Os Beatles nunca foram uma das minhas bandas favoritas, mas devo reconhecer o seu mérito em atingir diferentes audiências ao longo dos anos, acabando por se tornar no mais famoso agrupamento musical da história. É também importante distinguir os Beatles dos primeiros álbuns, mais comerciais, mais melosos e mais pop, dos Beatles após Rubber Soul, muito mais profundos em termos poéticos e musicais.
Em 1965, longe vão já os tempos de "Love, love me do/You know I love you". Tal não significa que os Beatles se tenham tornado cínicos, o que provavelmente nunca seriam capazes, mas Rubber Soul já não é apenas música pop despreocupada sobre amores correspondidos na adolescência. O tom mudou. O disco é marcado pelas influências da música folk, dos poemas de Bob Dylan e da música do oriente.
Em termos poéticos, o tratamento do amor surge de forma mais pessimista, com relatos ambíguos sobre relações tumultuosas, amores extra-conjugais e vinganças passionais. Embora Norwegian Wood (This Bird Has Flown) constitua o exemplo mais visível das mudanças nas composições da dupla Lennon/McCartney, as canções I'm Looking Through You, Girl e Wait relatam igualmente outro tipo de tensões emocionais presentes numa relação, como sejam as mudanças numa relação produzidas pela passagem do tempo, o desprezo pelo cônjuge em situações sociais ou a distância emocional associada às ausências físicas. A escrita é mais madura e os temas são mais sérios do que era habitual na carreira dos Beatles até então.
Musicalmente, a gama de instrumentos musicais é alargada com a introdução da cítara (Norwegian Wood) e do cravo (In My Life), o que contribui para algum exotismo que sempre valorizo na música pop. Ainda não são as experiências grandiosas, induzidas pelos alucinogéneos, de Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band (1967), mas há definitivamente um progresso que permite vislumbrar uma maturidade em termos de composição e criatividade musical.
Norwegian Wood (mp3)
Nowhere Man (mp3)
Michelle (mp3)
In My Life (mp3)
Projecto 200 anos de música. A ideia é simples. Ao longo de duzentas entradas, o Piano na Floresta vai listar duzentas obras musicais, uma por cada ano, iniciando a contagem decrescente a partir do ano 2000. Se tudo correr conforme planeado, será possível identificar um disco ou uma obra composta em cada um dos anos no intervalo entre o ano 1800 e o ano 2000. Não há limitações de género musical. A qualidade e a reputação da obra não constituem critério de escolha, embora se entenda que ela é, de algum modo, representativa do ano em questão.
1 comentário:
Das influências do Rubber Soul que citas, gosto do Bob Dylan ;)
Os Beatles são sempre os fab four... but not for me... São clarinhos demais, eu prefiro os mais enfarruscados, como o Jim Morrisson ou o Nick Cave!
Continua a valer a pena espreitar por aqui.
Obrigada e beijo*
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