quarta-feira, dezembro 24, 2008

1959. Kind of Blue - Miles Davis

"Não aprecio jazz..." Se os leitores se identificam com a afirmação, talvez devam considerar ouvir esta obra-prima de Miles Davis. Responsável por sucessivas reinvenções no âmbito da música jazz, Miles Davis já era um músico consagrado quando gravou e editou Kind of Blue (1959). O sexteto que gravou o disco é a combinação perfeita de músicos de jazz: Miles Davis (trompete), John Coltrane (saxofone tenor), "Cannonball" Adderley (saxofone alto), Bill Evans (piano), Paul Chambers (baixo) e Jimmy Cobb (bateria).

O álbum enquadra-se no jazz modal e foi um dos primeiros a romper com o estilo bebop, dominado pelo objectivo dos músicos tocarem o mais rápido possível sobre os acordes de cada tema, improvisando harmonias cada vez mais complexas. Ora, no jazz modal de Kind of Blue, a melodia predomina, a música é muito mais esparsa e o som muito menos preenchido do que acontece no jazz típico dos anos 40 e 50, sobretudo com Charlie Parker e Dizzy Gillespie.

Por essa razão, em termos emocionais, o jazz de Kind of Blue é mais relaxante e menos "stressante", permitindo ao ouvinte desligar-se dos problemas do seu dia-a-dia e mergulhar nesta massagem auditiva. Kind of Blue promove a nostalgia, aguça as emoções e seduz os sentidos, mas está muito longe de ser um disco deprimente. Pelo contrário, ouvido em boa companhia, Kind of Blue é um disco romântico, sensual e fisicamente estimulante. Quase apetece dizer que, se por altura do último tema, Flamenco Sketches, ainda não vos apeteceu tirar a roupa ao(à) parceiro(a), há qualquer coisa de errado na vossa relação! Se quiserem fazer a experiência, aqui ficam links para o download (quase) integral do álbum. Bom proveito!

So What (mp3)
Blue in Green (mp3)
All Blues (mp3)
Flamenco Sketches (mp3)

Se estiverem interessados em compreender o contexto em que surge Kind of Blue, podem escutar um excerto de 4 minutos do documentário Ken Burns Jazz em que o disco é analisado.

Projecto 200 anos de música. A ideia é simples. Ao longo de duzentas entradas, o Piano na Floresta vai listar duzentas obras musicais, uma por cada ano, iniciando a contagem decrescente a partir do ano 2000. Se tudo correr conforme planeado, será possível identificar um disco ou uma obra composta em cada um dos anos no intervalo entre o ano 1800 e o ano 2000. Não há limitações de género musical. A qualidade e a reputação da obra não constituem critério de escolha, embora se entenda que ela é, de algum modo, representativa do ano em questão.

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