os Godspeed You Black Emperor!, mas nada substitui a audição integral de Lift Your Skinny Fists Like Antennas to Heaven (2000). Considerados praticantes de música para o novo milénio, os GYBE! têm sido enquadrados no género pós-rock, mas tal limita mais do que facilita a divulgação. A capacidade dos Godspeed You Black Emperor! para nos surpreender é quase infinita. As influências são muitas: dos Sonic Youth aos Swans, de Michael Nyman a John Cage.

O tema que se pode escutar ali ao lado são os seis minutos absolutamente memoráveis que abrem o primeiro disco deste duplo cd. Foi construído segundo uma estrutura semelhante ao Bolero de Maurice Ravel, embora eu duvide que seja isso que os GYBE! tivessem em mente. Começa com uma guitarra eléctrica gentilmente dedilhada e termina numa apoteótica sinfonia de dezenas de instrumentos a repetirem a melodia inicial. Uma marcha quasi-wagneriana, uma verdadeira orquestra rock que inclui guitarras eléctricas, baixo, 2 sets de bateria, violino, violoncelo e uma secção de metais.

Esta não é uma obra para espíritos fracos. Os GYBE! demonstram ao longo de 90 minutos a razão pela qual são um dos maiores fenómenos de culto mundial do género. Dois cds e quatro longas faixas (Storm, Static, Sleep e Antennas to Heaven) de mais de 20 minutos cada uma e com temas muito diversos, todos instrumentais, que transmitem a opressão, alienação e stress presente nos tempos modernos. Uma sinfonia urbano-depressiva, banda sonora desse longo filme a preto e branco que são as nossas vidas.

10 comentários:

∫nês disse...

Não lhe reconheci o traço "Bolero de Ravel". Falta-lhe a intensidade do "crescendo" contidíssimo. Contudo, concordo com as parecenças musicais que mencionaste e mais adiono algo de Múm, Mogwai e Sigur Rós :)
Com tanta música e quadros com que colores os dias dos teus leitores, acho a frase "filme a preto e branco que são as nossas vidas" um pouco desajustada.

M.M. disse...

Estas iniciativa é excelente por isto mesmo: não conhecia e fiquei fã. Gostei imenso deste tema, vou tentar saber mais sobre eles. Fazer uma pesquisazita. talvez uns downloadzitos too...

Jazz Manel disse...

Só conhecia de nome, este tema que puseste é giro!...muito bucólico.

Camarelli disse...

muito bom mesmo, grande surpresa! desconhecia por completo :)

AEnima disse...

Sou honesta... até em ballet já dancei o bolero de ravel (já enjoando a música de tanto a ouvir nos ensaios) e por muito que tenha ouvido e ainda ouço este album, nunca me apercebi das semelhanças, a não ser o facto de se começar com um instrumento em pianissimo e se terminar com a orquestra toda a forte, mas estes fazem nuns minutos o que Ravel demora uma partitura inteira para mostrar mas isso já a inês tinha dito. Mas viva GYBE e pena ter estado tão mau tempo e o programa do fantas ter tantos filmes repetidos, e os que não eram tinham umas brochuras tão pouco "apetitosas" que nem apeteceu ir este ano.

Fernando disse...

Inês:
Repara que eu disse "influências" e não "parecenças". Concordo que são parecidos com aqueles que mencionas, dos quais prefiro os Sigur Ròs mais do que os outros.

Quanto à frase "filme a preto e branco que são as nossas vidas" provavelmente ajusta-se melhor à música dos GYBE! do que ao blogue, mas devo dizer-te que o colorido dos quadros e da música nem sempre corresponde ao meu estado de espírito. Por outras palavras, nem sempre o blogue transmite aquilo que me vai na alma.

Inês e Elsa:

Já percebi que não concordam com a semelhança destes seis minutos com o Bolero, mas o crescendo (contido, é certo) e a forma como os instrumentos são introduzidos, repetindo o mesmo tema até ao final levaram-me à associação.
É evidente que o duplo cd tem muito mais do que isto.

M.M. e Matarbustos:
Sempre a divulgar música para o vosso prazer!

Jazz Manel:
Bucólico?! Quem te ouvir até pensa que há semelhanças entre isto e a sexta sinfonia de Beethoven...

merdinhas disse...

Sei de um disco preto com caracteres japoneses na capa...este não conhecia mas, no link que tens aí estive a ouvir.
Lembra -me bastante M. Nyman.

∫nês disse...

Fernando: Espero que os estados de alma sejam maioritariamentes coloridos, mas não sem fases de preto e branco. Também fazem falta, para que saibamos sempre dar valor 'as cores.
Porque nestas lides da blogosfera se criam empatias, agradeço o comentário no Casaco com um sorriso de ánimo :)

Jazz Manel disse...

Eh pá para mim isto é bucólicoooooooooooooooooooooooo...Tenho dito!...

Johan disse...

I just saw the Michael Nyman will play the piano in Famalicao soon:

“The Piano Sings”
MICHAEL NYMAN SOLO PIANO (GB)
31 MARÇO | sexta | 21.30 |
grande auditório / Casa das Artes
Entrada: 15 euros
www.michaelnyman.com