domingo, julho 27, 2008

1980. Closer - Joy Division

Sobre Closer (1980), Miguel Esteves Cardoso escreveu:

"Closer é limpidamente belo - tem a transparência silenciosa da solidão, sem nunca se transformar em auto-compaixão ou sentimentalismo. É o momento em que nos damos fé duma tristeza insolúvel, e da futilidade de a combater. Não há revolta - apenas um lento despertar, corajosamente assumido e aceitado. O encanto principal dos Joy Division não é o virtuosismo, ou sequer a criatividade da música - é, sobretudo, uma inesquecível sinceridade, despida de efeitos especiais, que se transmite, dir-se-ia por osmose sensível, a quem a ela se expõe." (publicado originalmente em O Jornal, 11 de Novembro de 1980)

Dois anos depois, o mesmo Miguel afirmava:

"E quem for até Closer logo verá estar parado num extremo, numa colina diante outra inalcançável imensidão. É o cabo da Roca do pequeno continente Pop."
(publicado originalmente em O Jornal, 8 de Abril de 1982)

O suicídio de Ian Curtis, 2 meses antes do lançamento póstumo de Closer, bastaria para eternizar o segundo e último disco de originais da banda, mas o conteúdo marcaria uma geração de músicos, tal como The Velvet Underground & Nico (o famoso álbum da "banana") havia feito nos anos 60. The Cure, Echo & The Bunnymen, Cocteau Twins, Dead Can Dance, The Pixies, e muitos, muitos outros têm uma dívida de gratidão e prestam homenagem aos Joy Division.

É difícil descrever por palavras algo que só pode ser sentido ouvindo a banda. A inacreditável batida hipnótica de Heart and Soul é um prenúncio da Madchester, do Ecstasy e do Apocalipse. The Eternal é o mais próximo que uma banda rock alguma vez esteve de compor uma marcha funébre. Passover é um passaporte (ou uma lente de aumento) para a depressão:

This is the crisis I knew had to come,
Destroying the balance I'd kept.

Doubting, unsettling and turning around,

Wondering what will come next.

Is this the role that you wanted to live?

I was foolish to ask for so much.

Without the protection and infancy's guard,

It all falls apart at first touch.


A última faixa - Decades - pega no David Bowie de Low (1977) e anuncia a mudança. É o prelúdio da sonoridade que os New Order tão bem iriam explorar durante os anos 80 e um débil assomo de luminosidade num disco mergulhado na escuridão.

  1. Atrocity Exhibition – 6:06
  2. Isolation – 2:53
  3. Passover – 4:46
  4. Colony – 3:55
  5. A Means to an End – 4:07
  6. Heart and Soul – 5:51
  7. Twenty Four Hours – 4:26
  8. The Eternal – 6:07
  9. Decades – 6:10




Projecto 200 anos de música. A ideia é simples. Ao longo de duzentas entradas, o Piano na Floresta vai listar duzentas obras musicais, uma por cada ano, iniciando a contagem decrescente a partir do ano 2000. Se tudo correr conforme planeado, será possível identificar um disco ou uma obra composta em cada um dos anos no intervalo entre o ano 1800 e o ano 2000. Não há limitações de género musical. A qualidade e a reputação da obra não constituem critério de escolha, embora se entenda que ela é, de algum modo, representativa do ano em questão.

5 comentários:

Nuno Gonçalo Poças disse...

Fenomenal! Curioso ter visto o comment ao meu post enquanto ouço o Unknown Pleasures...

Anónimo disse...

E já agora: este ano há grandes planos de viagem para Agosto? =o)

Fernando disse...

Nuno: A escolha entre o U.P. e o Closer foi difícil, mas o ano de 1979 tinha mais candidatos fortes do que o ano de 1980.

Pec: Há 2 viagens já marcadas e pagas. As revelações dos destinos estão para próximo!

Anónimo disse...

Oh não... a inveja anual está prestes a começar. ;)

Valéria Pires dos Santos disse...

Oi Fernando,
Parabéns pelo blog, muita magia e sensibilidade!
peguei emprestado o comentário sobre Closer para postá-lo no meu blog.
Se fizer objeção, me avise!

Abraços.